'Bullying', indisciplina e confronto físico diminuíram nas escolas sem telemóveis
No início do ano letivo de 2024-2025 o Ministério da Educação, Ciência e Inovação (MECI) recomendou a proibição do uso e/ou a entrada de smartphones nos espaços escolares no 1.º e 2.º ciclos e a implementação de medidas que restringissem o seu uso nos restantes ciclos, com resultados positivos na diminuição de confrontos e aumento da socialização. Recorde-se que, no próximo ano letivo, o uso de telemóveis deixará de ser recomendado para ser proibido, do 1.º ao 2.º ciclo, nas escolas públicas e privadas.
Antes das recomendações do MECI, no início do ano 2024/2025, cerca de 40 % das escolas já impunham restrições ao uso de telemóveis. Segundo o MECI, a maioria das escolas aderiu às recomendações, “o que representa um aumento considerável face aos valores apresentados em 2023/2024”. O estudo refere que, após as recomendações do MECI, essa proporção apresentou “um aumento substancial”, abrangendo entre 62,8% e 77,7%” das escolas, principalmente no 1.º e 2.º ciclos. No Ensino Secundário, estas práticas de controlo do uso de telemóveis continuam a ser menos comuns, abrangendo dois terços dos estabelecimentos.
O Governo aplicou um inquérito aos diretores escolares - que obteve 100% de taxa de resposta - e apresentou esta quinta-feira (3 de julho) a análise dos resultados. As principais conclusões indicam que, em 2024/2025, em comparação com o ano letivo anterior, os Agrupamentos de Escolas (AE) que implementaram a proibição do uso de smartphones “percecionaram uma diminuição substancial dos casos de bullying, de indisciplina e de confronto físico”. Nos AE com proibição total do uso de telemóveis no 1.º ciclo, 31% dos diretores referem ter ocorrido uma diminuição nas ocorrências de bullying em recinto escolar. Já nas escolas com políticas de uso livre, apenas 19,5% dos diretores percecionam essa diminuição.
Os estabelecimentos que aderiram às recomendações do MECI, registaram também um crescimento na socialização nos intervalos, uso de espaços de jogos, de utilização da biblioteca e prática de atividade física. A título de exemplo, refere o documento, nos AE que proibiram o uso de telemóveis no 2.º ciclo, 86% dos diretores percecionam um aumento de socialização nos intervalos. Nos restantes AE, apenas 21% dos diretores das escolas com políticas de uso livre avaliam existir um aumento de socialização neste ciclo de ensino.
Socialização nos intervalos com aumento de mais de 80%
Sem poderem usar os seus telemóveis, a socialização entre alunos nos intervalos cresceu de forma significativa em todos os ciclos, com aumento de mais de 80% do 2º ciclo ao Secundário e de 36.9, no 1º ciclo. Nos estabelecimentos com uso condicionado de smartphones também se registou um crescimento na socialização, com números menos expressivos (cerca de 60%).
A redução dos casos de bullying nas escolas com proibição total do uso de telemóveis também é transversal a todos os ciclos. No Ensino Secundário, a redução ultrapassou os 55 %. As ocorrências em recinto escolar, no 3.º ciclo reduziram-se em mais de 57%; no 2.º ciclo, 59% e no 1.º ciclo, 31%. Os resultados são semelhantes no que se refere à indisciplina e ao confronto físico. O isolamento de estudantes também diminuiu nos estabelecimentos com regras rígidas, sendo significativo no 3.º ciclo (menos 71,6%) e no 2.º ciclo (68,6%). No Secundário, a redução ultrapassou os 54%. Já no 1º ciclo, houve uma diminuição do número de estudantes isolados de 44,9%.
O estudo foi realizado pelo PlanAPP — Centro de Planeamento e Avaliação de Políticas Públicas, com base num inquérito a 809 diretores de agrupamentos de escolas públicas.
Maioria das escolas com restrições em 24/25 são de 1º ciclo
De acordo com o documento divulgado pelo ministério, no 1.º ciclo – 78,7% dos AE têm práticas restritivas de proibição de uso de telemóveis dentro do recinto escolar, o que representa um acréscimo de 24 pontos percentuais face ao anterior ano letivo.
Já no 2.º ciclo, 40,9% dos AE têm práticas restritivas de proibição de uso de telemóveis dentro do recinto escolar (mais 30 pontos percentuais).
No 3.º ciclo, 24,9% dos AE têm práticas restritivas de proibição de uso de telemóveis dentro do recinto escolar (um aumento de 17 pontos percentuais face ao ano letivo anterior).
Quanto ao ensino secundário: 7,6% dos AE têm práticas restritivas de proibição de uso de telemóveis, um aumento de 5 pontos percentuais face ao anterior ano letivo.