Cientistas nos Estados Unidos deram um passo inédito na investigação da infertilidade: conseguiram utilizar células da pele humana para criar óvulos funcionais, através de um nove método de divisão celular, num avanço que poderá, num futuro ainda não próximo, ajudar mulheres a terem filhos geneticamente seus quando os seus próprios óvulos não são viáveis. Os resultados foram publicados esta semana na revista Nature Communications.Os investigadores retiraram o núcleo de uma célula da pele de uma mulher e inseriram-no num óvulo previamente esvaziado do seu próprio núcleo. À partida, o maior obstáculo neste processo é o excesso de cromossomas resultante, já que enquanto os óvulos contêm 23 cromossomas necessários para o desenvolvimento humano (metade do número normal, porque o espermatozoide que fertiliza o óvulo contribuirá com os outros 23), as células da pele, e todas as células não reprodutivas, transportam já os dois conjuntos de cromossomas, 46.Mas a equipa do Oregon Health & Science University que efetuou o estudo afirma ter encontrado a solução através de um processo que batizou de mitomeiose, uma divisão celular artificial que elimina metade dos cromossomas, deixando o número correto para a formação de um óvulo viável. “Conseguimos algo que antes era considerado impossível. A natureza deu-nos dois modos de divisão celular e nós desenvolvemos um terceiro”, declarou Shoukhrat Mitalipov, que liderou o estudo, citado pela agência Reuters.Na experiência, 82 destes óvulos modificados foram fertilizados com esperma em laboratório. Apenas cerca de 9% chegaram à fase de blastocisto — o estágio de desenvolvimento, ocorrido entre o 5º e 7º dia após a fecundação, em que o embrião, com entre 70 a 200 células, é normalmente transferido para o útero em tratamentos de fertilização in vitro. Nenhum foi desenvolvido além desse ponto. A maioria parou em fases muito iniciais e apresentou anomalias cromossómicas.Apesar das limitações, especialistas externos consideram o trabalho uma prova de conceito importante. “Mostra que os cromossomas de células não reprodutivas podem ser persuadidos a dividir-se como acontece naturalmente em óvulos ou espermatozoides”, comentou Roger Sturmey, especialista em medicina reprodutiva da Universidade de Hull, no Reino Unido, citado pela Reuters.Ainda assim, o caminho até uma eventual aplicação clínica é longo. “As taxas de sucesso são muito baixas. A perspetiva de aplicar este método em doentes permanece distante”, alertou Sturmey. Os próprios autores estimam que serão necessários pelo menos dez anos de investigação antes de se poder sequer considerar um ensaio clínico, e isso assumindo que seria autorizado.Para a médica Ying Cheong, da Universidade de Southampton, que não participou no estudo, o avanço abre uma possibilidade inédita: “É trabalho ainda muito inicial, mas um dia poderá transformar a forma como entendemos a infertilidade e até abrir portas à criação de células semelhantes a óvulos ou espermatozoides para pessoas que não têm outras opções.”.Mercúrio está presente nas mulheres grávidas de Aveiro, alerta bióloga