Julho. O mês dos cursos de verão nas universidades portuguesas
O verão é sinónimo de atividades nos vários campus das universidades portuguesas. De norte a sul do país, seguem-se alguns dos cursos disponíveis em diferentes áreas de estudo e especialização. É também a hipótese de cidadãos estrangeiros aprenderem português.
Durante o verão, muitas são as ofertas curriculares para os jovens que querem aproveitar as férias para aprender nas universidades portuguesas. Desde as ciências às artes, humanidades, desporto e tecnologias, existem cursos para todas as idades e gostos, de norte a sul do país.
Após dois anos letivos marcados pelo ensino online, muitos dos cursos de verão voltam este ano a retomar o ensino presencial, oferecendo a oportunidade aos estudantes do Ensino Secundário de terem o seu primeiro contacto com o ambiente universitário - um fator que pode ser decisivo na escolha de uma área de estudo ou percurso profissional.
Na Universidade de Lisboa (UL), o verão faz-se de atividades para cerca de mil alunos do 8.º ano até ao 12.º ano. Depois de dois anos de interregno devido à pandemia, este ano o Verão na ULisboa regressa em força para duas semanas nas principais faculdades da capital.
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Luís Manuel dos Anjos Ferreira, reitor da UL, conta ao DN que as atividades de verão são uma prática que já vêm desde há muitos anos. "A ideia sempre foi dar a conhecer aos estudantes do Ensino Secundário o que é uma universidade. E acima de tudo, dar-lhes a oportunidade de ir para laboratórios, pegar nos equipamentos e estarem com outros alunos que já estão avançados nos cursos e que lhes podem explicar, numa perspetiva diferente, como tudo funciona", explica.
Ainda que a iniciativa não seja algo novo para a UL, o responsável explica que as atividades são diferentes todos os anos porque variam os professores. Aliás, novos alunos monitores aderem ao projeto em cada edição. Para o reitor, o objetivo deste projeto é apenas um: ajudar os mais indecisos a escolher um percurso profissional. "Ao frequentar as faculdades, os alunos ficam com uma ideia aproximada do que podem vir a escolher no futuro, e isso é o mais importante", frisa.
"Temos alunos que frequentam esta iniciativa várias vezes e experimentam escolas diferentes todos os anos, até decidirem o seu caminho", acrescenta.
Já a Universidade de Coimbra (UC) promove a Universidade de Verão, um projeto que dá oportunidade aos estudantes de conhecerem de perto a vida académica de Coimbra, com atividades culturais e desportivas e tradições académicas entre os dias 24 e 29 de julho.
Vinte e três áreas do saber, 12 workshops, um congresso júnior e voluntariado são algumas das tarefas programadas, além de se poder estabelecer contacto com a área profissional escolhida por cada participante, através de alunos, professores e investigadores da universidade.
De forma semelhante, a Universidade do Algarve (UAlg) realiza uma nova edição dos seus cursos de verão, com duas semanas de experiências novas no Campus da Penha, no centro da cidade de Faro. Artes, Design, Ciências, Comunicação, Desporto, Economia, Saúde e Engenharias são algumas das áreas disponíveis para jovens a partir do 9.º ano de escolaridade, em três modalidades: curso, dia completo e regime residencial.
Também o Instituto Politécnico de Leiria (IPLeiria) prevê uma Academia de Verão, durante esta semana. Destinada a todos os estudantes do Ensino Secundário (a partir do 10.º ano), esta iniciativa terá lugar na Escola Superior de Tecnologia e Gestão (ESTG), onde serão realizados workshops, miniprojetos e visitas de estudo em várias áreas à escolha dos participantes.
Por sua vez, a Universidade de Évora promove duas iniciativas - UÉvora Summer School e UÉvora Summer School Junior - que dão a oportunidade aos participantes de conhecerem todo o campus da universidade. Em Évora, este projeto é o mais abrangente, uma vez que inclui todo o tipo de estudantes: universitários (nacionais e internacionais), alunos do Ensino Secundário, profissionais em várias áreas, investigadores e público em geral.
"Esta iniciativa, que já vai na sua quarta edição, tem como objetivo abrir as portas da universidade a jovens, para que possam conhecer o que é o ambiente universitário e aumentar o seu conhecimento em áreas específicas durante as férias de verão", diz Hermínia Vilar.
De acordo com a reitora da Universidade de Évora, além do ensino, a universidade promove o convívio entre os cerca de 200 jovens "num perfil leve e menos formal, mas não menos científico e menos seguro nos conhecimentos que transmite".
Hermínia Vilar acredita que "abrir a universidade a outros públicos, como grupos de estudantes nacionais, internacionais e até a profissionais de diferentes áreas, é uma necessidade".
"A universidade não é apenas uma instituição que tem de conferir cursos com grau, mas também oferecer estas iniciativas, que permitem a estes grupos externos conviver com a investigação que se faz na universidade", relembra.
