A Câmara Municipal de Cascais suspendeu esta terça-feira a concessão do aeródromo de Tires devido ao desconforto dos eventuais interessados com as notícias que associavam o concurso a grupos criminosos.O concurso, que atraiu o interesse de três grupos, iria ser lançado este ano e iria implicar um investimento imediato de cerca de 165 milhões de euros.A suspensão foi justificada pelo facto de os eventuais interessados se terem sentido incomodados pelas notícias que têm vindo a público que associam "'a decisão à pressa' que o signatário teria, enquanto presidente de Câmara, de entregar a concessão da infraestrutura aeroportuária a grupos que alegadamente têm atividades criminosas".A decisão foi aprovada com votos favoráveis de todos os partidos e abstenção do Chega.Durante a reunião que decorreu hoje de manhã, Carlos Carreiras refutou as acusações e explicou que, apesar de não terem fundo de verdade, "ao colar o concurso a grupos criminosos, ninguém se sente confortável a ser associado".O presidente da câmara confirmou ainda que três grupos mostraram interesse no processo, e "muitos outros apareceram a sondar". "Até porque não se lança um concurso destes sem saber se há interessados", comentou.Lembrando o estudo elaborado pela Ernst & Young para a autarquia sobre os valores do investimento, o responsável sublinhou que o que estava em causa era um projeto com "números de grande dimensão"."Isto, de facto, é de uma dimensão proporcionalmente inversa entre o que é o interesse público e atitude de certos agentes políticos e partidários nesta matéria, estamos a falar de uma proposta com grande transformação do ponto de vista económico, social e ambiental", apontou.Agora, Carlos Carreira prefere deixar a decisão de avançar, ou não, com a concessão de Tires para o próximo presidente da câmara, que será eleito nas eleições autárquicas agendadas para este ano."O próximo executivo terá toda a liberdade, e até facilidade, [para decidir] porque já tem muito trabalho feito, já tem todo um manancial de estudos", disse.No entanto, a mesma proposta assegura que "vão continuar a desenvolver todos os procedimentos necessários à instalação no concelho de ensino superior nas áreas das engenharias aeroespacial e aeronáutico, assim como a investigação e desenvolvimento de combustíveis alternativos, de materiais compósitos e de processos de inteligência artificial relacionados com o setor. A Câmara de Cascais está a trabalhar com a Universidade Nova para criar um "aeroporto universitário", como foi apelidado o projeto.Em reação à notícia, o diretor executivo da IFA-International Flight Academy, José Madeira, aplaude a suspensão."Prevaleceu o bom senso. Esta decisão é uma oportunidade para que - sem pressas e fora do calendário eleitoral - o executivo que resultar das próximas eleições autárquicas em Cascais possa reconfigurar um modelo de concessão que assegure a continuidade da presença das escolas de formação no aeródromo de Cascais, salvaguardando assim os contributos prestados há décadas para o concelho, em termos financeiros, de criação de postos de trabalho e de formação de profissionais qualificados, para um setor tão necessitado de quadros como é o da aviação civil em Portugal", comentou o responsável da principal escola de formação de pilotos de Tires.O anúncio do lançamento do concurso internacional para a concessão de Tires foi feito no final do ano passado, no seguimento da nova vida que a autarquia queria dar à infraestrutura que vai receber os voos executivos da Portela para aliviar o aeroporto de Lisboa que está a operar praticamente na sua capacidade máxima.A medida foi apresentada no Orçamento do Estado para 2024 pelo anterior executivo de António Costa, tendo posteriormente sido criado um grupo de trabalho para avaliar a proposta de desvio destes voos que representam perto de 1% do total dos movimentos do Aeroporto Humberto Delgado.Autarca de Cascais reclama dívida pela utilização de aeródromo. Linha aérea Algarve/Trás-os-Montes em risco