O incidente do elevador da Glória em 2018 não foi comunicado ao Gabinete de Investigação de Acidentes Aéreos e Ferroviários (GPIAAF), assegurou ao DN fonte oficial desta estrutura que está a investigar o desastre da passada quarta-feira, que causou 16 mortos e mais de duas dezenas de feridos. “Mas mesmo que tivesse sido reportado não é de investigação obrigatória pelo GPIAAF”, sublinha a mesma fonte.Foi esta a resposta oficial deste Gabinete, quando confrontado com as declarações do presidente da Câmara de Lisboa, Carlos Moedas na entrevista que deu à SIC: “Em 2018 houve um acidente no elevador da Glória e verdade é que não consigo encontrar nenhum relatório desse acidente”, disse o edil.De acordo com os regulamentos do GPIAAF, os acidentes de investigação obrigatória são os que causam mortos ou, pelo menos, cinco feridos graves, o que não foi o caso do incidente de 2018 que, mesmo assim, obrigou a suspender o funcionamento daquele meio de transporte que liga os Restauradores ao Bairro Alto, durante quase um mês. O GPIAAF pode também, por iniciativa própria, investigar acidentes ou incidentes que “em circunstâncias diferentes, poderiam ter conduzido a acidentes graves (…) devendo ter em conta a sua decisão: a sua gravidade; se a ocorrência faz parte de uma série de acidentes ou incidentes relevantes; o impacte na segurança ferroviária ao nível comunitário; os pedidos dos gestores das infraestruturas das empresas”. Questionado sobre porque não tinham tomado a iniciativa, responde. “Neste caso não tomámos iniciativa porque o incidente não nos foi comunicado pela Carris. E mesmo que fosse teríamos de avaliar face às investigações então em curso e meios disponíveis”. Como é sabido, desde 2017 o GPIAAF tem apenas dois inspetores, um deles o diretor.Menos de 24 horas depois das declarações de Moedas, a Carris informou que o incidente de 2018 “não deu origem a qualquer relatório”, mas foi registado em três documentos distintos. Em resposta à Lusa, “após levantamento do histórico”, a empresa que gere os elevadores e ascensores de Lisboa, tutelada pela Câmara Municipal, refere que “foi possível apurar” que a CIAG (Comissão de Investigação de Acidentes Graves) não elaborou um relatório a propósito do incidente com um equipamento que saiu dos carris em 07 de maio. De acordo com o vereador com o pelouro dos transportes e da Carris no executivo, liderado na altura por Fernando Medina, “a Carris na altura informou-nos que tinha existido um descarrilamento, mas não se tinha registado nenhum incidente com os passageiros e que tinha decidido, como já estava programada uma grande manutenção para esse ano, suspender o elevador e antecipar essa operação”. Tempestade política e mudança de procedimentos de segurançaO executivo da Câmara de Lisboa, presidido por Carlos Moedas, propôs nesta segunda-feira a criação de uma equipa de missão, integrando o Laboratório Nacional de Engenharia Civil e a Ordem dos Engenheiros, que deverá conceber um novo sistema tecnológico para o centenário Elevador da Glória, no qual morreram 16 pessoas na quarta-feira passada, num acidente que gerou uma tempestade política na capital, a cerca de um mês das eleições autárquicas propostas aprovadas na reunião extraordinária da Câmara de Lisboa desta segunda-feira, que incluem um fundo de apoio às famílias das vítimas e a atribuição de um nome de rua ao guarda-freios André Marques, que tentou evitar o desfecho trágico enquanto a cabina descia a alta velocidade pela Calçada da Glória, vieram após as declarações sobre as responsabilidades políticas de Moedas terem dominado a atualidade política neste domingo. Da parte da manhã, o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, e o secretário-geral do PS, José Luís Carneiro, defenderam que o escrutínio do presidente da Câmara de Lisboa caberia aos eleitores, contrastando com o apelo de Pedro Nuno Santos à demissão de Moedas, em publicações nas redes sociais, mas a troca de acusações sobrepôs-se após a entrevista do autarca da capital, cabeça de lista da coligação Por Ti, Lisboa (PSD-CDS-Iniciativa Liberal) ao Jornal da Noite da SIC, rotulando de “cínico” e “dissimulado” o posicionamento de Alexandra Leitão, sua principal rival na corrida autárquica, levando a candidata da coligação Viver Lisboa (PS-Livre-Bloco de Esquerda-PAN) a criticar o que disse ser um “exercício de desculpabilização”.Apesar de a guerra política não dar sinais de acabar, com novas entrevistas televisivas na noite de segunda-feira - na CMTV, Moedas disse-se alvo de ataques de caráter “por máquinas políticas que querem ganhar votos e politizar uma tragédia desta dimensão”, enquanto Leitão acusou o adversário de se ter “escondido atrás do Presidente da República, do primeiro-ministro, do vice-presidente da Câmara e do presidente da Carris” - e mais uma ofensiva de Pedro Nuno Santos, sendo nesta terça-feira votada a moção de censura do Chega na Assembleia Municipal de Lisboa (ver texto ao lado), mas também houve sinais de convergência. O regresso da manutenção dos funiculares à Carris, revertendo a sua externalização, como tem sido defendido pela oposição de esquerda, está agora a ser admitido pelo executivo municipal.Na reunião extraordinária, o vice-presidente Filipe Anacoreta Correia, que durante o fim de semana assumira quaisquer responsabilidades políticas do acidente, destacou a criação de um Portal da Transparência da Câmara de Lisboa. “Ninguém está a lidar com isto à defesa ou com preocupação de ser posto em causa. Nós queremos que toda a informação seja do conhecimento público, independentemente das consequências”,disse.“Se alguém provar que alguma ação que eu tenha tido, algo que eu tenha feito, como presidente da Câmara, em relação a esta empresa levou a que esta empresa não gastasse o suficiente em manutenção, não fizesse aquilo que tinha de fazer, eu demito-me no dia. Passei quatro anos a investir em Lisboa para uma melhor mobilidade”, concluiu..Reunião na CML: Câmara de Lisboa aprova apoios e portal da transparência.Elevador da Glória. PSD/CDS-PP quer evitar “agenda mediática que apenas procura encontrar culpados”