A embaixada de Israel em Portugal anunciou esta segunda-feira na rede social Twitter o seu encerramento em adesão às greves e protestos em curso naquele país contra o projeto de reforma judicial do Governo do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu..A representação diplomática israelita em Lisboa junta-se, assim, a várias outras embaixadas de Israel no estrangeiro, contra a reforma judicial que ameaça a independência do poder judicial e os fundamentos da democracia do país.."Devido à decisão da União de Sindicatos em Israel -- pela qual todas as embaixadas israelitas são instruídas a parar de trabalhar e entrar em greve -- a Embaixada [de Israel em Lisboa] será fechada hoje até nova ordem. Apenas em questões de emergência, contactar o email: consul@lisbon.mfa.gov.il", escreveu a embaixada israelita em Portugal, em português e em inglês, na sua conta oficial na rede social Twitter..A decisão foi anunciada depois de vários diplomatas de diversas embaixadas israelitas no estrangeiro terem também anunciado esta segunda-feira a sua adesão às greves em curso no país, juntando-se à contestação à polémica reforma do poder judicial que o Governo mais à direita da história de Israel quer impor no país..Yaniv Levy, porta-voz do Histadrut, o maior sindicato de Israel, tinha já indicado que as missões diplomáticas israelitas também estavam em greve, funcionando apenas os "serviços de emergência", porque embaixadores e cônsules aderiram à vaga de contestação que está a paralisar o país..Trabalhadores de vários setores económicos e sociais de Israel entraram esta segunda-feira em greve em mais uma tentativa para aumentar a pressão sobre Netanyahu para que o executivo que lidera descarte o plano de reforma judicial..A greve geral, de caráter imediato, foi convocada esta segunda-feira de manhã pelo líder do Histadrut durante uma conferência de imprensa em que exigiu o fim da reforma judicial anunciada pelo Governo, que está a dividir profundamente o país.."Convoco uma greve geral (...) assim que esta conferência de imprensa terminar. O Estado de Israel está a parar", anunciou Arnon Arnon Bar-David, que dirige o maior sindicato de trabalhadores de Israel..Imediatamente após o anúncio da greve, as autoridades aeroportuárias de Israel indicaram que os voos com partida prevista do principal aeroporto internacional do país estavam cancelados..A força sindical tinha ficado de fora dos protestos que duram há semanas no país, mas a recente demissão do ministro da Defesa israelita pareceu fornecer o ímpeto para esta greve imediata..No domingo à noite, Netanyahu demitiu o ministro da Defesa, depois de Yoav Gallant ter pedido publicamente o fim da reforma judicial, tornando-se a primeira voz crítica do Governo em relação às alterações propostas..A decisão do primeiro-ministro levou mais de 600 mil pessoas para as ruas em protestos maciços e improvisados em várias cidades israelitas. As universidades de todo o país fecharam "até nova ordem"..Segundo precisou o porta-voz do Histadrut, além de os voos que deviam partir do principal aeroporto internacional do país terem sido cancelados e de os diplomatas das embaixadas e consulados israelitas no estrangeiro terem abandonado o trabalho, também centros comerciais e universidades fecharam portas..O Histadrut apelou aos seus cerca de 800.000 membros -- associados praticamente a todas as áreas da economia, saúde e educação, além da banca -- para pararem de trabalhar e entrarem em greve de imediato..Espera-se que as autoridades locais encerrem também as creches e as escolas e outros serviços, ao passo que o principal sindicato dos médicos israelitas já anunciou que a grande maioria dos seus membros está apenas de apoio às urgências..A crescente resistência ao plano de Netanyahu ocorreu horas após dezenas de milhares de pessoas terem saído às ruas em todo o país, numa manifestação espontânea de ira pela decisão do primeiro-ministro de demitir o ministro da Defesa..Gritando palavras de ordem como "O país está a pegar fogo", os manifestantes atearam fogueiras na principal estrada de Telavive, o que levou ao encerramento da via, o mesmo sucedendo noutras cidades israelitas..Além disso, milhares de manifestantes estão a protestar junto ao Parlamento israelita (Knesset) para manter a pressão..A reforma judicial desencadeou uma das mais graves crises internas de Israel, ao unir a oposição, líderes empresariais, magistrados e funcionários judiciais, académicos, intelectuais, estudantes e mesmo militares do país..O Presidente de Israel, Isaac Herzog, pediu esta segunda-feira a Netanyahu para "agir com responsabilidade e coragem" e pôr fim "de imediato" ao processo legislativo da polémica reforma judicial que está a dividir o país..A peça central da revisão é uma lei que dará à coligação governamental a última palavra sobre todas as nomeações de juízes, inclusive do Supremo Tribunal, e lhe permitirá igualmente nomear políticos para cargos de assessoria jurídica do Governo..Outras leis incluídas na reforma dão ao parlamento a possibilidade de anular por maioria simples decisões do Supremo Tribunal de Justiça (STJ), limitando a revisão judicial das leis e até a sua revogação pela mais alta instância judicial do país, mesmo que esta as considere inconstitucionais..Netanyahu e os seus parceiros de coligação argumentaram que o projeto devolverá o equilíbrio à relação entre os poderes executivo e judicial, permitindo ao Governo controlar o que consideram ser um tribunal intervencionista com simpatias liberais..Mas críticos advertiram de que as leis do projeto de reforma judicial vão eliminar o sistema de controlos e equilíbrios de Israel -- pondo fim à separação de poderes, princípio em que assenta qualquer Estado de direito - e concentrar o poder nas mãos da coligação governamental, acrescentando que Netanyahu, em julgamento por acusações de corrupção, tem um claro conflito de interesses.