Os alunos do 4º e 6º ano vão fazer Provas de Monitorização da Aprendizagem (MoDa) pela primeira vez e os de 9º ano serão avaliados com um exame totalmente digital. São duas das grandes mudanças implementadas pelo Ministério da Educação, Ciência e Inovação (MECI) para este ano letivo, e os pais estão preocupados com estas alterações. Para garantir que a avaliação externa decorra com normalidade, o MECI agendou provas-ensaio que começam na próxima semana, mas segundo a Confederação Nacional das Associações de Pais (Confap), ainda há alunos sem computadores, pelo que não estão aptos para fazer provas em formato digital.“Do ponto de vista da infraestrutura tecnológica há muitas preocupações. Há escolas com falta de computadores e outras em que até sobram. Outra questão preocupante é a rede de internet, apesar de o MECI ter garantido que os alunos sujeitos a exame este ano não ficariam sem a PEN de acesso à internet”, explica ao DN Mariana Carvalho, presidente da Confap.A responsável alerta ainda para o facto de os alunos não terem todos o mesmo tempo de utilização dos computadores porque “numas escolas levam o PC uma vez por mês para as aulas, noutras só o utilizam nas aulas de TIC ou em vésperas de provas”, pedindo assim uma “uniformização de procedimentos”.Questionada sobre a preparação dos alunos para as novas avaliações externas, a presidente da Confap acredita que, em alguns casos, os alunos estarão preparados e noutros não”. Depende da escola e dos professores.“A falta de professores preocupa-nos muito, mas não é só isso. Também temos vindo a detetar cada vez mais que, no início do ano letivo, os professores apresentam-se ao serviço, mas acabam por meter baixa e os alunos ficam sem aulas algumas semanas ou meses”, adianta. Em causa estarão, segundo Mariana Carvalho, muitas vezes, problemas de saúde mental. “Gostaríamos de perceber como podemos ajudar estes professores a melhorarem a sua qualidade de vida para que seja possível mantermos a sua saúde.” A saúde mental é um dos focos da Confap.Prevenindo essa questão não só das crianças, mas do pessoal docente e não-docente, automaticamente a gestão acaba por ser mais facilitada”, explica. Contudo, a Confap tem registado, este ano letivo, “menos queixas de pais no que se refere à falta de professores”, algo que Mariana Carvalho diz ainda não conseguir aferir se é ou não resultado das medidas implementadas pelo MECI para fazer face à escassez de docentes. “Não temos números para avaliar”, justifica.Gabinetes de apoio para prevenir a violênciaOs mais recentes casos de agressões em contexto escolar e a indisciplina estão também no topo das preocupações da Confap, que defende uma maior aposta na prevenção, com especial destaque para a saúde mental. Mariana Carvalho acredita que os alunos e também professores e pessoal não-docente apresentam maior “instabilidade emocional e irritabilidade”. “Durante a pandemia achámos que iria mudar, que ficaríamos mais tolerantes, mas estamos muito cansados. Os grupos das redes sociais também não ajudam, pois acabam por levar mensagens rápidas, mas com interpretações dúbias”, refere. A Confap pretende, por isso, “a criação de gabinetes de apoio em todas as escolas para a promoção da saúde mental”.“Temos de parar e pensar o que podemos fazer para parar as agressões. Muitas vezes, não sabemos como orientar as crianças, se o aluno se deve envolver ou não, podendo correr o risco ser visto como conivente”, explica.Com um aumento da violência, “não só nas escolas”, Mariana Carvalho ressalva, contudo, que “há instituições escolares que estão a reforçar os planos de saúde mental com várias ações e programas, o que é positivo”. Falta de vagas nas creches e pré-escolarMariana Carvalho denuncia ainda a falta de vagas nas creches e no Ensino Pré-escolar, “uma das queixas mais frequentes dos pais”.“Temos mesmo muitas queixas. Temos reunido com várias instituições, mas a verdade é que não temos resposta ainda, pelo menos uma resposta efetiva do que fazer a estas famílias”, afirma.E é também por falta de resposta que, segundo Mariana Carvalho, há cada vez mais famílias a recorrer ao ensino privado, “capaz de prestar um serviço que permita aos pais cumprir em um horário laboral mais alargado”. Explica a presidente da Confap: “A maior parte das nossas escolas, especialmente de 1.º ciclo, não tem esse suporte. É um dos motivos que leva os pais a fazerem um esforço financeiro para terem acesso a um serviço diferente.” A falta de professores também tem levado a mudanças de alunos do público para o privado ou a recorrer a explicações, conta. “Estamos aqui a trazer uma desvantagem económica, muitos pais fazem mesmo um esforço e trabalhos extra para que os seus filhos tenham um acompanhamento melhor. Estamos, mais uma vez, a trazer desigualdade ao Sistema Educativo”, defende.