Portugal desperdiça um milhão de toneladas de alimentos por ano
Todos os anos, os portugueses deitam para o lixo um milhão de toneladas de alimentos, ou seja, cada um desperdiça em média 132 quilos de comida por ano. Só as famílias desperdiçam 324 mil toneladas. E 17% da comida é deitada fora ainda antes de chegar aos consumidores. Um desperdício que no conjunto da União Europeia chega aos 89 milhões de toneladas. Foi para reduzir a grandeza destes números que o Parlamento Europeu recomendou aos Estados membros um corte para metade no desperdício até ao fim do ano.
Em Portugal são vários os programas que têm por objetivo limitar as quantidades de comida no lixo. É o caso do Dose Certa, que já levou um restaurante no Porto a reduzir a quantidade de arroz e batatas no prato. Sem que os clientes estranhem as doses "mais saudáveis".
Até porque os cálculos da FAO (Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura) indicam que os países industrializados desperdiçam 1,3 mil milhões de toneladas de alimentos por ano. O que chegaria para alimentar os cerca de 925 milhões de pessoas que passam fome no mundo.
Por cá, 2016 foi declarado Ano Nacional do Combate ao Desperdício Alimentar. E, apesar de não sermos os europeus que mais comida deitam fora - na Holanda o desperdício por habitante/ano é de 541 quilos, seguido da Bélgica, com 345, e do Chipre, com 327, e Espanha desperdiça pouco mais do que nós (135 quilos) -, têm-se multiplicado as iniciativas para evitar deitar tanta comida fora.
Ajudar restaurantes a mudar
É o caso do Dose Certa, que junta a Associação Nacional de Nutricionistas (APN), a empresa Lipor e cerca de 30 restaurantes do Norte. Até agora, este projeto tem conseguido cortar no desperdício entre os 30% e os 35%. No Café Progresso, no Porto, onde de segunda a quinta-feira são servidas em média 50 refeições diárias, subindo para as 75, às sextas e sábados, o objetivo era reduzir em 40% os resíduos e só com a implementação do programa atingiram de imediato os 30%. De inevitável contam com um desperdício de "sete a dez quilos", mas antes havia muito comida que ficava nos pratos dos clientes e não se podia reutilizar. Em especial, os "acompanhamentos da categoria dos hidratos de carbono", como o arroz e as batatas, explica Alcina Fernandes, do Café Progresso. E os clientes que antes estavam habituados a "doses bem servidas" já não estranham as quantidades mais saudáveis.
Travar o desperdício alimentar é uma questão que tem impacto ambiental, económico e social. Daí que o programa Dose Certa comece por pedir "aos estabelecimentos que pesem os alimentos que desperdiçam, para que tomem consciência da realidade do custo", aponta Susana Freitas, da divisão de valorização orgânica da Lipor (Serviço Intermunicipalizado de Gestão de Resíduos do Grande Porto).
Ainda assim, como "a maior fatia do desperdício alimentar está nas famílias", é urgente "ensinar as pessoas a fazer uma correta seleção dos alimentos, leitura dos rótulos e aprenderem a olhar para o alimento como sendo passível de ser utilizado por inteiro", aponta Helena Real, secretária-geral da APN.
A declaração do ano nacional prevê ainda medidas como estipular uma percentagem de produtos locais a utilizar por parte das instituições públicas e criar "um programa de ação" que "fixe objetivos e metas para a redução". Bem como ensinar na escola a gestão dos alimentos tornando clara a diferença entre "consumir antes de" e "consumir de preferência até".