O ministro do Ambiente e Ação Climática, Duarte Cordeiro, considera que Portugal, apesar da crise energética decorrente da guerra na Ucrânia, tem condições para manter e acelerar a transição energética.."No atual contexto de guerra e crise de energia, países recuaram em políticas por questões de segurança energética. O nosso país manteve e entende que tem condições para acelerar as suas políticas energéticas", procurando "aproveitar vantagens do país para acelerar a produção de energia renovável", diz Duarte Cordeiro em entrevista à Lusa..A propósito da 27.ª Conferência das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas (COP27), que junta representantes de quase 200 países a partir de domingo em Sharm el-Sheikh, no Egito, e na qual vai participar, Duarte Cordeiro defende que é preciso manter a ambição do Acordo de Paris sobre redução de emissões de gases com efeito de estufa e acelerar políticas, e que a União Europeia (UE) tem de dar o exemplo e "puxar outros países" para assumirem compromissos de luta contra o aquecimento global.."O que temos de transmitir é que a UE quer manter as ambições que estabeleceu e tem políticas para responder a essa ambição. Circunstancialmente podemos, por força da guerra (na Ucrânia), ter de adotar medidas que nos permitam garantir segurança energética, mas isso não significa não manter ambição relativamente às metas e aumentar essa ambição", diz à Lusa, referindo-se às metas de limitação de emissões de gases com efeito de estufa (GEE)..E na questão da redução de emissões de GEE, diz Duarte Cordeiro que Portugal "até pode dar um bom exemplo"..Citando um relatório da Agência Portuguesa do Ambiente de 2021 o ministro fala de uma redução de emissões de 4,8%, num ano em que o crescimento económico foi de 4,9%. "Há resultados que demonstram que é possível reduzir as emissões e manter uma trajetória de crescimento e desenvolvimento", salienta..Duarte Cordeiro reconhece que a nível energético este ano "tem sido difícil", decorrente da crise provocada pela invasão da Ucrânia pela Rússia e suspensão de fornecimento de gás natural à UE, mas acrescenta que na Europa há uma tentativa de acelerar a transição energética, o mesmo acontecendo em Portugal, que quer ter 80% da energia proveniente de fontes renováveis antes de 2030..Antecipar essa meta, que estava para 2030, "não é simplesmente algo que nos permita apoiar a concretização dos objetivos que estabelecemos em Paris, é mais do que isso. No atual contexto, energia renovável também significa energia mais barata, maior competitividade, menor dependência da energia fóssil e com isso menor dependência de disrupções que possam existir por parte dos países fornecedores desses combustíveis fosseis"..Encerrar as centrais a carvão, exemplifica, significou uma redução de 21% das emissões poluentes na produção de eletricidade..De resto, acrescenta, Portugal "está a corresponder aos compromissos internacionais", incluindo na adaptação, com o Governo a "adotar políticas territoriais com vista à preparação do país para um cenário futuro" de menos chuva..Sem esquecer, a par dos projetos de energia renovável, a adaptação das redes elétricas, adiantando que "em breve" poderá haver respostas a esse nível, sem esquecer a política de gases renováveis, entre eles o hidrogénio verde, com mais de 70 projetos, que se todos se concretizarem representam um investimento de cerca de 10 mil milhões de euros..Duarte Cordeiro afirma-se ainda convicto de que Portugal vai ser um produtor de gases renováveis, e que os vai exportar, tendo um papel na descarbonização do país mas também da Europa..Considera que a UE, numa altura de guerra e suas consequências, deve manter-se firme nos objetivos ambientais, e avisa que "não fazer nada é caminhar para a catástrofe ambiental"..Duarte Cordeiro garante que esta não é a atura de vacilar e que é preciso tudo fazer para impedir que o aquecimento global vá além de 1,5 graus celsius (ºC) acima dos valores médios da era pré-industrial, como acordado em Paris em 2015..Porque a COP27 se destina a debater as alterações climáticas e a luta contra o aquecimento global, quando se multiplicam catástrofes naturais decorrentes desse aquecimento, Duarte Cordeiro insiste que o preço de não agir agora será muito alto no futuro.."Também temos de perceber que não fazer nada é caminhar para a catástrofe ambiental", avisa..O ministro reconhece que a conferência do Egito é intercalar, que tem um objetivo de prolongar o diálogo estabelecido no ano