Hospital de Santa Maria afirma que cumpriu todos os procedimentos
O hospital de Santa Maria afirmou hoje que cumpriu "os procedimentos internos e externos" no que se refere ao processo de libertação do corpo de uma das vítimas de legionella.
"No que se refere ao processo de libertação do corpo da pessoa falecida no Centro Hospitalar de Lisboa Norte (CHLN), o hospital informa que cumpriu os procedimentos internos e externos previstos para a situação em causa", indicou à agência Lusa uma fonte oficial do Centro Hospitalar.
A mesma fonte acrescentou que o conselho de administração do CHLN apresenta às famílias das vítimas "as suas condolências, lamentando profundamente o sucedido".
Os corpos das duas vítimas mortais do surto de legionella foram ontem recolhidos pela PSP quando decorriam os velórios. Uma situação que indignou os familiares e que já levou o Ministro da Saúde e o Ministério Público a lamentar a perturbação provocada.
Esta manhã, a filha de Maria da Graça Ribeiro, que se encontra frente ao Instituto de Medicina Legal desde as 7:00, disse ao DN ter recebido uma chamada da diretora do Departamento de Investigação e Ação Penal (DIAP), Fernanda Pego, em que esta lhe pediu desculpa pelo sucedido e justificou a medida.
Segundo a filha da vítima, a responsável ter-lhe-á explicado que o Hospital de Santa Maria, onde Maria da Graça Ribeiro morreu na segunda-feira, não comunicou à Direção-Geral de Saúde que a vítima tinha perdido a vida devido ao surto de legionella e que era necessário ter as causas da morte certificadas para um eventual processo.
A família está revoltada com toda a situação, à qual se vêm juntar custos adicionais das cerimónias fúnebres consequência da recolha do corpo do velório.
"Quando é que o ministério nos vai dar o corpo da minha avó? O nosso luto foi invadido. Estávamos na nossa dor, a despedir-nos. Queremos ter o nosso tempo de luto", disse ontem à noite ao DN Joana Araújo, neta da vítima. "Não contesto as ordens que têm, mas é desumano. Queriam levar o corpo num saco como se fosse lixo", acrescentou.
O ministro da Saúde lamentou hoje o "incómodo e perturbação" causado às famílias das vítimas. Adalberto Campos Fernandes lembrou contudo que "é fundamental que o Ministério Público cumpra o seu trabalho e compreenda o que falhou ou correu mal" no surto de 'legionella' no hospital São Francisco Xavier, em Lisboa.
Num comunicado emitido ontem à noite, o Ministério Público explicou que não recebeu "qualquer declaração de óbito" das duas vítimas mortais do surto de legionela, explicando que, por isso, teve de solicitar as autópsias, que "são essenciais" para a investigação.
"Consciente da sensibilidade da situação, o Ministério Público não pode deixar de lamentar o ocorrido bem como o sofrimento que daí resultou para os familiares das vítimas", conclui o MP nessa mesma nota, em que diz ter decidido, esta terça-feira e por iniciativa própria, instaurar um inquérito respeitante ao surto de legionela.
"Tendo sido noticiadas mortes, entendeu-se, desde logo, que a realização de autópsia e de perícias médico-legais eram essenciais para a investigação em curso", refere a Procuradoria-Geral da República.
O Ministério Público explica que, não tendo recebido "qualquer comunicação de óbito relacionada com esta matéria", teve necessidade de recolher elementos que "permitissem identificar as vítimas, bem como as circunstâncias que rodearam as mortes, designadamente o local onde ocorreram".
"Uma vez obtidos esses elementos, o Ministério Público foi, igualmente, informado de que os corpos já haviam sido entregues às famílias", explica a nota. Assim, o Ministério Público decidiu ordenar o encaminhamento dos corpos para o Instituto de Medicina Legal.
O número de casos confirmados de legionella subiu para 38, segundo o mais recente balanço da Direção-Geral de Saúde, das 11:00 de hoje.
Os corpos das duas vítimas mortais do surto de legionella em Lisboa serão devolvidos às famílias nas próximas horas.