"O que nos impede de sermos melhores é uma cultura e falta de ambição"

Vice-almirante falou sobre liderança em tempos de crise, no terceiro aniversário do <em>campus</em> de Carcavelos
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Gouveia e Melo contou ontem que nos primeiros meses à frente da task force de vacinação contra a covid-19, "a expectativa foi a de criar um campo magnético para que todas as peças se encaixassem". "Uma das minhas primeiras preocupações foi sobreviver. Não olhar para o topo da montanha para não ter vertigens. Mas, a dada altura, olhei para trás e já estava a meio da montanha", disse, na intervenção que fez sobre "A cultura portuguesa de liderança em tempos de crise", no âmbito das celebrações do 3.º aniversário do campus de Carcavelos da NOVA SBE.

Recordando esses tempos iniciais, Gouveia e Melo afirmou que tinha a "sensação de ter dez milhões de portugueses a olhar" para ele e que o seu objetivo foi "limpar a má imagem que havia do processo de vacinação", sempre auxiliado por "uma boa comunicação". "A liderança é definida de acordo com os objetivos. O meu objetivo era vacinar a população portuguesa o mais depressa possível", recordou.

Questionado sobre o que é que aprendeu com a sua experiência na liderança da task force, o vice-almirante confessou que teve de "aprender a negociar mais". "Nós, militares, também negociamos, mas é diferente. Na nossa hierarquia insistimos, mas só até um determinado momento", reconheceu. "Aprendi a ter paciência e aprendi que nós quando estamos motivados somos capazes de tudo. Todos nós conseguimos o sucesso da vacinação", afirmou. "Nós às vezes temos um complexo de inferioridade em relação ao que se faz lá fora, mas temos de nos deixar disso, temos de acreditar", sublinhou.

E o que terá sido mais gratificante e mais complicado nestes meses de "guerra"? "Nunca senti nenhum ponto especialmente gratificante ou mais difícil. Não quero ser ingrato, mas quando se atingia um ponto de sucesso eu já estava a focar-me no próximo. Mas sentia algum alívio", confessou. "As coisas más já me esqueci", declarou.

Gouveia e Melo foi taxativo ao dizer que "nada nos impede" de ser um melhor país, quando questionado sobre o facto de Portugal ser o país com a mais alta taxa de vacinação do mundo, mas também uma nação que parece não saber prosperar. "Não há nenhum gene português que seja inferior. O que nos impede de sermos melhores é uma cultura e uma falta de ambição. Temos de ultrapassar esta falta de ambição e trabalhar muito. Assim conseguimos melhorar o país. Mas temos de ultrapassar o complexo de inferioridade", referiu o vice-almirante. "Pomo-nos na posição fácil de esperar que alguém nos lidere. Mas não podemos esperar por um D. Sebastião. Não podemos viver num regime paternalista, isso é mau para a democracia".

Mas será que o facto de o sucesso da vacinação em Portugal se dever à liderança de um militar pode ser sinónimo de o potencial das Forças Armadas estar a ser subaproveitado noutros campos, perguntaram a Gouveia e Melo. "É uma pergunta que devolvo aos portugueses. Nós temos meios disponíveis para tempos de guerra e tempos de paz", respondeu. "Mas alerto para o risco de os militares serem precisos em tudo", prosseguiu o vice-almirante, sublinhando que vê sempre a atuação dos militares "como um penso rápido". "Não faz sentido tomarmos conta do processo", garantiu.

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