“Serve o presente e-mail para informar V. Ex.ª que por motivos relacionados com a gestão orçamental em curso, não será possível proceder ao pagamento integral dos honorários no corrente mês. Prevemos que a situação possa ficar resolvida em dezembro e normalizada por completo durante o mês de janeiro. Agradecemos desde já a compreensão e a colaboração, sendo certo que tudo faremos para minimizar o impacto deste constrangimento”.Foi desta forma que o Conselho de Administração da Unidade Local de Saúde de Castelo Branco (ULSCA) informou os médicos prestadores de serviço que este mês não receberiam a quantia a que têm direito pelos serviços prestados na íntegra. O e-mail foi enviado apenas um dia depois de aquela ULS ter recebido a visita da ministra da Saúde, Ana Paula Martins, e do diretor executivo, Álvaro Almeida, para estes se inteirarem de como a unidade se está a preparar para a prestação de cuidados durante o inverno e ainda para inaugurar uma nova unidade na área da ginecologia-obstetrícia.Segundo apurou o DN, o e-mail “irritou” e “indignou” a classe, que, ainda por cima, tem - através da recém-criada associação que a representa - reunião agendada para esta quinta-feira, dia 27, pelas 10.30, com a ministra da Saúde. Um encontro que servirá para discutir o diploma do Governo que prevê baixar o valor pago à hora aos prestadores de serviço e que motivou a insatisfação destes médicos, levantando mesmo, entre grupos privados de mensagens Whatsapp, à equação de protestos que pudessem "parar as urgências" . O DN contactou o gabinete de comunicação da ULSCA para saber se esta informação era verdadeira, a que se devia a situação de não pagamento e o que estava a ser feito para se resolver a situação. A única resposta que obtivemos foi a de que se confirmava “o envio do e-mail”. Junto da Direção Executiva do SNS, o DN procurou saber se esta tinha conhecimento do que se estava a passar na ULS de Castelo Branco, mas remeteram-nos para a unidade local, já que se trata de “uma questão interna”.As mesmas fontes explicaram ao DN que “a situação pode afetar cerca de 50 profissionais que ali fazem prestação de serviço” e que esta teria a ver com “um problema de tesouraria”. Ou melhor, dito de outra forma, “nesta altura há hospitais que já não têm dinheiro para nada”. No entanto, fonte ligada a uma administração hospitalar referiu ao DN considerar “a situação estranha, no mínimo inédita”, porque em situações de défice de tesouraria “o organismo que financia as unidades do SNS, que é a Administração Central do Sistema de Saúde (ACSS), avança com a verba para se efetuarem os pagamentos”.Ao DN, fontes da classe classificaram “a situação como gravíssima”, questionando mesmo se “é assim que os hospitais gerem agora os seus orçamentos”, chegando ao ponto de dizer “aos médicos prestadores de serviço que precisam deles para não fechar portas, mas que não têm dinheiro para lhes pagar”. Argumentando, mais uma vez, que “esta poderá ser a altura em que os médicos dizem que então não trabalham nestas condições”.O assunto será, “certamente”, abordado com “a Sr.ª ministra”, dizem-nos, embora o foco da associação, que no passado dia 19 novembro se reuniu com o bastonário dos médicos, seja a de expor os seus argumentos sobre a regularização da atividade médica em prestação de serviços. Isto porque, segundo tem sido noticiado - já que não se conhece na íntegra o diploma aprovado em Conselho de Ministros, no dia 22 de outubro -, uma das alterações previstas no diploma do Governo reduz para metade o valor hora pago aos médicos tarefeiros, sendo que a média praticada até agora na maioria dos hospitais do SNS é entre 35 a 39 euros/hora, podendo este valor chegar aos 45 euros, 50 ou até mesmo 60 nas unidades mais periféricas.Aliás, e como o DN noticiou recentemente, dados oficiais revelam que a ULS de Castelo Branco é das que paga melhor, tendo contratado, até setembro deste ano, 106 079 horas de prestação de serviço médica, com um gasto total de quase cinco milhões de euros (4 914 254,00), o que dá uma média de valor/hora de 46,3 euros..SNS. 45% dos encargos com prestação de serviços médicos é pago a empresas que contratam tarefeiros.De acordo com o que se pode ver no e-mail a que o DN teve acesso, este foi enviado pela secretaria do Conselho de Administração da ULS de Castelo Branco, cujo presidente foi nomeado a 20 de novembro de 2024 já por Ana Paula Martins. Na altura, a nomeação gerou contestação por se tratar de Rui Manuel Amaro Alves, professor catedrático sem ligação à área da Saúde, com percurso feito sempre na área do planeamento regional e urbano e na área das tecnologias, tendo participado ainda no Grupo de Trabalho para a Revisão da Lei de Finanças das Regiões Autónomas e da Lei das Finanças Locais (2012/2013).