Enquanto não há dados da auditoria externa ao número de alunos sem aulas, pedida pelo Ministério da Educação, Ciência e Inovação (MECI), cuja divulgação estava prevista para março e foi entretanto adiada para o final de maio, uma análise aos horários que estiveram ou ainda estão a concurso esta semana mostra que milhares de alunos continuam sem aulas a uma ou mais disciplinas, agora que arrancou o terceiro e último período deste ano letivo. Dados fornecidos ao DN por Davide Martins, docente e especialista em estatística de Educação e colaborador do blogue ArLindo (dedicado à Educação), mostram que foram lançados a concurso 302 horários nesta primeira semana do período, num total de 5732 horas, “o que corresponde 38480 alunos sem aulas”.Filinto Lima, presidente da Associação Nacional de Diretores de Agrupamentos e Escolas Públicas (ANDAEP), diz que é necessário aguardar pelo resultado da auditoria pedida pelo MECI para ter dados oficiais, mas confessa não ter sentido, “apesar dos esforços do ministro da Educação”, diferenças substanciais, no que se refere à falta de professores, comparativamente com o ano letivo anterior. “Sabemos que há alunos sem aulas e vai haver nos próximos anos. É uma certeza. Agora saber o quanto esses estudantes são prejudicados por essa situação, não é possível verificar sem dados oficiais”, explica. O representante dos diretores escolares aponta como maior dificuldade nesta altura a substituição de professores por motivo de aposentação ou baixa médica, por estarmos já na reta final do ano letivo. “É complicado substituir professores e tem sido, em algumas escolas, um verdadeiro calvário. E já não é só em escolas da Grande Lisboa e do Algarve, é um problema transversal à maioria das regiões do país. No caso das substituições, estes horários surgem quando os professores já têm a vida organizada e não vão trocar o certo pelo incerto”, justifica.Segundo Filino Lima, os pais estão cada vez mais preocupados com a falta de docentes, “mas sabem que é um problema que não se sente apenas no nosso país”. Reconhecendo o trabalho feito pelo MECI com a implementação de várias medidas, o presidente da ANDAEP aponta a atribuição de horas extraordinárias como aquela que surtiu mais efeito, mas sem resultar num decréscimo substancial do número de alunos sem aulas. “Não há professores e não haverá professores no futuro. A atribuição de horas extraordinárias ajudou, mas não resolveu o problema. O que queremos é mais professores e não dar mais trabalho aos que estão nas escolas”, afirma. Por isso, Filinto Lima pede a implementação daquela a que chama “a medida”: um apoio à estadia. “Essa seria a medida que iria diminuir o constrangimento da escassez de professores”, defende. “A falta de professores não se resolve num ano, nem em dois. Nos últimos anos houve um desinvestimento nos recursos humanos, principalmente nos professores. Mandaram-nos emigrar dizendo que havia docentes a mais. Então e não se planeia o futuro?”, questiona. Para resolver o problema, conclui, “é preciso valorizar a carreira e amar os professores que foram mal amados durante muitos anos”. Português é das disciplinas mais problemáticas, com exames à portaTIC deixou de ser a única disciplina com grande falta de professores. Segundo Filinto Lima, o problema é “transversal e afeta quase todos os grupos disciplinares”. Opinião idêntica tem a Missão Escola Pública (MEP) - um movimento apartidário de professores -, que aponta Português como sendo uma das disciplinas mais problemáticas. “Português é um dos grupos com maior falta de professores, mas o problema alastra-se a vários grupos. Há escolas a pedir que professores de outras áreas possam colmatar as falhas no Português”, denuncia Cristina Mota, porta-voz da MEP, alertando para o facto de se tratar de uma disciplina sujeita a exame.Em relação ao número de alunos sem aulas fornecido por Davide Martins ao DN, a docente diz estar preocupada, mas não surpreendida, pois “são valores semelhantes ao que tínhamos no final do 2º período”. Existe, contudo, uma “agravante” porque, sublinha, “já foram atribuídas horas extraordinárias aos professores”. “Estamos a fazer surgir mais problemas e baixas médicas por desgaste. Nesta fase, entendemos que era muito importante tentar colmatar estas lacunas com medidas extraordinárias, até porque alguns destes alunos vão ter provas”, afirma. Cristina Mota lembra que os horários a concurso em Oferta de Escolas (plataforma onde as escolas fazem pedidos de horários) já não foram ocupados nas Reservas de Recrutamento (listas nacionais), muitos são incompletos e temporários. Seria importante, defende, que o MECI os passasse os horários a completos e com término a 31 de agosto, usando as horas sobrantes em apoios para recuperar aprendizagens.A porta-voz da MEP pede ainda a aplicação imediata do apoio à deslocação alargado a todas as escolas e professores, já aprovado, cuja entrada em vigor está prevista apenas para o próximo ano letivo.