Gouveia e Melo: "Não há Forças Armadas sem disciplina"

"A Marinha não manda navios para o mar executar missões quando consideramos que esses navios têm algum risco para as guarnições", disse Gouveia e Melo, Chefe de Estado-Maior da Armada, em reação à recusa de um grupo de militares em embarcar no NRP Mondego.
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"Uma coisa posso-vos garantir: não há Forças Armadas, em nenhum país, sem disciplina". A declaração é de Gouveia e Melo, Chefe de Estado-Maior da Armada (CEMA), em reação, esta quarta-feira, à polémica sobre os militares que se recusaram a embarcar no navio da Marinha NRP Mondego para cumprir uma missão, invocando razões de segurança.

"No dia em que formos indisciplinados, no dia em que não acreditarmos na linha de comando, no dia em que essa linha de comando é subvertida, nós ficamos sem Forças Armadas", sublinhou o almirante Henrique Gouveia e Melo.

À saída de uma conferência com alunos na Escola de São Pedro, em Vila Real, disse querer aguardar para saber de todo o processo relativo aos 13 operacionais que, no sábado, se recusaram a embarcar no NRP Mondego, para prestar mais declarações. "Amanhã [quinta-feira] irei falar à minha guarnição, na Madeira [onde está o navio], e direi o que acho do processo", fez saber.

"As Forças Armadas são exigentes, obrigam a sacrifícios, a riscos e a disciplina é essencial enquanto cola das Forças Armadas", destacou. "Vou sempre exigir todos os processos necessários" para "manter a disciplina no ramo em que estou", vincou.

Questionado sobre a falta de verba para a manutenção dos equipamentos, Gouveia e Melo garantiu que esse não é um problema que esteja, neste momento, em cima da mesa relativamente ao "problema da indisciplina". "A Marinha não manda navios para o mar executar missões quando consideramos que esses navios têm algum risco para as guarnições", assegurou.

Uma decisão, disse, que cabe à hierarquia da Marinha "É o comandante do navio, que é o último responsável pelo seu navio, e esse comandante não nos disse que o navio estava em risco de cumprir a missão que nós lhe atribuímos", revelou.

Nesse sentido, prosseguiu, "temos que acreditar que há uma hierarquia de pessoas estruturadas, preparadas para exercer as suas funções. E, mais uma vez, é um problema de disciplina", fez notar.

"Essa hierarquia não pode ser substituída por um grupo da guarnição que começa a decidir se faz ou não faz as missões porque, se não, caímos no ridículo de um dia termos que fazer uma reunião geral antes de cada missão e de braço no ar votarmos se vamos ou não fazer a missão", referiu.

É para evitar este tipo de situações que as "Forças Armadas são altamente hierarquizadas", sustentou.

Começou por dizer que o processo de insubordinação no navio Mondego é um assunto que está "a ser tratado", a "ser analisado com todo o detalhe", afirmando querer estar seguro "dos detalhes".

A investigação ao caso vai "acabar rapidamente", revelou Gouveia e Melo. "Privilegiamos resultados rápidos, mas têm de ser seguros".

O Chefe de Estado-Maior da Armada terminou dizendo que os militares que se recusaram a embarcar no NRP Mondego para fazer o acompanhamento de um navio russo a norte do Porto Santo "serão presentes à lei portuguesa e aos regulamentos disciplinares correspondentes".

O NRP (Navio da República Portuguesa) Mondego não cumpriu no sábado à noite uma missão de acompanhamento de um navio russo a norte da ilha do Porto Santo, na Madeira, porque 13 elementos (quatro sargentos e nove praças do navio) recusaram embarcar por razões de segurança.

Após o incidente, a Marinha anunciou que vai avançar com processos disciplinares aos militares e ordenou uma inspeção às condições de segurança do NRP Mondego.

Entre as várias limitações técnicas invocadas pelos militares constava o facto de um motor e um gerador de energia elétrica estarem inoperacionais.

A Marinha, entretanto, confirmou que o NRP Mondego estava com "uma avaria num dos motores", mas referiu que os navios de guerra "podem operar em modo bastante degradado sem impacto na segurança", uma vez que têm "sistemas muito complexos e muito redundantes".

Com Lusa

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