passado, na COP26, em Glasgow, Reino Unido, mas não lhe retira por isso importância..A COP27, recorda, vai abordar os temas da mitigação, da adaptação, do financiamento e do diálogo sobre compensação por perdas e danos relativamente aos países mais afetados pelas alterações climáticas..Duarte Cordeiro reconhece que quanto à mitigação, sob a forma da redução de emissões de gases com efeito de estufa (GEE), há uma preocupação de que a guerra na Ucrânia e as consequências que resultam em crise energética, inflação e crise alimentar, possa levar a "uma menor ambição dos países" face aos objetivos do Acordo de Paris..Mas diz que se espera que Portugal e a UE reafirmem as políticas e os objetivos que podem conduzir aos objetivos de Paris.."Nós, a UE, temos a perspetiva de que não devemos recuar nos objetivos que estão estabelecidos e de que no lado da mitigação deve haver um reafirmar dos objetivos das partes, neste caso os objetivos nacionais que são assumidos. E portanto a UE, no contexto do Conselho de Ministros do Ambiente (realizado na semana passada) afirmou uma posição de manutenção da ambição e de procurar corresponder aos objetivos que ficaram estabelecidos", diz o ministro.."Na COP27, ao nível da mitigação, acho que é fundamental a atualização dos compromissos nacionais, e haver esse compromisso de atualização (das reduções de GEE) é determinante", adianta..A UE, que tem dos "compromissos mais ambiciosos", garante, fará a sua parte..Duarte Cordeiro lembra o "Fit to 55" (Objetivo 55), pacote europeu para reduzir as emissões de GEE em 55% até 2030, diz que Portugal está alinhado com esse objetivo, acrescenta que vai mesmo procurar antecipar metas, nomeadamente do lado da energia, procurando que 80% da energia produzida seja de fontes renováveis já a partir de 2026 e não 2030 e diz que do lado da UE o espírito é o mesmo, de não recuar nos objetivos perante a crise energética..O ministro reforça o que diz citando relatórios recentes das Nações Unidas, segundo os quais o esforço de reduzir a emissão de GEE não está a ser suficiente e que a humanidade, com as atuais medidas, caminha para um aumento de temperatura no final do século de 2,8ºC, com os impactos que tal terá em termos globais.."É necessário assumir ambições e não recuar nas ambições. A UE tem feito parte das zonas do globo com maior ambição em políticas ambientais e em particular na questão da redução de emissões. O apelo vai ser de assumir essas ambições. É importante percebermos as consequências de não fazermos nada ou de recuarmos nos objetivos ambientais que determinamos. Não estamos numa circunstância de não fazer nada. Manter os objetivos ou aumentar a ambição traz consequências, desde logo o impacto das alterações climáticas. Um relatório do Eurostat fala de 145 mil milhões de euros de impacto das alterações climáticas na ultima década", diz o ministro..Sobre o que pode sair da COP27 acrescenta ser "absolutamente determinante que compromissos se materializem, que haja uma atualização" desses compromissos, e que UE tem de dar o exemplo..E se há essa "evidência" de que se nada for feito as catástrofes vão ser cada vez maiores, a COP27 terá também como grandes temas a adaptação e o financiamento..E neste apoio a países menos desenvolvidos para adaptação às alterações climáticas Duarte Cordeiro destaca também o papel de Portugal, o compromisso assumido em Glasgow de apoiar a mitigação e também a adaptação. E há, lembra, o compromisso dos países ricos de financiarem a luta dos mais pobres contra o aquecimento global com 100 mil milhões de dólares anualmente, havendo a necessidade de reafirmar esse compromisso, que ainda não foi concretizado..Portugal, acrescenta o ministro, divide o financiamento assumido até 2030, quatro milhões de euros por ano, entre a mitigação e a adaptação. E está a estudar a possibilidade de reforçar esse apoio.."Estamos a trabalhar no aprofundamento do reforço de financiamento, através de diálogo com algumas instituições financeiras internacionais", como Banco Mundial, para que "qualquer financiamento adicional que Portugal venha a acrescentar possa alavancar financiamento internacional e que seja dedicado e concretizado em função dos objetivos dos países em desenvolvimento", explicou..O ministro enfatizou ainda o apoio de Portugal a uma iniciativa da ONU para criar um sistema de alertas precoces para desastres climáticos, "fundamental também ao nível da adaptação e preparação, para evitar consequências associadas a catástrofes naturais".