Incêndios. Drones da Força Aérea de novo em terra voltam a falhar missões de vigilância

Pelo segundo ano consecutivo o sistema de drones da Força Aérea para apoiar a vigilância florestal na época de incêndios sofreu novo revés, com a queda de um dos aparelhos que levou mais uma vez à suspensão de todos os voos

Estão de novo suspensos os voos de todos os drones da Força Aérea Portuguesa (FAP) integrados nas missões de vigilância florestal e deteção de incêndios, na sequência da queda de uma das aeronaves na tarde de quarta-feira, junto à base de Beja.

Este é um dos 12 aparelhos - adquiridos em 2020 pelo valor de 4.5 milhões de euros num processo de aquisição apressado -que a FAP anunciou que estariam a funcionar em pleno no verão do ano passado, mas que não foi cumprido por diversos atrasos que atribui à empresa fornecedora, a portuguesa UAVision.

É o quarto incidente desde o verão do ano passado a envolver estes drones e a segunda vez que a FAP é obrigada a suspender os voos.

Comportamentos estranhos

De acordo com dados do Estado-Maior General das Forças Armadas (EMGFA) estavam disponíveis para estas missões apenas sete drones, designados Ogassa. Informações recolhidas pelo DN completam que um deles está na Base da Ota para formação e treino na OTA, dois estão a operar a partir da base de Beja, um na Lousã e três em Macedo de Cavaleiros - estes do tipo VTOL (Vertical Take-off and Landing), com capacidade de levantar e aterrar verticalmente.

No entanto, em relação a estes últimos, apurou o DN que, antes da queda de Beja, os voos de vigilância com estes VTOL já tinham sido suspensos há alguns dias pela FAP, por salvaguarda de segurança, por terem sido verificados "comportamentos estranhos" na aproximação à pista, semelhantes aos que sucederam antes de um dos acidentes no ano passado.

"Apesar de a empresa garantir que é normal a oscilação observada, a FAP decidiu parar os voos e recuar para uma nova fase de testes e de adaptação dos pilotos", revelou ao DN uma fonte daquela base.

Na verdade, a inação destes drones é confirmada pela GNR, entidade responsável pela vigilância florestal no âmbito do Dispositivo Especial de Combate aos Incêndios Rurais (DECIR), na resposta dada ao DN sobre a atividade destas aeronaves.

De acordo com a GNR "até 31 de julho de 2021, foi possível realizar pela FAP, por solicitação da Guarda, 25 planos de voo, 13 dos quais em Beja e 12 na Lousã" - sem referência a Macedo de Cavaleiros que terá sido ativada apenas este mês durante poucos dias.

O EMGFA, por seu lado, garante que "os VTOL voltarão a voar assim que terminar a requalificação dos pilotos, prevendo-se que estejam disponíveis a curto prazo", sem avançar datas concretas.

Questionado sobre se considerava que, tendo em conta o número de acidentes já registados, estas aeronaves tinham condições de segurança para continuar as missões para que foram adquiridas, que podem incluir voos sobre zonas populacionais ou vias rodoviárias, o EMGFA assegurou que "sim, desde que estejam certificadas para voo", um procedimento que é da responsabilidade da FAP.

Inquirida a FAP sobre quais tinham sido as conclusões da investigação aos incidentes anteriores, o porta-voz oficial remete para o EMGFA, apesar de estes processos serem da responsabilidade da Autoridade Aeronáutica Nacional, assumida pelo Chefe de Estado Maior da Força Aérea, General Joaquim Borrego.

A queda deste último drone significa um novo revés nesta operação - cuja coordenação tinha sido assumida desde maio pelo EMGFA - e obrigou a que as missões de vigilância passassem a ser realizadas através das tradicionais aeronaves tripuladas, o que já estava a acontecer na região coberta pela base de Macedo de Cavaleiros, para onde a FAP destacou uma aeronave do tipo P-3C Cup (Lockheed).

Segundo um comunicado desta estrutura, o drone que caiu junto a Beringel, numa zona não habitada, "sofreu danos estruturais". O DN apurou que o aparelho terá ficado totalmente despedaçado, sem qualquer possibilidade de recuperação.

Situação semelhante tinha acontecido com as outras aeronaves que, de acordo com a FAP, foram obrigadas a "aterragens forçadas", no ano passado, uma junto à barragem Trigo de Morais, na freguesia do Torrão, Alcácer do Sal, que obrigou também à suspensão dos voos, e outra perto de Odivelas, no concelho de Ferreira do Alentejo. Um terceiro incidente foi reportado pelo Comando Conjunto de Operações Militares (CCOM) quando foi apresentada a nova orientação do EMGFA para o sistema de drones.

Outro incumprimento verificável do contrato - que o Tribunal de Contas tem na sua posse desde julho no ano passado e sobre o qual ainda não se pronunciou - é o facto de não se terem sido ainda realizado voos noturnos (é de noite que começam a maior parte dos incêndios). Segundo a GNR "não se tem verificado a necessidade", mas o motivo será mesmo a indisponibilidade de drones e de pilotos disponíveis da FAP.

valentina.marcelino@dn.pt

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