O comissário responsável pelas equipas do GOE (Grupo de Operações Especiais) que intercetaram, um trio de assaltantes a carrinhas de valores,multibancos e CTT depois de um roubo em Lisboa, na passada sexta-feira, 29 de dezembro, tendo morto um deles com um tiro na nuca, "está constituído arguido desde essa altura mas o anúncio de que o estava só foi feito esta quinta, dia 4 de janeiro, quase uma semana depois. Foi uma sacanice!", denuncia o intendente Jorge Resende, presidente do Sindicato Nacional de Oficiais da PSP (SNOP)..Recorde-se que quando o Mini branco roubado onde seguiam os três suspeitos foi intercetado em Queluz de Baixo, concelho de Oeiras, os assaltantes abalroaram o carro da polícia tendo ferido três agentes. Antes disso tinham assaltado uma carrinha de valores em Carnide, em Lisboa, com recurso a um revólver e agrediram umd os seguranças a soco e pontapé. Os três eram cadastrados por crimes violentos..Sem querer apontar o dedo à Polícia Judiciária, que está com a investigação do caso, nem ao Ministério Público, Jorge Resende acrescenta apenas que "houve alguém com interesse em partilhar com o público que o comissário estava arguido, como se numa semana tivesse havido recolha de dados novos que tivessem levado a isso"..Na realidade, a constituição de arguido do oficial, que é associado do SNOP, foi "quase automática, logo a seguir à confirmação de que um dos assaltantes tinha morrido com um tiro disparado por um elemento da polícia"..O comissário não foi quem disparou o tiro fatal no condutor do carro de fuga. "Até percebo que ao ter o estatuto de arguido esteja mais protegido. Mas é minha convicção de que foi uma precipitação. Era desnecessário. E estou convencido que não vai haver acusação de ninguém da polícia.".."Como dar um tiro nas pernas?".Os assaltos a carrinhas de valores e multibancos são considerados de investigação prioritária e a atuação dos elementos da PSP na perseguição e detenção daquele trio de assaltantes foi até elogiada pelo ministro da Administração Interna há uma semana. "Houve uma operação da PSP que foi bem-sucedida, na medida em que permitiu intercetar um conjunto de elementos, no âmbito daquilo que são medidas de prevenção e repressão aos fenómenos ligados à violência junto dos ATM e veículos de transportes de valores", declarou Eduardo Cabrita.."Diz-se que estes assaltantes não ameaçaram os polícias que os perseguiam, apesar de estarem armados, nem puseram ninguém em perigo. Mas quem diz? Quanto ao tiro na nuca gostava que me explicassem como é que se dá um tiro nas pernas de um condutor de um carro em fuga", critica o presidente do SNOP..O inquérito do Ministério Público às circunstâncias que levaram à morte do assaltante numa perseguição policial é obrigatório nestes casos, tendo o MP delegado na PJ a investigação. O mesmo com o inquérito da Inspeção Geral da Administração Interna (IGAI). "A morte de qualquer cidadão pelas forças policiais tem sempre de ser investigada. Mas não decorre do inquérito da IGAI um processo disciplinar ao oficial. Neste caso, ainda foi aberto", esclarece Jorge Resende..Como arguido, o oficial do GOE tem o direito de ser informado dos factos que lhe são imputados antes de prestar declarações e ainda de não responder a perguntas feitas sobre esses factos. Se decidir prestar declarações, tem o direito de não ser questionado sobre o conteúdo das mesmas. Paulo Rodrigues, presidente da ASPP/PSP, considera "normal" a constituição de arguido do comissário. "Fizeram-no para que ele possa explicar como tudo correu, quem fez o disparo e porque o fez. Agora, não se imobiliza um condutor de um carro em fuga com um tiro no ombro, isso é um facto".