Sair de casa de carro, deixá-lo no parque de estacionamento mais próximo e apanhar uma bicicleta até à estação dos comboios ou um autocarro até ao centro da vila. Por 20 euros por mês, quem mora em Cascais vai poder comprar um passe que lhe permite ter acesso a transportes públicos, estacionamentos e bicicletas (Bicas). Para consultar horários, saber onde ficam as estações ou o número de velocípedes disponíveis, basta ter um smartphone por perto. Um projeto "pioneiro e inovador", diz a autarquia, que pode vir a ser adotado por outros municípios..O MOBI Cascais, apresentado ontem no Centro de Congressos do Estoril, parte do pressuposto de que "uma cidade onde os cidadãos não se podem movimentar não é democrática". Miguel Pinto Luz, vice-presidente da Câmara Municipal de Cascais, explicou ao DN que é um projeto "que integra todos os sistemas de mobilidade do concelho". Pelo preço de "um café por dia" é possível "estacionar, andar de bicicleta e de autocarro"..Desenvolvido pelo Centro de Engenharia e Investigação da Indústria Automóvel (CEIIA), o novo sistema "usa apenas tecnologia nacional" e poderá "ser exportado para outros concelhos." A ideia é criar "mais mobilidade sustentável", "facilitando a vida" dos 210 mil cascalenses e de 1,2 milhões de turistas que visitam o concelho anualmente..A implementação será gradual. Em setembro, a freguesia de Cascais e o Estoril vão receber as primeiras 217 bicicletas e, no mês seguinte, São Domingos de Rama terá ao seu dispor 123. Só em dezembro do próximo ano será coberto todo o concelho. Ao todo, serão 1200 bicas e 2000 "docas" de estacionamento para as bicicletas disponibilizadas pela autarquia e para as dos próprios munícipes, onde será possível carregar as elétricas..Quem optar por usar as bicas terá ao seu dispor um serviço inteligente, com informações sobre o estado do piso, alarme antivandalismo, disponibilidade de lugares e bicicletas, sistema de localização. Até ao final do próximo ano, a autarquia garante 70 quilómetros de ciclovias por todo o concelho, além de 12 autocarros elétricos com novas rotas para ligar os parques de estacionamento, as docas para bicicletas, os terminais dos autocarros e as estações de comboios..Quanto ao investimento, o presidente da autarquia de Cascais, Carlos Carreiras, disse ao DN que entre 2002 e 2016 foram investidos 71,3 milhões de euros em vias de circulação. As bicicletas saíram a custo zero, porque resultaram de parcerias com privados, e os autocarros custam entre 70 e 100 mil euros, mas serão adquiridos "com base nas receitas dos estacionamentos". "É um projeto que se autofinancia", acrescentou..Além de trazer mais mobilidade, este sistema também permite grandes poupanças, destacou o autarca. Uma pessoa que se desloque com um carro a gasolina de Cascais a Lisboa diariamente gasta, em média, 350 euros por mês. De acordo com os cálculos da autarquia, com o novo sistema - usando o carro, mas também o autocarro e o comboio - consegue poupar 250 euros, gastando apenas 101,93 euros por mês..O passe para as bicas, o autocarro e o estacionamento custa 20 euros, mas quem quiser usar só as bicicletas paga dez euros por mês e quem optar por bicicletas e autocarros terá de pagar 12,50 euros. Na apresentação do projeto, Miguel Pinto Luz adiantou que, para já, o novo sistema estará disponível só para os munícipes e, futuramente, será alargado a turistas. Além disso, acrescentou, já há conversações com Oeiras e Lisboa para que o sistema seja interligado..O objetivo é que, no futuro, o passe possa também ser usado na CP, facilitando ainda mais a vida aos munícipes. Segundo o autarca Carlos Carreiras, há ainda a possibilidade de o passe vir a ficar mais barato. "Quanto maior for a adesão, menor será o preço", revelou..Após a apresentação do projeto, o secretário de Estado do Ambiente mostrou-se "esmagado" com a inovação, considerando-o, "provavelmente, um dos melhores sistemas de mobilidade apresentados em Portugal". José Mendes garantiu ainda aos jornalistas que "o governo está a trabalhar na renovação da linha ferroviária de Cascais", embora não saiba pormenores do projeto nem de datas. Uma medida essencial para o autarca Carlos Carreiras, uma vez que este sistema "vai aumentar a utilização da linha, que já se encontra numa situação de grande fragilidade".