França, Estados Unidos e Dragão: uma semana de vitórias claras

França, Estados Unidos e Dragão: uma semana de vitórias claras

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Fome em Gaza. Não chega distribuir comida de avião

Sábado, 2 de março

Com as negociações para um cessar fogo temporário na Faixa de Gaza num impasse, três aviões militares norte-americanos lançaram sobre o território, governado pelo Hamas, 66 caixotes que continham 38 mil refeições naquela que foi a primeira leva de ajuda humanitária de emergência autorizada por Joe Biden. “A ajuda que está a chegar a Gaza não é suficiente. Há vidas inocentes em jogo. (…) Não vou ficar parado", afirmou o presidente dos Estados Unidos. Josep Borrell, chefe da diplomacia europeia, lembrou que a iniciativa norte-americana é “uma solução de último recurso” e que todos os esforços diplomáticos devem visar o cessar-fogo e a abertura, de facto, das fronteiras terrestres para uma distribuição eficaz da ajuda humanitária, lançando esse apelo a Israel. Segundo as Nações Unidas, neste momento, um quarto dos 2,3 milhões de habitantes de Gaza está a enfrentar a fome. Já a UNICEF denunciou que um em cada seis bebés com menos de dois anos sofre de subnutrição grave. Kamala Harris, vice-presidente dos EUA, diz que cabe a Israel “fazer mais” para resolver a crise humanitária. “Não há desculpas. Vimos mulheres a dar à luz bebés subnutridos, com poucos ou nenhuns cuidados médicos, e crianças a morrer de desnutrição e desidratação", afirmou.

Operação conjunta dos EUA e da Jordânia fez chegar refeições por via aérea a Gaza. -- Foto: EPA/MOHAMMED SABER

Goleada no Dragão. Injeção de ânimo já veio fora de horas

Domingo, 3 de março

Noite de gala no Estádio do Dragão. Sob forte pressão, já que uma derrota no clássico significaria o adeus definitivo ao título de campeão nacional e, muito provavelmente, até mesmo ao 2.º lugar, que vale a qualificação para as pré-eliminatórias da Champions, o FC Porto deu uma resposta tremenda e goleou o Benfica, por 5-0, reduzindo assim para seis pontos a distância face ao rival lisboeta. Galeno foi a figura do jogo e deu mais um passo seguro rumo à Seleção Nacional. A mão cheia de golos é uma repetição do resultado conseguido na temporada 2010/11, quando os dragões eram treinados pelo agora candidato presidencial, André Villas-Boas. O contexto é, no entanto, muito diferente. Se nessa já longínqua temporada – que seria histórica para o clube azul e branco com a conquista da Liga Europa – o FC Porto bateu o Benfica à 10.º jornada, sentado no 1.º lugar da Liga e cavando um fosso de dez pontos em relação ao segundo lugar (tornar-se-ia campeão invicto), desta feita a equipa de Sérgio Conceição segue no 3.º posto, quando faltam apenas dez jogos para terminar o campeonato e com o Sporting destacado na liderança, com mais sete pontos que os dragões (e um jogo a menos). O triunfo, para mais por números expressivos, é importante para ligar a equipa, mas a injeção de ânimo, no que ao campeonato diz respeito, pode ter chegado tarde de mais. Já para o Benfica tratou-se, pura e simplesmente, de um desastre, um banho de bola que desestabiliza a confiança da equipa e dos adeptos no técnico Roger Schmidt, mas nenhum objetivo ficou comprometido.

O luso-brasileiro Galeno bisou na goleada portista frente ao Benfica. Exibição reforça candidatura do extremo a uma estreia na seleção nacional portuguesa. -- Foto: Miguel Pereira/Global Imagens

Aborto na Constituição. Votação histórica em França

Segunda-feira, 4 de março

A França tornou-se no primeiro país do mundo a incluir na sua Constituição a “liberdade garantida à mulher de recorrer à interrupção voluntária da gravidez”. A proposta foi aprovada por uma larga maioria dos deputados e senadores franceses – 780 a favor e 72 contra –, bastante acima dos três quintos necessários para proceder à alteração na lei fundamental. O presidente Emmanuel Macron celebrou a histórica votação com um post na rede social X (o antigo Twitter) - “Orgulho francês, mensagem universal” - e a Torre Eiffel juntou-se à festa de centenas de ativistas pelo direito ao aborto que se concentravam junto ao monumento, iluminando-se e transmitindo num painel eletrónico a mensagem “O meu corpo, a minha escolha”. Também a Organização Mundial de Saúde, através do seu diretor-geral, Tedros Adhanom Ghebreyesus, veio saudar a “decisão de garantir os direitos das mulheres e salvar as suas vidas", salientando que "o aborto seguro faz parte dos cuidados de saúde". Posição bem diferente teve o Vaticano, que reagiu através de um comunicado da Pontifícia Academia para a Vida: “Na era dos direitos humanos universais não pode haver um 'direito' de suprimir a vida humana. (…) A proteção da vida humana é o primeiro objetivo da humanidade (…). Não é uma ideologia”.

