Colégios privados sem vagas em Lisboa, Porto e Braga
Encontrar vagas nas escolas privadas, principalmente nos grandes e médios pólos urbanos, é uma missão quase impossível. Quem o diz é Rodrigo Queiroz e Melo, diretor-executivo da Associação de Estabelecimentos de Ensino Particular e Cooperativo (AEEP), que afirma existir uma grande pressão no setor. Segundo o responsável, Lisboa, Porto e Braga são as zonas onde essa dificuldade é maior, mas “nas outras zonas, embora muitos colégios não estejam com lotação máxima, não há muitas vagas e a procura continua a crescer”.
“Estamos cheios, continuamos com muita procura e com alguns segmentos a crescer, como as escolas com currículos internacionais”. Os estabelecimentos com a totalidade dos ciclos, do 1º ano ao Ensino Secundário, acrescenta, “tipicamente estão cheios”. A situação, diz, não é nova e tem acelerado, segundo o diretor-executivo AEEP, desde o período da pandemia de Covid 19 - e “não mostra sinais de abrandamento”. “É cada vez mais difícil conseguir vagas para novos alunos e a meio dos ciclos, a situação agrava. Esta pressão no privado vai manter-se”, afirma.
Rodrigo Queiroz e Melo acredita que “os pais valorizam mais, hoje em dia, uma escolaridade mais bem sucedida”. A crescente procura, defende, prende-se também com a “necessidade de estabilidade e de projetos educativos com valor acrescentado”. “Pais com menos filhos procuram cada vez mais o privado. Há também mais pessoas que não eram o público tradicional, a procurar os colégios. Temos ainda milhares de estrangeiros de classe média a residir em Portugal. Muitos dos colégios internacionais que estão a abrir em Lisboa e no Porto são a preços mais suportados por estrangeiros”, explica.
A falta de professores também justifica essa pressão no setor, “principalmente em zonas onde esse problema tem mais expressão”. “Lisboa e Porto são claramente situações dessas”, afirma. E apesar do aumento de vagas nos estabelecimentos privados, “o aumento crescente da procura, nos últimos quatro a cinco anos” continua a pressionar o setor. Segundo Rodrigo Queiroz e Melo, “tem havido novos privados a nascer e com uma certa dimensão”.
Segundo dados disponíveis no site da Direção-Geral de Estatísticas da Educação e Ciência, sem contar com jardins de infância e escolas profisisonais, havia, em 2022/23, 148 estabelecimentos privados no ensino básico e no secundário em Lisboa (108) e Porto (40).
O responsável acrescenta ainda a situação política do país como um fator a pesar nas escolhas das famílias. “Esta instabilidade constante dos governos favorece quem consegue oferecer estabilidade”, conclui.
“Não tem nada a ver com a qualidade do ensino”
Filinto Lima, presidente da Associação Nacional de Diretores de Agrupamentos e Escolas Públicas (ANDAEP), garante que a ‘fuga’ dos alunos para as escolas privadas “não tem nada a ver com a qualidade do ensino”. “Os melhores profissionais estão todos no público e os que não estão, quando podem dar o salto para o público, fazem-no sem olhar para trás”, sustenta. Os motivos para a escolha das famílias, acrescenta, prendem-se com “o tipo de organização”, com maior autonomia na gestão de recursos humanos. “Por exemplo, as escolas públicas não podem contratar professores e este é um tema tabu no sistema educativo nacional. Não defendo que seja feito a 100 por cento, mas uma franja de professores deveria poder ser escolhida pelas escolas”, sublinha.
O representante dos diretores das escolas públicas aponta ainda as greves como um fator importante. “Este ano já são oito e são paragens que não afetam o setor privado. Os pais não podem deixar de trabalhar para estar em casa por causa da greve na escola dos filhos”, refere, desvalorizando, por outro lado, a importância das condições físicas das escolas na escolha do estabelecimento (mais de 500 escolas públicas aguardam obras de requalificação).
Para o presidente da ANDAEP “alguns pais preferem ter os filhos num local onde todos são iguais, com turmas homogéneas” e na escola pública “há todo o tipo de alunos”, algo que considera “enriquecedor”, enquanto outros pais, contrapõe, “preferem ter os filhos numa hipotética redoma”.
“No entanto, na minha opinião, o grande motivo é mesmo a organização das escolas privadas. No público, não só podemos reconduzir um professor de um ano para o outro em casos muito específicos. Não temos autonomia nas contratações e isso pesa bastante na escolha dos pais neste momento”, conclui.