Atividades em laboratório, projetos com animais, ateliês de artes e desporto, é o que se pode esperar da programação da Summer School Junior (dirigida aos alunos do Secundário), acompanhada por professores e investigadores da instituição. Quanto à Summer School, para um público mais avançado, a oferta é mais diversificada focando-se, por exemplo, na área da Saúde e na história da escrita (paleografia).
Hermínia Vilar acredita que os cursos de verão de curta duração, na sua generalidade, devem continuar a ser uma aposta no ensino em Portugal, visto que apresentam "todas as vantagens para os alunos que ainda estão em processo de formação, permitindo contactar com o que é a investigação e ponderar o que serão as suas opções no futuro".
Cursos de línguas no verão
Na Faculdade de Letras da Universidade da Universidade de Lisboa (FLUL), os cursos intensivos de línguas no verão são uma tradição. Para além do anual Verão na ULisboa, o Centro de Línguas da faculdade oferece uma vasta variedade de cursos de língua estrangeira para os curiosos que pretendem aprender uma nova língua num curto espaço de tempo.
Entre julho e setembro, estão disponíveis cursos de línguas de 60 horas em inglês, espanhol, italiano, alemão, árabe, francês, japonês, ucraniano, russo e coreano. Além disso, existe também a possibilidade de escolher entre cursos específicos de 30 horas ou cursos dedicados a crianças e jovens.
Alexandra Assis Rosa, subdiretora da FLUL, explica que "os cursos intensivos de verão são a solução ideal para quem quer aprender mais do que o nível básico" de qualquer língua.
Segundo a professora, os cursos de verão têm muita adesão e não são exclusivos apenas aos alunos da faculdade, ou seja: todos podem participar. Aliás, os cursos de verão são benéficos não só para conhecer novas pessoas, como também para praticar uma nova língua numa aprendizagem mais rápida, mas com o mesmo rigor e qualidade.
O Instituto de Cultura e Língua Portuguesa (ICLP) da Faculdade de Letras oferece ainda um curso de verão de Português Língua Estrangeira, que é organizado anualmente desde 1934. Este curso já vai na sua 87.ª edição e tem uma duração de 4 semanas com um total de 80 horas, para todos os maiores de 17 anos.
Segundo adianta, os alunos deste curso "são todos de nacionalidades muito diversificadas" e atualmente "existe uma grande procura por parte de alunas ucranianas que estão a tratar da sua candidatura de frequência de licenciaturas, mestrados ou doutoramentos em Portugal." Nos últimos anos, mais de 30 000 estudantes de todo o mundo frequentaram a formação.
Tendo em conta os estudantes internacionais que procuram adaptar-se ao país, aprendendo a cultura e a língua portuguesa, Alexandra admite que "é muito importante que os alunos tenham a oportunidade de, querendo, frequentar sequencialmente estes cursos em julho, agosto e setembro de forma a, no final de setembro, já poderem frequentar as aulas em português".
Aprender português de língua não-materna
Durante as férias de verão há ainda espaço para os cidadãos estrangeiros aprenderem a língua portuguesa. Para tal, o Instituto Camões em parceria com seis instituições de ensino superior - Universidade de Aveiro, Universidade de Coimbra, Universidade de Lisboa, Universidade do Minho, Universidade Nova de Lisboa e Universidade do Porto - prevê um Curso de Verão de Língua e Cultura Portuguesas. E, pela terceira vez, este curso que vai decorrer até ao final do mês de julho, durará quatro semanas em regime online.
Tendo em conta as necessidades do ensino da língua portuguesa, o Instituto Camões explica ao DN que "estes cursos de verão são uma referência na oferta, por instituições de ensino superior portuguesas, de formação em Português Língua Estrangeira (PLE), através de um conceito que assenta numa forte interação entre os vetores língua e cultura".
Assim, este curso de verão surgiu "por força das limitações à mobilidade impostas pela pandemia", que o Camões tentou contornar promovendo "a criação de uma oferta conjunta online, em consórcio com 6 universidades portuguesas". Logo, "cada uma das universidades participantes é responsável pela conceção e realização de um dos níveis oferecidos [A1, A2, B1, B2, C1 e C2], o qual compreenderá uma vertente de língua, disponibilizada na sua própria plataforma, e uma vertente de cultura, disponibilizada no portal do Camões, I.P., onde os formandos encontrarão um conjunto de formações modulares sobre temáticas no âmbito da cultura portuguesa".
Segundo o instituto, este curso promove ainda uma certificação inédita, que une as seis universidades num só curso: "O certificado de frequência e aproveitamento que os estudantes receberão no final será emitido pela instituição na qual o aluno conclui o seu nível, mas ostentará o logótipo de todas as instituições que integram o consórcio, sendo, por tal, uma certificação conjunta e reconhecida por todas elas."
Em termos de impacto, este projeto será útil para todos os estudantes de países com dificuldades em viajar até Portugal, "quer por constrangimentos financeiros ou administrativos". Logo, com uma versão de ensino à distância, "estudantes de dezenas de países, como as Filipinas, o Paquistão, o Sudão, o Burquina Faso ou a Costa Rica, podem marcar presença pela primeira vez" numa formação de ensino português.
ines.dias@dn.pt