O presidente do Conselho de Administração da Florestgal – a primeira e única empresa pública do país vocacionada para gestão de florestas, criada na sequência dos grandes incêndios de 2017 – renunciou ao cargo no início do ano e ainda não foi substituído. José de Jesus Gaspar, vice-presidente e professor do Instituto Politécnico de Coimbra (que acumulou com o cargo), especialista em ciências agrárias, tomou posse em junho de 2023 e pediu para sair em janeiro de 2025, tendo terminado formalmente as suas funções em 28 de fevereiro último. Não é inédito, porém, este vazio na cadeira do mais alto responsável de uma empresa criada com uma ambição que hoje, mais que nunca, é uma das soluções mais estruturantes para a prevenção dos fogos rurais e recuperar áreas ardidas: “impulsionar e fomentar a agregação de parcelas com vista a aumentar a dimensão média das explorações florestais para patamares que as tornem viáveis de forma sustentada, bem como a modernização da sua gestão e a promoção da diversificação da produção, com recurso a espécies autóctones, adequadas às nossas características de solo e clima, tendo em vista o desenvolvimento de um mosaico florestal que assegure à sociedade e à economia as funções que, em cada momento, podem e devem esperar da floresta”, como frisou o seu primeiro presidente, José Miguel Medeiros, antigo deputado socialista e secretário de Estado da Proteção Civil, no discurso de tomada de posse, a 20 de março de 2019, na sede da empresa em Figueiró dos Vinhos.A Medeiros sucedeu Rui Gonçalves, ex-Secretário de Estado do Desenvolvimento Rural e das Florestas, - escolhido por José de Matos Fernandes - que assumiu o cargo em 2021, tendo sido demitido pelo então ministro do Ambiente, Duarte Cordeiro, logo em outubro de 2022. Dias antes tinha escrito no Público um artigo intitulado “Mudar o que tem de ser mudado”, no qual criticava em cinco pontos o sistema de gestão de incêndios rurais, bem como a atuação da Proteção Civil no incêndio da Serra da Estrela desse verão (que responsabilizou pela perda de parte da floresta gerida pela empresa) e a falta de execução de planos. “Temos um sistema de irresponsabilidade organizada”, sublinhou. Demorou depois mais sete meses até José de Jesus Gaspar assumir a presidência. O DN tentou saber junto à tutela, agora na Agricultura, para quando estava prevista a designação de um novo conselho de administração, cujo mandato “terminou no ano de 2023”, segundo confirma fonte oficial da empresa, mas o gabinete de José Manuel Fernandes não deu uma resposta a esta questão. “De acordo com o plano “Floresta 2050, Futuro + Verde, aprovado pelo Conselho de Ministros no passado dia 21 de agosto, a operacionalização das medidas previstas no plano contará com o envolvimento reforçado da FlorestGal, S.A., enquanto entidade do setor público empresarial dedicada à execução de políticas públicas para o ordenamento, gestão e valorização do território florestal, a qual assumirá um papel destacado na concretização das ações prioritárias definidas”, declarou o porta-voz.Também ficaram por responder as perguntas colocadas à empresa sobre a evolução da empresa desde a sua criação, designadamente, face aos objetivos iniciais os concretizados.Uma consulta ao relatório e contas de 2024 permite, ainda assim, tirar algumas conclusões. Ainda está muito longe de atingir os 120.000 hectares sob exploração em 10 anos (2028/29), que tinham sido inscritos no plano de negócios, por exemplo. Para isso, teriam de ter já acrescentado, pelo menos o dobro, dos hectares que a empresa já geria em 2021 (tem atualmente cerca de 16 mil hectares de propriedades próprias). Em média, teriam se adquirir cerca de 10.000/12.000 novos hectares em cada ano para atingir esse desiderato em 2028.No entanto, de acordo com o relatório e contas, “nos anos de 2022 e 2023 a FlorestGal adquiriu um total de 1.210,5 hectares” e em 2024 “não efetuou quaisquer aquisições de bens imobiliário”, por não ter tido “financiamento para aquisição de novas propriedades”. Se quando foi criada, tinha sob sua gestão 86 propriedades em 26 conselhos, passados sete anos continua a ser esse o seu património.“A criação de um instrumento que desse execução às políticas públicas florestais, necessárias à preservação da biodiversidade e à proteção das populações, sem pôr em causa, mas sim promovendo, as vertentes económica e social fundamentais para um desenvolvimento territorial equilibrado”, constituindo-se como um “motor de mudança na forma de gerir a floresta, em particular nos territórios mais vulneráveis às alterações climáticas”, como explica a empresa no seu relatório, é uma meta ainda longínqua.A empresa tem um património de 37 milhões de euros e em 2024 um resultado positivo de gestão de mais de quatro milhões, resultante de rendas e da venda de produtos florestais. .Balanço. Execução da despesa em prevenção e combate aos fogos ficou 25% abaixo do previsto.Portugal tem 12.800 bombeiros e é 3.º pior da UE a investir em proteção contra fogos