Finda a cerimónia, o cortejo fúnebre com honras militares saiu do Mosteiro dos Jerónimos rumo a Cascais, com uma passagem pelo edifício do grupo Impresa, em Paço de Arcos, onde centenas de trabalhadores se despediram do empresário e fundador do grupo com uma longa ovação no exterior do edifício. O funeral estará depois reservado à família..O filho de Pinto Balsemão e sucessor na liderança do grupo Impresa, Francisco Pedro Balsemão, proferiu uma intervenção profundamente emocionada que comoveu as centenas de pessoas presentes, culminando num longo e sentido aplauso. Em nome da família, agradeceu a todos os que compareceram para prestar a última homenagem ao pai. “Francisco Pinto Balsemão foi e é um herói”, declarou, sublinhando que a palavra não era usada levianamente. “O uso da palavra herói não é de ânimo leve. Os heróis gregos situavam-se entre os deuses e os homens. Não eram deuses, mas também não eram homens”, evocou. “O nosso pai não era perfeito. Pessoas perfeitas não existem. Mas porque estamos a sofrer tanto hoje porque partiu? É porque ele fez por nós muito mais”, destacou Francisco Pedro Balsemão, salientando o legado do pai, que “construiu uma família que tudo fará para manter o que ele construiu”. Referiu os cinco filhos e 20 netos deixados por Balsemão, entre “gestores, delegados de turma, surfistas, pescadores”, enfatizando a diversidade e a união da família: “Somos diferentes, mas estamos unidos”. O nome Balsemão, realçou, é sinónimo de valores, com destaque para a exigência. “O nosso pai dizia que somos privilegiados e, por isso, somos obrigados a fazer mais”, recordou, citando ainda uma expressão querida do pai: “Quem tem unhas toca viola”, um apelo a agarrar as oportunidades.Francisco Pedro Balsemão evocou momentos em que o pai, Pinto Balsemão, poderia ter “virado costas” e em que se terá sentido injustiçado, como quando abandonou a política após “ter dado tanto ao país e defendido a democracia”. O humanismo foi outro valor central na vida de Balsemão, que, segundo o filho, rejeitava “a espuma dos dias” para buscar “a substância”. E, acrescentou o atual CEO da Impresa, o patriarca Balsemão ensinou ainda a família a não se levar demasiado a sério, a perceber que “somos um grão de areia, num universo onde ele sabia que não estamos sozinhos”. Francisco Pedro terminou reafirmando o carácter heroico do pai: “Foi e é o nosso herói, que viveu uma vida digna. Sabia que tinha um destino especial na vida”. .Numa intervenção no final da missa, Marcelo Rebelo de Sousa prestou uma sentida homenagem, lembrando Balsemão como um homem que “nunca foi uma ilha”, alguém que se realizou “pelos outros e com os outros”. O Presidente da República descreveu-o como um visionário, capaz de “antecipar tempos e modos”, de “romper barreiras” e de agir “com rasgo”.Marcelo destacou o seu espírito lutador, sublinhando que Balsemão “nunca desistiu” e que “preferiu a solidão da resistência ao ditame da submissão”. Recordou também o otimismo escatológico, a fé inabalável “no amanhã” e a capacidade de “recomeçar dia após dia, até ao limite do impossível - e, em bom rigor, para além desse limite”, notou.Durante seis décadas, disse Marcelo, Pinto Balsemão foi uma figura essencial “num Portugal fechado, que ajudou a abrir para a democracia”. Deu “passos que mudaram as vidas de todos nós” e manteve-se sempre fiel ao seu princípio de se realizar “pelos outros e com os outros”.“Nunca foi medíocre”, concluiu o Presidente, garantindo que “Portugal nunca esquecerá” quem tanto contribuiu para a construção de uma sociedade livre e democrática..O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, fará uma intervenção no final, e Camané canta a música "Abandono", que tem como tema a liberdade. O funeral, em Cascais, será depois reservado à família..O patriarca de Lisboa, Rui Valério, e o bispo de Setúbal, o cardeal Américo Aguiar, são co-celebrantes desta cerimónia, com o cardeal-patriarca emérito de Lisboa, Manuel Clemente.Veja imagens do interior da Igreja dos Jerónimos, asseguradas pelo repórter fotográfico Tiago Petinga (agência Lusa):.Durante a missa, as leituras foram feitas pela viúva, Mercedes, e pela filha Joana. A viúva leu uma passagem do livro da Sabedoria e a filha Joana leu uma passagem dos Salmos. Os netos fizeram a oração dos fiéis, com pedidos sobre vários temas, incluindo o jornalismo e os jornalistas.A comunhão iniciou-se com a família, seguindo-se Marcelo Rebelo de Sousa, Aguiar-Branco e Luís Montenegro, por esta ordem.De seguida comungaram outros políticos presentes, como o ministro da Economia, Castro Almeida, e o líder do PS, José Luís Carneiro..A homilia está a cargo do cardeal-patriarca emérito de Lisboa, Manuel Clemente, que realça "um momento verdadeiramente nacional". "Não há muitos momentos assim", acrescenta. "É uma demonstração da relevância desta pessoa que era Francisco Pinto Balsemão".O cardeal evocou a vida de Balsemão e o impacto que teve "nas vidas de pessoas de todas as condições sociais".O féretro está rodeado de militares dos diferentes ramos das Forças Armadas..Entre as pesonalidades de várias áreas presentes destacam-se o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, o primeiro-ministro Luís Montenegro e o presidente da Assembleia da República, José Pedro Aguiar-Branco, representantes de órgãos de soberania em Portugal.Também políticos de diversos quadrantes, como José Luís Carneiro, do PS, autarcas, como Carlos Moedas ou Isaltino Morais, ou antigos governantes e chefes de Estado, como Cavaco Silva, marcam presença nos Jerónimos.O banqueiro Artur Santos Silva, antigo chairman do BPI e amigo de longa data de Balsemão, também está presente.Além de atuais e antigas caras da SIC, a televisão privada fundada por Balsemão, e outros jornalistas, artistas, figuras públicas e menos públicas.Veja as fotos do fotojornalista do DN Leonardo Negrão:.O dia da despedida a Francisco Pinto Balsemão As cerimónias fúnebres de Francisco Pinto Balsemão decorrem no Mosteiro dos Jerónimos desde as 13h00 desta quinta-feira. A igreja está lotada com personalidades de várias áreas e também muitos cidadãos anónimos que quiseram estar na última homenagem ao empresário e antigo primeiro-ministro, fundador do PSD, da SIC e do Expresso.