Inscrição do aborto na Constituição francesa foi assinalada na Torre Eiffel, que mostrou num painel eletrónico a frase: “O meu corpo, a minha escolha”. -- Foto: DIMITAR DILKOFF / AFP

Terça-feira só foi súper para Trump e Biden

Terça-feira, 5 de março

A Súper Terça-Feira, dia de primárias em 15 estados norte-americanos para definir quem são os candidatos às eleições presidenciais de novembro, confirmou o que já se esperava: foi mesmo um 'passeio' para Donald Trump e Joe Biden, que vão reeditar o duelo de 2020. Se do lado democrata não havia qualquer dúvida sobre a votação massiva no atual presidente dos EUA, do dos republicanos existia ainda alguma (pouca...) expectativa sobre a capacidade de Nikki Haley concentrar o voto dos moderados e de todos os que não querem, de todo, assistir a um regresso de Trump à Casa Branca e obter resultados que lhe permitissem, pelo menos, continuar viva na já muito difícil corrida à nomeação. Mas o melhor que conseguiu foi um triunfo no pequeno estado do Vermont (o menos populoso dos 15 que foram a votos), democrata e progressista – uma gota no oceano de necessidades que Haley tinha em mãos. Não foi assim surpresa para ninguém que a antiga embaixadora dos Estados Unidos na ONU acabasse por desistir, abrindo caminho à premonição de Trump, horas antes, quando previu a desistência: “Queremos unidade. Vamos ter unidade. Isso vai acontecer muito em breve”. Haley, no entanto, recusou endossar o seu apoio ao milionário novaiorquino, desafiando-o a conquistar os seus apoiantes (também disputados por Biden) e formulando um desejo: “Devemos afastar-nos da escuridão do ódio e da divisão”.

Donald Trump e Joe Biden terão, respetivamente, 78 e 81 anos quando disputarem em novembro, pela segunda vez, a presidência dos Estados Unidos. -- Fotos: AFP

António-Pedro Vasconcelos, o cineasta multifacetado

Quarta-feira, 6 de março

Morreu, aos 84 anos, o cineasta António Pedro-Vasconcelos. Sobre ele, como escreveu o jornalista e crítico de cinema João Lopes no DN, “dir-se-á sempre que foi um criador que nunca desistiu de pensar a possibilidade de um cinema português que conseguisse conciliar a dimensão autoral com algum impacto comercial”. Essa capacidade de cativar um público alargado esteve presente ao longo dos 50 anos de uma carreira que produziu sucessos como O Lugar do Morto, Jaime ou Call Girl, entre outros, que lhe valeram o reconhecimento dos espectadores e dos seus pares. “É uma figura marcante da nossa vida, digamos do pós-25 de Abril especialmente, e que marcou muito a área da cultura, do cinema e da escrita. É uma referência, para muitos de nós”, reconheceu Paulo Trancoso, presidente da Academia Portuguesa de Cinema. Realizador, produtor, professor, crítico, escritor, cidadão empenhado em diversas causas e na defesa do serviço público, comentador de futebol apaixonado pelo Benfica, foram muitas as facetas de António Pedro-Vasconcelos, "homem culto, frontal, interventivo e intempestivo", como destacou Marcelo Rebelo de Sousa numa nota de pesar da Presidência da República.

António-Pedro Vasconcelos morreu na quarta-feira, aos 84 anos. -- Foto: Diana Quintela/ Global Imagens

Tráfico de droga na Europa. Aumenta violência e corrupção

Quinta-feira, 7 de março

O Observatório Europeu da Droga e da Toxicodependência e a Europol publicaram um retrato alarmante sobre o tráfico de droga na Europa, calculando que esse mercado valha mais de 30 mil milhões de euros por ano ao crime organizado, com o continente a destacar-se na produção de grandes quantidade de canábis e de drogas sintéticas, ao mesmo tempo que é recetor de volumes recorde de cocaína vinda da América Latina. O relatório nota também um aumento de insegurança, fruto da atividade violenta dos cartéis: “Alguns Estados-membros da UE registam atualmente níveis sem precedentes de violência relacionada com o mercado da droga, incluindo assassínios, tortura, raptos e intimidação", pode ler-se no texto. Por outro lado, também associada ao tráfico está a corrupção, “uma ameaça importante na UE”, pois as redes criminosas têm muitas vezes de recorrer a subornos de todo o tipo para “manter a sua atividade e mitigar os riscos”. A capacidade destes grupos em se adaptarem a novas realidades e angariarem consumidores ficou também patente no relatório de 2023 do Conselho Internacional de Controlo de Narcóticos da ONU, que identifica uma tendência crescente da utilização da internet como veículo para o tráfico de drogas: “Podemos perceber que não é realizado apenas na dark web. As plataformas legítimas de comércio eletrónico também estão a ser exploradas por criminosos".

O tráfico de droga na Europa rende 30 mil milhões de euros por ano às redes criminosas. -- Foto: Leonardo Negrão/Global Imagens

Mais crimes e mais crispação nas escolas

Sexta, 8 de março

A Polícia de Segurança Pública registou, através do programa Escola Segura, 3824 ocorrências (2708 de natureza criminal) nos estabelecimentos de ensino no ano letivo de 2022/23. Os números mostram uma subida em relação ao ano anterior, mas, ainda assim, são inferiores à média da última década (4570). Ofensas corporais (1237), injúrias e ameaças (825) e furto (368) são os crimes mais frequentes, mas a lista inclui ofensas sexuais, posse de uso de arma e tráfico de droga. Confrontados com o resultado do relatório, os diretores escolares dão conta de um ambiente cada vez mais crispado nas escolas, algo que se agravou após a pandemia. “Sentimos que os alunos estão mais irrequietos, mais nervosos. Muitas vezes querem resolver o problema de forma errada”, admitiu Filinto Lima, da Associação Nacional de Diretores de Agrupamentos e Escolas Públicas, à Lusa. Manuel Pereira, da Associação Nacional de Dirigentes Escolares, faz um apelo: “Precisamos especificamente de apoios técnicos para a área da saúde mental”. 

A PSP tem atualmente 361 polícias afetos às equipas do programa Escola Segura. -- Foto: Filipe Amorim/Global Imagens

pedro.sequeira@dn.pt

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