Aauditoria da Inspeção-Geral da Administração Interna (IGAI) às condições do parque automóvel da divisão da PSP de Loures garante que, embora estas, “sejam relativamente antigas, tenham uma quilometragem elevada e mostrem sinais de desgaste ao nível da sua apresentação (...) estão em consições de circular na via pública. A conclusão está plasmada no relatório do inquérito urgente que a IGAI abriu após um acidente que, em novembro do ano passado, vitimou uma agente da PSP de Loures. A verificação da IGAI contradiz as teses feitas na altura a relacionar o estado das viaturas com o desastre. Ficou também provado que, ao contrário do que foi também alegado, os polícias nºao são obrigados a usar os carros sem condições..No documento – a que o DN teve acesso –, a inspeção justifica que, no fundo, tudo isto se deve à falta de capacidade das oficinas em reparar os veículos que, já de si, são escassos. Ao longo do ano passado, houve períodos “em que houve esquadras de competência genérica e de competência específica, nomeadamente a de Fiscalização e Intervenção Policial, que não dispunham de veículos próprios para o exercício de funções”. Esta situação só foi minimizada, diz a IGAI, “com a utilização de viaturas de outras divisões, mediante o balanceamento de viaturas” por decisão do Comando Metropolitano de Lisboa (Cometlis) da PSP..Além disso, diz a IGAI, à data do acidente “havia um número considerável” de veículos à espera de autorização para serem reparados. E a própria divisão de Loures tinha, à data dos factos, carros que tinham estado envolvidos em acidentes. Ora, tudo isto somado resultou, também, em “atrasos no registo de ocorrências” na zona de ação da PSP de Loures (que abarca 12 esquadras: nove de competência geral e três de competência específica). Porquê? “Houve períodos em que os efetivos tiveram de se deslocar às ocorrências em viatura afeta a várias esquadras”. Esta falta de meios levou ainda a que, conclui o relatório, elementos da Equipa de Intervenção Rápida (EIR) se tenham deslocado “com algumas restrições”, em carros não adaptados ao seu serviço e com limitações, também, “no transporte de equipamento”. Isso não impediu, contudo, que os serviços fossem feitos..A situação era tão grave que, “em finais do mês de novembro”, a divisão de Loures estava num sufoco operacional. A esquadra de trânsito, por exemplo, “tinha apenas uma viatura, estando reduzida à deslocação a acidentes”. Ou seja: meses depois do acidente que vitimou a agente e feriu outros três elementos da PSP, continuavam a haver falhas graves ao nível dos meios de transporte da polícia. A IGAI conclui ainda que, graças à falta de abertura de concursos para a aquisição de carros, a idade-média da frota automóvel da PSP é de 15 anos. A última aquisição aconteceu, segundo a inspeção, durante o ano de 2021 – ainda que, em 2023, existissem três pedidos para comprar veículos..Nesse ano, foram celebrados “sete contratos de manutenção, além de vários outros contratos de apoio à manutenção” das oficinas da PSP. Ainda assim, não mais houve uma renovação da frota e “apesar dos quilómetros e do desgaste”, os carros da PSP continuam a circular na via pública..Responsabilidades pelo acidente? Não foram identificadas “condutas suscetíveis de preencherem um qualquer tipo de ilícito disciplinar”, e a subunidade de Loures “viveu e vive uma situação muito delicada e grave quanto aos meios auto de apoio à atividade”. Não é, por isso, “sustentável a imputação de responsabilidade disciplinar a nenhum elemento” da polícia. É então necessário “equacionar a oportunidade de uma análise técnica mais profunda e mais global da situação das viaturas” e que se tomem medidas para “reverter” a situação em que se encontra o parque automóvel da divisão de Loures..JMJ acelerou reparações, mas teve impacto operacional.Classificada pela própria Polícia de Segurança Pública como “uma operação bem-sucedida” ainda que complexa, a Jornada Mundial da Juventude (JMJ, aconteceu em agosto de 2023) acabou por deixar marca na PSP..No relatório, a IGAI explica que “ao longo dos meses que antecederam este evento, foi dada prioridade à reparação de viaturas que se previam vir a ser necessárias ao seu policiamento”. No entanto, argumenta a inspeção, o “reconhecido sucesso” da JMJ “não deixou de ter reflexos no nível da afetação dos recursos logísticos e até financeiros desta força de segurança”. Isto teve, conclui-se, “implicações na operacionalidade da globalidade da sua frota”..Com Valentina Marcelino