O presidente da Confederação dos Agricultores de Portugal (CAP) afirmou que, "quem for contra a imigração, é contra o desenvolvimento do país", sublinhando que qualquer governo deve passar pela Concertação Social para "ouvir os outros".."É muito importante percebermos todos que quem for contra a imigração é contra o desenvolvimento do país. Isto precisa de ser interiorizado", defendeu Álvaro Mendonça e Moura, em entrevista à Lusa..O antigo embaixador, que assumiu a presidência da CAP no ano passado, destacou a importância dos trabalhadores estrangeiros para setores como a agricultura, turismo ou construção, que dependem desta mão-de-obra "para a sua sobrevivência"..No caso particular da agricultura, o presidente da confederação lembrou que algumas empresas chegam a ter 300 trabalhadores imigrantes, uma vez que em Portugal seria impossível recrutar este número. .Porém, ressalvou que deve haver controlo para que as pessoas sejam contratadas "em boa e devida forma", com contratos de trabalho. .Álvaro Mendonça e Moura destacou que foi a CAP a propor medidas para facilitar a concessão de habitação a trabalhadores migrantes nas empresas agrícolas.."Foi uma proposta da CAP, não foi dos sindicatos [...]. Nós queremos trabalhadores estrangeiros, mas trabalhadores estrangeiros devidamente integrados, com condições de vida dignas e com respeito pelos seus direitos", vincou..O líder da confederação dos agricultores pediu que se evitem populismos, nomeadamente a ideia de que Portugal poderia prescindir destes trabalhadores, o que disse ser "um disparate com gravíssimas implicações económicas"..Da mesma forma, defendeu que "ninguém de bom senso" nega hoje a existência de alterações climáticas e criticou os "extremistas ambientais" que compram arroz da Tailândia e manga do Brasil.."As alterações climáticas estão aí, não é uma questão. Ninguém de bom senso disputa a existência de alterações climáticas, que os agricultores verificam todos os dias", afirmou o presidente da Confederação dos Agricultores de Portugal (CAP), Álvaro Mendonça e Moura, em entrevista à Lusa..Mendonça e Moura notou também que qualquer governo "deve ser obrigado a passar pela Concertação Social" e a discutir com os seus parceiros, lembrando o acordo de reforço dos rendimentos, assinado em outubro de 2023..Através deste acordo foi decidido "um reforço muito significativo" do primeiro pilar (pagamentos diretos) da Política Agrícola Comum (PAC), de modo a que o setor esteja mais próximo dos "parâmetros organizacionais" de Espanha ou França.."Isso nunca tinha sido feito e é muito importante para nós. Está ainda por implementar e por isso eu digo que, seja qual for o governo [...], é essencial respeitar o que foi acordado em sede de Concertação Social", acrescentou..Neste sentido, Álvaro Mendonça e Moura considerou que a Concertação Social deve sempre ser um fórum importante para que as confederações patronais, os sindicatos e o Governo possam ouvir-se, perceber as prioridades e preocupações dos outros..Em outubro de 2023, o governo de António Costa (PS) assinou com os parceiros sociais um reforço do acordo de rendimentos, que subiu para 820 o salário mínimo nacional, com um referencial de aumento para os restantes salários de 5%, acima dos 4,8% anteriormente previstos..Um dos principais pontos deste acordo passou também pelo acréscimo do rendimento das famílias, através da redução do IRS (Imposto sobre o Rendimento de pessoas Singulares), da atualização dos escalões e da isenção do IRS no salário mínimo..Por outro lado, tem por objetivo o incremento da competitividade da economia, com o reforço do regime fiscal de incentivo à capitalização das empresas, do regime fiscal de apoio ao investimento e do aumento dos apoios aos agricultores..O responsável defendeu que o executivo de Montenegro já deu "sinais muito positivos" e que passou 2023 a corrigir erros do Ministério da Agricultura, à data, tutelado por Maria do Céu Antunes (PS).."Este Governo tem dado sinais muito positivos e isso importa reconhecê-lo", assinalou o presidente da CAP, Álvaro Mendonça e Moura, em entrevista à Lusa, destacando o regresso das