Candidatos às Forças Armadas aumentaram mais de 30% em 2024
O número de candidatos às Forças Armadas (FFAA) alcançou os 9843 no final do ano de 2024, segundo os dados consolidados do Estado-Maior-General das Forças Armadas (EMGFA) a que o DN teve acesso.
Este valor representa uma subida de 33,8% em relação a 2023, ano em que se apresentaram 7353 jovens que queriam ingressar no Exército, na Força Aérea e na Marinha (ver gráfico), e uma inversão clara na queda de candidatos que se verifica há vários anos.
Não tão evidente, mas igualmente em contraciclo, é a ténue subida do efetivo total de miliares: 23.678 no final do ano passado - mais 68 que em 2023 - mas ainda o segundo número mais baixo nos últimos 10 anos (ver gráfico).
Este valor total inclui os militares dos quadros permanentes no ativo na efetividade de serviço e na reserva (na estrutura e fora da estrutura das FFAA) e os militares com contrato.
“A tendência do recrutamento e a capacidade de retenção dos militares nos três ramos das FFAA está diretamente relacionada com a valorização da condição militar e com o retorno que tem nas suas opções de vida, razão pela qual definimos no início da legislatura, há 11 meses, as pessoas como a primeira prioridade”,
Nuno Melo, ministro da Defesa
“A tendência do recrutamento e a capacidade de retenção dos militares nos três ramos das FFAA está diretamente relacionada com a valorização da condição militar e com o retorno que tem nas suas opções de vida, razão pela qual definimos no início da legislatura, há 11 meses, as pessoas como a primeira prioridade”, sublinha o ministro da Defesa Nacional, Nuno Melo, quando questionado pelo DN sobre os dados do EMGFA.
O governante atribui esta evolução a algumas medidas tomadas. “Sem militares não há Forças Armadas, por muito bem equipadas que estejam, e por isso foram identificadas as áreas em que devia haver maior investimento: aumentámos os salários e diversos suplementos com benefício primeiro, e maior, para praças e sargentos, a grande base das FFAA.
Os suplementos tiveram em vista também as áreas específicas de maior dificuldade, caso dos pilotos da Marinha. Aumentámos o suplemento de serviço aéreo, o suplemento de embarque e, sabendo das dificuldades e custos na habitação, aumentámos o suplemento de residência de forma complementar. Demos outros sinais, como o da recuperação de património que estava devoluto, que será transformado para habitação. Acho que é isso que justifica que os números tenham sido já invertidos”. salienta.
SMO “ainda não se coloca”
O efetivo das FFAA está, ainda assim, bastante longe dos 32 mil definidos no decreto-lei que fixa o número de militares precisos para as necessidades operacionais, tendo em conta entradas e saídas.
Sobre a distância ainda de quase 10 mil em falta, Nuno Melo assinala que se trata “de uma meta a prazo, pois a inversão não se consegue de um dia para o outro. O que, para mim, é relevante é assegurar que, invertida a tendência, o crescimento dos efetivos será persistente até um número que possa coincidir com aquele que, pensado pelo poder político e os militares, é o necessário para assegurar as missões pedidas aos três ramos”.
Questionado pelo DN na Base Aérea de Beja, à margem da cerimónia em que anunciou um segundo simulador para os aviões KC-390 e da despedida de militares da Esquadra 601 que partiram para a missão integrada no Maritime Command da NATO, na Estónia, sobre se no atual contexto geopolítico - na sua intervenção classificou-o de particularmente desafiante “para o nosso modo de vida”, opondo as democracias às opressões - um regresso do Serviço Militar Obrigatório (SMO) pode estar mais próximo, o titular da pasta da Defesa afasta esse cenário.
“O que é muito importante, para mim, é dar as melhores condições possíveis aos militares neste quadro profissional, para que estes que optaram pelas FFAA como destino de vida queiram ficar nas FFAA. E para que a sua substituição seja natural: à medida que uns saem, mais jovens querem entrar”, assevera.
Reconhece que “nenhum de nós poderá deixar de ter em atenção aquilo que o contexto geopolítico possa determinar em relação ao futuro e há vários países aliados na NATO que estão a alterar os seus modelos de recrutamento. Nuns casos numa base que é mista, entre profissional e obrigatório, com experiências que são muito diferentes nesses países. Mas para já, esse cenário não se coloca em Portugal”.
Nuno Melo é cauteloso quanto a prognósticos: “Importante é assegurar que todo o sistema funciona e é autossuficiente. Se há outras possibilidades no futuro, dependem de um destino que nós próprios não queremos, não é? Por isso temos é de ter militares considerados na sua condição, bem remunerados, que queiram ficar e que percebam que as Forças Armadas são um objetivo de vida onde podem cumprir os seus sonhos”.