Já há acordo na vacinação juvenil. Mas não há na utilidade dos testes
Está resolvida a controvérsia sobre a vacinação na faixa etária 12-15 anos. Em conferência de imprensa, a diretora-geral da Saúde, Graça Freitas, anunciou que "a DGS recomenda a vacinação de todos os adolescentes dos 12 aos 15 anos de idade", sem necessidade de indicação médica.
Com esta diretiva, a vacinação deste grupo deixa de ficar circunscrita a situações específicas, como os casos em que os jovens têm doenças de risco. A chefe da DGS explicou que a decisão surge depois de analisados "novos dados disponibilizados nos últimos dias", em concreto os impactos registados nos "mais de 15 milhões adolescentes vacinados nos Estados Unidos e na União Europeia" que revelaram ser "extremamente raros" os casos de miocardites e pericardites.
Portanto, tendo em conta os novos dados, a DGS decidiu então alargar a todos os jovens desta faixa etária a vacina contra a covid-19 que deverá começar a ser ministrada em breve. "Está aberto o caminho para a vacinação", disse Graça Freitas, sublinhando que não se pode criar a "expectativa de que é hoje que começa", estando dependente do plano de vacinação da task force que coordena este processo. Sobre a possibilidade de os mais novos - cerca de 400 mil - começarem a ser vacinados contra a covid-19 antes do arranque do ano letivo, Graça Freitas disse esperar que tal aconteça, mas caso arranque uns dias depois do início das aulas tal "não terá um impacto negativo importante" para a saúde.
Há muito que o governo defendia que devia ser este o caminho - para o início do ano letivo se fazer sem problemas pelo lado dos estudantes. Logo a seguir à conferência de imprensa de Graça Freiras, o primeiro-ministro veio a terreiro saudar a decisão da DGS. "Congratulo-me que a ciência tenha confirmado ser possível cumprir o nosso dever de garantir proteção universal a todas as crianças maiores de 12 anos", escreveu António Costa numa mensagem publicada na sua conta oficial na rede social Twitter.
Segundo garantiu, "tudo está a postos para garantir a administração de duas doses de vacinas até ao início do ano letivo". "As vacinas foram compradas, a logística aprontada e o calendário definido: os jovens entre 12 e 17 anos podem ter vacinação completa até 19 de setembro."
A decisão da DGS pareceu assim vir ao encontro das pressões que o governo há muito fazia. Contudo, a diretora-geral enquadrou-a em "novos dados". Admitiu, porém, que a DGS não esteve "nem surda nem cega" às diversas opiniões que se foram manifestando. "Obviamente, não estivemos surdos nem cegos a tudo o que foi sendo dito, mas a decisão foi baseada num parecer da Comissão Técnica de Vacinação sobre o qual a Direção-Geral da Saúde não tem a mínima intervenção", salientou Graça Freitas.
"Nós temos de estar certos à data, com o que sabemos, com os dados que temos, que os benefícios superam os riscos e que esses riscos são conhecidos, são controlados, são mínimos, têm um carácter e uma evolução benigna e são extremamente raros e, há dez dias, faltava-nos alguma informação, nomeadamente gerada na União Europeia", afirmou. E quanto às "variadíssimas opiniões" que têm acontecido sobre a pandemia, afirmou que a diversidade "é um bem em si": "Estamos numa democracia. As pessoas que têm informação privilegiada ou que têm a sua opinião podem e devem dá-la."
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Há consenso agora nesta questão - mas ainda não há na utilidade dos testes para efeitos de calibragem do processo de vacinação - nomeadamente para decidir o problema, não resolvido ainda, da terceira dose de vacina. Aqui a DGS parece estar de um lado e o governo do outro, mais uma vez.
No sábado, o governo - através de um comunicado do Ministério do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social - anunciou que iria promover um estudo serológico a 5 mil funcionários e utentes de lares de idosos (no Alentejo e no Algarve). Objetivo: aumentar o conhecimento científico atual sobre a duração dos efeitos da vacina na população idosa. "Os resultados do estudo serão partilhados com as autoridades de saúde e poderão contribuir para decisões futuras sobre esta matéria", lia-se no comunicado. Nas entrelinhas ficava claro: as "decisões futuras" são sobre a terceira dose.
Isto foi no sábado. Ontem, na conferência de imprensa, o imunologista Luís Graça, membro da membro da Comissão Técnica de Vacinação, disse, basicamente, "não, obrigado": "A decisão sobre a necessidade de uma terceira dose terá de ser tomada com base em dados da proteção que as vacinas continuam a manter contra a doença que é causada por esta infeção e não por dados serológicos."
"Os testes serológicos não estão recomendados em Portugal nem nos outros países para ser base para a tomada de decisões sobre o estado de proteção conferido pelas vacinas contra a covid-19", disse o especialista, lembrando que os ensaios clínicos que foram a base da autorização da utilização das vacinas não se basearam em serologia, mas sim na eficácia das vacinas em prevenir infeções e prevenir a doença causada por essa infeção em pessoas vacinadas. O que importa é ir sempre medindo se há ou não um aumento de infeções. E é isso que "deve condicionar medidas para reforçar a proteção de grupos populacionais onde esta efetividade possa estar a decair".