Nesta escola mais de 30 entram em Medicina, mas há alunos de topo em todas as áreas

"Para uma cidade do interior, é um orgulho imenso", diz o diretor Adelino Pinto. Com o final do ano letivo a aproximar-se, o DN está a publicar reportagens sobre algumas das escolas de referência do país
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Nos corredores, o movimento não para. Conversas cruzadas, brincadeiras. A animação típica dos adolescentes não é interrompida por nenhuma ordem para estarem quietos. Aliás, não se vê funcionários nos corredores. E ninguém se atrapalha ao cruzar-se com o diretor da escola. "Eles sabem que a escola é deles e que têm de se comportar. Sou muito vaidoso e orgulhoso da nossa escola, que tem miúdos fantásticos", descreve Adelino Pinto, diretor da Secundária Alves Martins, em Viseu. Tem a sorte, diz, de estar à frente de uma escola que pode ser considerada um nicho de excelência. Nos últimos cinco anos, mais de cem dos seus alunos entraram no curso de Medicina e essa é a principal razão por que a escola se tornou exemplo de sucesso.

"Os outros alunos ficam revoltadíssimos porque também são excelentes e depois nós aparecemos sempre como a escola de Medicina. E têm razão para ficar chateados, porque temos alunos excelentes em Humanidades ou Artes. Ainda no ano passado tivemos o melhor aluno do ensino secundário com 20 valores a tudo e que entrou em Direito. Todos os anos temos uma série de alunos a entrar em Engenharia Aeroespacial", defende o diretor. Feita a ressalva de que a escola tem alunos de topo em todas as áreas, Adelino Pinto admite que muitos pais têm a ideia de que ao colocar os filhos na Alves Martins eles estão mais perto do curso de Medicina.

Não é o caso dos dois alunos que falaram com o DN. Rodrigo quer seguir Economia e Mariana, Jornalismo. Ele é o presidente da Associação de Estudantes e tem média acima dos 19 valores. Ela editou um livro de ficção em que aborda a depressão juvenil e mudou-se para a Alves Martins, vinda de outra escola da cidade no 9.º ano "a pensar no futuro".

No dia em que visitamos a escola (6 de junho), Mariana está a apresentar o seu livro - Os Fantasmas não Dormem - aos colegas. Uma obra com mais de 200 páginas e que a jovem autora "não queria acabar". "Não queria despedir-me das personagens. A história é fictícia mas tem uma mensagem real, para que quem lê se possa identificar, e acaba por ser positiva", explica.

Na escola sente que lhe deram espaço para continuar o seu sonho. Quando chegou à escola, os pais "queriam que fosse para Medicina, mas sempre soube que queria comunicação".

Para Rodrigo, o sucesso da escola, que frequenta desde o 7.º ano, deve-se à combinação de "instalações magníficas, professores magníficos e alunos empenhados". "Há a ideia de que quem estuda na Alves Martins vem de um meio privilegiado. Isso é verdade para alguns, mas também há alunos com dificuldades e que se sentem integrados e conseguem ter sucesso", sublinha o representante dos 2200 alunos.

O enfoque no sucesso escolar dos alunos é a maior aposta dos professores, reconhece Adelino Pinto. As quartas-feiras à tarde são ocupadas com aulas de apoio, distribuídas por 40 salas. A que se juntam ainda outros horários durante a semana de acordo com a disponibilidade de alunos e professores. "Já tive casos de pais que vêm cá inscrever os filhos para entrarem em Medicina e tivemos uma alegria enorme quando um aluno de escalão A conseguiu. Trabalhamos para o sucesso de todos", garante o diretor.

A filosofia da escola é apostar "desde o 10.º ano" numa "preparação enorme" para os exames nacionais. "O que eles aprendem em termos de valores e de conhecimento é muito bonito, mas o mais importante é que usem o secundário para chegar ao curso superior que querem. E nós orgulhamo--nos de os ajudar a chegar lá." Mais de 80% dos alunos seguem para o ensino superior.

Os professores são também referências para os alunos. Sendo o mais emblemático Aníbal Sousa. Trabalha na escola desde 1976 e nunca quis mudar: "Achei sempre que estava bem aqui." Docente de História, Aníbal Sousa acredita que o ensino mudou muito desde que começou a trabalhar, mas não concorda quando se critica a atual geração de alunos. "Antigamente a autoridade vinha da função. Agora ou se é credível ou não se tem autoridade só por se ser professor." Não deixa um aluno para trás e quer fazê-los gostar da disciplina através da relação de empatia que estabelecem com ele.

Adelino Pinto, que viu 80 professores reformarem-se nos últimos oito anos, resume o sucesso da sua escola com o tipo de alunos que recebe, os professores dedicados e a combinação da história com o futuro. Na Alves Martins convivem livros do século XVI, herdados de um antigo seminário que antecedeu o liceu, com a memória de ter sido frequentada por Egas Moniz (o primeiro Nobel português) e Azeredo Perdigão (advogado e primeiro presidente da Fundação Calouste Gulbenkian) - foi aqui também que Salazar fez alguns exames - e as tecnologias mais recentes. "Temos uma sala com um computador e óculos de realidade virtual para os alunos usarem quando querem, quando comprei, toda a gente dizia que ia estragar-se num instante. Foi inaugurada este ano e não tivemos nenhum problema", descreve o diretor. Há wi-fi gratuito para os alunos em toda a escola, há oito anos a escola comprou duas PlayStation para os alunos jogarem, há dois anos - depois das obras da Parque Escolar - equipou a sala de convívio com sofás e uma televisão. "Está tudo impecável ainda. Eles percebem que a escola se preocupa com eles e que lhes dá acesso às coisas que existem lá fora, por isso estimam as coisas."

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