florestas ao Ministério da Agricultura, compromisso assumido pela Aliança Democrática (AD) durante a campanha eleitoral..Por outro lado, sublinhou que o primeiro-ministro, Luís Montenegro, tem vindo a referir-se à agricultura como "um setor estratégico", algo que, segundo a CAP, já não era ouvido há muito tempo..Assim, os agricultores acreditam haver vontade e orientação política, que esperam agora ver no terreno com medidas concretas..Mendonça e Moura lembrou que o próprio ministro da Agricultura, José Manuel Fernandes, já disse publicamente ser preciso acelerar os pagamentos aos agricultores, introduzir previsibilidade e utilizar todas as verbas disponíveis, nomeadamente os apoios da União Europeia (UE).."Nós já tínhamos alertado o governo anterior para o enorme risco de perdermos verbas, que vão ter que ser executadas até ao final do próximo ano. Falo de executadas, não de decididas. Há aqui uma aceleração no funcionamento do Ministério da Agricultura que é necessária", sublinhou..A CAP já esteve reunida com o novo ministro da Agricultura, que tem demonstrado abertura e vontade de saber as prioridades do setor, apontou, referindo que o governante pediu à confederação que não apresente apenas os problemas, mas também projetos de resolução dos mesmos..Nestes encontros esteve também em cima da mesa o Plano Estratégico da Política Agrícola Comum (PEPAC), que notou ter sido feito sem a auscultação do setor, precisando assim de ser totalmente reformulado e ajustado à realidade portuguesa, um dos pontos que levou os agricultores a sair à rua no início do ano..Para a confederação, a escolha de José Manuel Fernandes para a pasta da Agricultura abriu uma nova porta ao diálogo institucional entre o Governo e o setor agrícola, destacando que o novo ministro tem vantagens face aos seus homólogos europeus, nomeadamente "um conhecimento aprofundado de Bruxelas" e das matérias financeiras europeias.."Nunca achei que o ministro da Saúde tinha que ser um médico ou um enfermeiro [...]. O ministro da Agricultura também não tem de ser um especialista em vinho, cereais ou azeite. Não é esse o ponto. É preciso que perceba a importância e a dimensão do setor também em termos de coesão territorial", disse, recordando que a agricultura, engloba também as florestas e o agroambiental..Álvaro Mendonça e Moura, que foi eleito presidente da CAP em maio de 2023, numa altura em que os seus planos passavam por se dedicar, em exclusivo, aos seus projetos no setor agrícola, depois de estar ligado ao Ministério dos Negócios Estrangeiros, classificou o seu primeiro ano à frente da confederação como "muito difícil", uma vez que, neste período, o setor teve de lidar com uma seca "muito severa", com poucos apoios, e com o "disfuncionamento" do Ministério da Agricultura.."Nunca tínhamos tido uma campanha de ajudas tão má como 2023, que depois se repercutiu em atrasos nos pagamentos. Nós passámos, de facto, os dias a tentar corrigir aquilo que o Ministério [da Agricultura] tinha ou não feito. Foi muito complicado", lamentou..Por outro lado, notou que o Ministério da Agricultura foi "amputado" de um dos seus braços executivos, referindo-se às direções regionais de agricultura, cujas competências transitaram para as Comissões de Coordenação e Desenvolvimento Regional (CCDR), o que insistiu ter que ser revertido urgentemente, à semelhança do que aconteceu com as florestas (que estavam no Ministério do Ambiente)..Em 17 de maio de 2023, a CAP elegeu Álvaro Mendonça e Moura como presidente para o triénio 2023-2025, naquele que foi descrito como "o ato eleitoral mais participado" da história da confederação, sucedendo a Eduardo Oliveira e Sousa, que transitou para a mesa da assembleia-geral..Entretanto, Eduardo Oliveira e Sousa foi cabeça de lista da Aliança Democrática (AD) por Santarém e chegou a ser apontado como ministro da Agricultura, o que acabou por não acontecer..Questionado sobre a possibilidade de concorrer a um novo mandato, Mendonça e Moura disse não fazer previsões, nem estar ainda preocupado com essa possibilidade, mas com o momento "suficientemente sério" que a agricultura portuguesa atravessa.