Habitação e propinas marcam as eleições para a mais velha associação académica do país

No ano em que celebra o 137.º aniversário, a Associação Académica de Coimbra (AAC) tem a sua liderança em disputa. Na corrida estão três candidatos: Carlos Magalhães, estudante de Engenharia Civil, que encabeça a lista V, Pedro Valério, que lidera a lista A, e Gonçalo Lopes, da lista C..Após a eleição desta quinta-feira, o atual presidente, Renato Daniel, deixará a liderança da AAC - cargo que ocupava desde 2023, já depois de ter sido vice-presidente. Não obstante a saída, a continuidade está planeada, com a lista V a ser vista como a sucessão natural do mandato que termina. Afinal, vários membros da atual direção da AAC, a mais velha associação académica do país, estão nesta lista. Ouvido pelo DN, Carlos Magalhães justifica a candidatura nessa lógica. “É um continuar do trabalho que já foi desempenhado e, ao mesmo tempo, por achar que posso contribuir muito mais para desenvolver a AAC em vários panoramas, desde a política à cultura”..E as prioridades para o mandato estão, por isso, bem definidas: reforçar “o plano de ação de transição digital” (que “prevê uma digitalização a nível global daquilo que é a AAC e o seu universo”), apostar no desporto, para poder “continuar a captar” eventos como a fase final dos Campeonatos Nacionais Universitários (em 2025), e, ainda, democratizar o ensino superior: “Queremos continuar a lutar por um ensino gratuito para todos os estudantes e queremos que os estudantes internacionais possam pagar o mesmo que os nacionais. Há que continuar essa reivindicação de um ensino gratuito, acessível a todos.” .A mesma opinião tem Pedro Valério, que concorre para tentar reaproximar os estudantes - “que têm de voltar a ser parte ativa” - da associação académica, e vice-versa. As propinas, diz, são uma “questão muito importante”. “É necessário reivindicar progressões neste aspeto. Os estudantes internacionais têm uma grande assimetria em relação aos nacionais, com a propina a estar fixada nos 7 mil euros, enquanto, para os nacionais está nos 700. É uma diferença absurda”, critica o estudante do segundo ano de licenciatura em administração público-privada..Este tema é, “sem dúvida alguma”, um dos grande “entraves” no acesso ao Ensino Superior, diz Gonçalo Lopes. “É certo que tem vindo a descer e que já não representa o custo que representava há uns anos, mas continua a haver uma discrepância. Portanto, é preciso um combate muito acérrimo em relação à propina, e não teremos absolutamente problema nenhum em sair à rua em relação a este tema. Inclusive a própria Associação Académica de Coimbra está vinculada estatutariamente a defender um ensino superior gratuito e sem o sistema de propinas como um modelo de financiamento do ensino superior”, aponta..Gonçalo Lopes traz ainda outra prioridade para cima da mesa: a habitação. “Coimbra tem perdido camas desde 2022. Existem inúmeros projetos para construir residências privadas, com quartos a preços proibitivos. Também pretendemos atacar essa questão. Não podemos ter um ensino superior que, no plano nacional, tem à volta de 120 mil estudantes deslocados mas apenas 15 mil camas disponíveis”, refere. Pedro Valério, da lista A, converge , ressalvando que “é importantíssimo” que se fale de habitação e da falta de alojamento estudantil..Coimbra continua a ser um “marco de referência”?.Olhando ainda para o papel de Coimbra no atual panorama do ensino superior português, os três candidatos têm posições diferentes..Carlos Magalhães “continua a achar” que a Universidade de Coimbra (que assinala para o ano 735 anos desde a fundação) continua a captar o interesse de muitos estudantes. “Somos a região do país com a maior percentagem de estudantes deslocados a nível nacional, mesmo comparando com as áreas metropolitana de Lisboa e Porto”..Gonçalo Lopes tem opinião semelhante, não considerando que Porto, Lisboa ou outros grandes centros tenham roubado protagonismo à cidade. “Basta ver as entradas nos cursos lecionados aqui em Coimbra. Continua a ser das universidades que tem mais acesso. E a AAC deve voltar a ser uma associação académica defensora integral dos direitos dos estudantes e que os estudantes olhem como uma associação que me defende em tudo e para tudo”..No entanto, Pedro Valério não acompanha “parcialmente” esta opinião. “A Universidade de Coimbra mantém o seu peso histórico e político”, mas, é preciso mais. Para “voltar a erguer” a cidade é necessário fixar quem ali estuda, diz o candidato. “A massa estudantil é muito importante na cidade. Toda a gente percebe que Coimbra tem essa dimensão, mas é importante perceber que, se essas pessoas, depois não se fixam na cidade, então passará a ser completamente inevitável que fiquemos atrasados muito tempo. Há que garantir que há uma fixação de jovens aqui”, sublinha Pedro Valério.

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