Um pouco por todo o país as escolas voltaram a fechar portas, numa data que o Sindicato de Todos os Profissionais da Educação (S.T.O.P), responsável pela paralisação desta sexta-feira, quer ver instituída como Dia do Assistente Operacional - a classe que tem estado a protagonizar as lutas nas escolas neste ano letivo. .Segundo André Pestana, coordenador do S.T.O.P., esta greve, que também contou com a classe docente, teve forte adesão, voltando a provocar constrangimentos na normal atividade escolar - desde início do ano letivo, só em duas semanas não houve uma greve a afetar as escolas..Alguns agrupamentos já perderam a conta aos dias de encerramento, mas os protestos não estão a afetar todas as escolas de igual forma, até porque houve greves locais. Todas as seis greves, desde setembro, foram convocadas por sindicatos diferentes, o que, segundo a CONFAP, dificulta o diálogo para resolver o problema. Contudo, o Ministério da Educação, Ciência e Inovação (MECI) já encetou conversações com os municípios, responsáveis pela gestão do pessoal não docente..Lamentando os constrangimentos para pais e Encarregados de Educação, Filinto Lima, presidente da Associação Nacional de Diretores de Agrupamentos e Escolas Públicas (ANDAEP), diz entender os protestos “legítimos”, de uma “classe que precisa de melhores condições de trabalho por ser inexcedível”. “É uma jornada de luta porque estamos perto da aprovação do Orçamento do Estado. Acredito que a situação vai acalmar porque já são muitas greves. Faço votos para que o Governo se entenda com o ministro da Finanças para que os funcionários tenham melhores condições de trabalho”, sublinha..O responsável diz ainda entender a revolta generalizada dos funcionários “sem carreira própria”. “São pau para toda a colher e fazem de tudo, desde funções de limpeza ao acompanhamento de alunos com necessidades educativas especiais, por exemplo. E precisam, de facto, de melhores salários pelas responsabilidades que assumem”, sustenta..O presidente da ANDAEP volta a pedir uma revisão da portaria que define o rácio dos Assistentes Operacionais (AO) nas escolas, por carecer de mudanças. “Temos cada vez mais alunos com necessidades educativas especiais e cada vez mais alunos estrangeiros, que precisam de mais acompanhamento. É preciso rever os números”, refere..Questionado pelo DN sobre a possibilidade da continuidade dos protestos, Filinto Lima salienta a necessidade de diálogo entre o MECI e os sindicatos dos trabalhadores não docentes para “satisfazer as legítimas pretensões destes funcionários”. Filinto Lima defende também um reforço do orçamento dado pelo Governo às autarquias, considerando-o insuficiente. “É preciso que o Estado central engrosse o envelope financeiro que chega às autarquias. Têm mais despesas com a Educação e sofrem com as falhas da transferência de verbas. Os municípios estão a arder e os pais estão à beira de um ataque de nervos. O pagamento às autarquias é demorado e é insuficiente”, alerta..Sindicato quer “encetar uma luta global”.A convicção dos sindicatos, no entanto, é a de que o Governo não deu sinais de querer atender às reivindicações do pessoal não docente. É o que diz Paulo Marinho, secretário-geral do Sindicato Independente e Solidário dos Trabalhadores do Estado e Regimes Públicos (SISTERP). E, por isso, o responsável promete não baixar os braços na luta por melhores condições de trabalho. “Efetivamente não há grandes sinais para mudanças” .O secretário-geral do SISTERP não defende “a greve por greve”, mas promete uma “luta global”, com reuniões sindicais em escolas de todo o país. Nesse dia, explica, ao abrigo da lei, os trabalhadores estão dispensados para assistir à reunião e não estarão a trabalhar, levando ao encerramento da escola onde decorre o encontro. “É uma forma de mostrar que é preciso olhar para o pessoal não docente com dignidade, para que haja, para além da melhoria das suas condições, mais segurança nas escolas. Todos beneficiam com melhores condições; trabalhadores, alunos e pais”, afirma..Paulo Marinho pretende colocar os problemas dos trabalhadores não docentes “na agenda política e na comunicação social”. “Os trabalhadores precisam de ser ouvidos e a sociedade precisa de saber o que se passa e quais são as suas condições. Tem de haver um descer à terra”, conta..O responsável pelo SISTERP quer também mais união entre pessoal docente e não docente e recorda a “solidariedade que esses trabalhadores tiveram na luta dos professores”. “Se o pessoal docente trabalhar com o pessoal não docente, ganhamos todos e ganham os trabalhadores”, defende..Ministro da Educação admite necessidade de rever condições do pessoal não docente.O pessoal não docente deixou de estar sob a alçada do Ministério da Educação (ME) devido à descentralização de competências, passando para os municípios. Cabe assim às autarquias a gestão destes profissionais..A transferência de competências, que envolve também os transportes, refeições e manutenção das escolas (exclui obras de fundo) precisa de ser revisto, segundo declarações do ministro da Educação. .Contudo, não estará em causa o regresso dos não docentes à alçada do ME. A Tutela está em negociações com a Associação Nacional de Municípios Portugueses para rever as condições dos trabalhadores não docentes.