Carlo, o "influencer de deus", vai ser o primeiro santo millennial
Um adolescente italiano nascido em Londres e que passou a sua curta vida a espalhar a fé online, ganhando o apelido de “Influencer de deus”, vai tornar-se no primeiro santo millennial da Igreja Católica.
Carlo Acutis, que morreu de leucemia em 2006, aos 15 anos, foi beatificado há quatro anos, depois de o Vaticano ter concluído que ele tinha milagrosamente salvado a vida de outro rapaz, um menino brasileiro, em 2013.
Nesta quinta-feira, o Papa Francisco abriu caminho para a santidade de Carlo ao aprovar outro ato milagroso – uma intercessão (interceder em favor de outro) em nome de uma jovem de Florença que sofreu um grave traumatismo cranioencefálico em julho de 2022.
A mãe de Carlo, Antonia Salzano, descreveu a decisão como uma “grande alegria”, dizendo à Rádio Vaticano que “muitos rezaram por esta canonização”. “Eu não era um exemplo de santidade, mas para mim o Carlo era como um professor, ele era especial, nunca tinha uma reclamação, nunca tinha uma crítica”, afirmou Antonia.
Carlo nasceu em Londres a 3 de maio de 1991, filho de pais italianos, e mudou-se com eles ainda em criança para Milão, onde cresceu interessado em computadores.
“Carlo usou a web como uma ferramenta para a evangelização”, disse Antonia ao jornal italiano La Repubblica, numa entrevista publicada esta sexta-feira.
Também conhecido como o “bem-aventurado da internet” ou “o Ciberapóstolo”, Carlo alertava os seus contemporâneos que a internet poderia ser tanto uma maldição quanto uma bênção.
A mãe do jovem influencer católico disse que ele também ajudou na sua comunidade, distribuindo cobertores e alimentos para sem-abrigo em Milão.
Antonia disse que sempre soube que ele se tornaria um santo: “Ele mesmo me contou, quando apareceu para mim num sonho”.
Os seguidores e amigos do jovem falecido em 2006 já haviam sugerido que Carlo poderia tornar-se no santo padroeiro da Internet – embora essa designação seja já amplamente atribuída ao estudioso do século VII, Isidoro de Sevilha, desde que em 1997 o papa João Paulo II lhe concedeu esse estatuto.
Devido ao seu “importante papel na evangelização através da tecnologia e da internet”, Carlo escolhido como um patrono da Jornada Mundial da Juventude, que no ano passado se realizou em Lisboa.
Os milagres de Carlo
Carlo morreu em 12 de outubro de 2006, em Monza, norte da Itália.
Em 2020, o Vaticano reconheceu o seu primeiro milagre, alegando que o adolescente tinha intercedido postumamente em 2013 para curar um menino brasileiro que sofria de uma doença pancreática rara.
Ele foi beatificado - ou "abençoado" - na cidade italiana de Assis, casa do homónimo do papa, São Francisco, onde Carlo fez várias peregrinações.
Os restos mortais de Carlo foram transferidos para a Igreja de Santa Maria Maggiore em Assis e expostos num túmulo com lateral de vidro.
O seu féretro parecia surpreendentemente real, com o rosto reconstruído e o corpo vestido como vivia, com jeans, ténis e uma sweat desportiva.
O túmulo de Carlo tornou-se um local de peregrinação para muitos católicos e o local do segundo milagre atribuído pelo Vaticano.
De acordo com o meio de comunicação do Vaticano, uma jovem estudante de Florença, Valeria, sofreu um grave traumatismo cranioencefálico em julho de 2022, após cair da bicicleta. Os médicos deram-lhe uma chance muito baixa de sobrevivência, mas a sua mãe, Liliana, natural da Costa Rica, fez uma peregrinação ao túmulo de Carlo para rezar e pedir a sua ajuda – e, naquele mesmo dia, a sua filha começou a respirar sozinha. Em poucas semanas, a jovem recuperou-se, refere o Vatican News.
Num comunicado divulgado quinta-feira, o Dicastério para as Causas dos Santos do Vaticano disse que Francisco autorizou um decreto registando “o milagre atribuído à intercessão do Beato Carlo Acutis”.
Francisco convocará agora uma reunião de cardeais para fixar a data da canonização do primeiro santo da era millennial, termo pelo qual são conhecidos os membros da geração Y, que abrange quem nasceu entre o início dos anos 1980 e meados da década de 1990.