O diretor-executivo do Serviço Nacional de Saúde (SNS), Fernando Araújo, ressalvou esta terça-feira no Porto, no 2.º Simpósio da Organização Mundial da Saúde (OMS) dedicado ao futuro digital , que a anunciada reforma na saúde, que diz ser a maior nos 44 anos do SNS, "não foi feita em cima do joelho"..O responsável falava sobre a criação de 31 novas Unidades Locais de Saúde (ULS), que se juntam às oito já existentes, a partir de 1 de janeiro de 2024. Fernando Araújo referiu que esta reforma é "complexa e exigente" e vai demorar algum tempo a implementar no terreno. "No dia 1 de janeiro não esperamos que haja uma alteração major", disse. Dizendo que esta reforma é "seguramente a maior que o SNS está a fazer nestes cerca de 44 anos", o diretor-executivo garantiu que as alterações não são apenas administrativas, mas vão ajudar o SNS.."O SNS não pode continuar como está. Está com graves dificuldades e temos de prepará-lo para o futuro", vincou. Confiante de que esta reforma do SNS vai corresponder às necessidades, Fernando Araújo reafirmou que está de acordo com as "boas práticas internacionais" e que é feita com e para as pessoas..À margem do simpósio do SNS, cerca de duas dezenas de médicos manifestaram-se para que "o mundo inteiro ouça o grito de alerta" por melhores salários e condições de trabalho..A ação, organizada pela Federação Nacional dos Médicos (FNAM), marcou também o arranque de uma caravana que vai percorrer o país, para reforçar a mobilização dos médicos, para que não façam mais do que as 150 horas extraordinárias obrigatórias por ano e para mapear a "situação dramática" que se vive em várias unidades de saúde..Os médicos protestaram contra o "silêncio" do Ministério da Saúde (MS) e do Governo à contraproposta da FNAM relativamente às grelhas salariais e ao novo regime de dedicação plena e integração do internato médico na carreira..A presidente da FNAM, Joana Bordalo e Sá, foi ouvida por Hans Kluge, diretor regional da OMS/Europa, a quem entregou uma carta com o histórico de reivindicações.."Conseguimos passar a mensagem de que de facto há um problema grave em Portugal, que somos dos médicos mais mal pagos a nível europeu, estamos de facto há mais de uma década sem nenhum aumento salarial, com condições de trabalho a deteriorarem-se", disse Joana Bordalo e Sá.."Fizemos questão de estar aqui para que o mundo inteiro ouça o nosso grito de alerta e para que o ministro da Saúde, Manuel Pizarro, e o primeiro-ministro, António Costa, percebam que é preciso investir nos médicos e no SNS", afirmou Joana Bordalo e Sá.."Não é só na digitalização, não é só usar os 10 milhões do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) para investir, por exemplo, em cinco robots. Nós precisamos também de dinheiro para ser investido nos profissionais, nomeadamente nos médicos", sublinhou..Quanto aos médicos de família, o ministro da saúde, Manuel Pizarro, admitiu que Portugal viverá "muitas dificuldades" até final de 2024 relativamente à cobertura de médicos de família, embora esteja a formar profissionais, mas a formação "começou tarde"..Manuel Pizarro explicou que "algures entre 2020 e o final de 2024 são os anos em que se vão reformar os grandes cursos médicos da segunda metade da década de 70"..Em maio deste ano foram recrutados 314 especialistas. Em novembro será lançado novo concurso, mas de dimensão inferior..A Associação de Unidades de Saúde Familiar defendeu que a nova lei das USF deve manter as vantagens do modelo B para melhorar a qualidade dos cuidados e atrair e fixar os profissionais no Serviço Nacional de Saúde..O novo decreto-lei das USF (Unidades de Saúde Familiar), que vai estabelecer o regime jurídico da organização e do seu funcionamento, assim como o regime de incentivos e remunerações a atribuir, será discutido na quinta-feira com os sindicatos médicos..A associação salienta que as equipas de saúde familiar consideram que as listas de utentes em modelo B são "demasiado grandes para as condições de trabalho" e defendem que para as manterem têm de "melhorar tudo o que apoia o trabalho das equipas". Esta defende o fim das quotas para USF de modelos A e B e as USF de modelo B - que permite proporcionar melhores cuidados de saúde à população e remunerar as equipas com incentivos associados aos serviços a que as pessoas têm acesso - como futuro modelo único de USF, o que já foi anunciado pelo Governo.