Mário Sérgio Nuno tem 58 anos e é desde os 23 “agricultor a tempo inteiro”.
Mário Sérgio Nuno tem 58 anos e é desde os 23 “agricultor a tempo inteiro”.Gerardo Santos / Global Imagens

Atividade: vigneron

O evento que Mário Sérgio Nuno vai promover no próximo sábado na adega da Quinta das Bágeiras corporiza na verdade um movimento imparável, recentrando a lavoura e o trabalho da terra na valorização inadiável da produção vitivinícola enquanto charneira do progresso e sustentabilidade da fileira da vinha e do vinho.
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Bairradino dos quatro costados, Mário Sérgio Nuno tem 58 anos e é desde os 23 “agricultor a tempo inteiro”, como ele próprio gosta de se definir. No sábado 22 de junho, no espaço da adega da sua Quinta das Bágeiras, na Fogueira, vão estar reunidos 16 produtores de todo o país onde até 200 pessoas - a capacidade total da adega - vão estabelecer as bases sólidas de um movimento cheio de significado e força. Chamou-lhe “Vigneron, as nossas uvas, os nossos vinhos” e reúne um conjunto de vitivinicultores engarrafadores - tradução de vigneron - que dão corpo a um movimento que visa dar visibilidade a produtores que têm e seguem uma mesma filosofia. O racional por detrás da iniciativa é “criar perspetivas e caminho para poder crescer e sobretudo viver de uma atividade agrícola que é fundamental para o futuro do nosso país”.

Mário Sérgio tem o filho Frederico já a trabalhar consigo, após passar pelo ciclo de formação superior em vitivinicultura e enologia. A celebração recente nos 35 anos da Quinta das Bágeiras, juntamente com a força que lhe deu ter já a geração seguinte a trabalhar consigo, fez Mário Sérgio perceber que o momento de fazer este encontro tinha chegado.

O eternamente jovem bairradino é um mobilizador notável quando se trata de causas que vê como justas e são úteis a todos. Quando há largos anos fundou os que ainda são os Baga Friends, estava em causa especificamente a promoção da casta Baga, sem jamais pretende ser redutor ou instituir-se adversários fosse de quem fosse. “Cada um é livre de fazer o que quer”, explica, “mas certo é que o grupo Baga Friends mantém-se coeso e muitos se lhe juntaram até hoje”

Rebelde com uma causa

Um vitivinicultor engarrafador pode ter um hectare ou 500 hectares de vinha, não se trata de ser pequeno nem grande, apenas da imposição legal e da assunção do estatuto. Ter vinhas suas ou alugadas e produzir os seus próprios vinhos é o que faz do vigneron o que ele é. No decorrer dos anos, Mário Sérgio Nuno apoiou vários produtores a dar os primeiros passos, fazendo-os não temer pelo potencial insucesso, antes centrando-os no valor real que podiam extrair da sua ousadia. A Quinta da Vacariça “é um exemplo claro de como um produtor conseguiu com alguma orientação criar o seu próprio caminho de excelência, em vez de se cingir a vender as suas uvas para quem não ia valorizá-las tanto”. Hoje é uma marca de referência da Bairrada. No Baixo Alentejo, o projeto XXVI Talhas nasceu com o apoio de Mário Sérgio, perante a evidência que encontrou de qualidade excelsa das uvas e a hesitação em dar o passo em frente e assumir-se como produtor. Hoje é uma referência incontornável no sector.

“Desde os 23 anos que sou agricultor a tempo inteiro”. Mário Sérgio é perentório neste aspeto, e aprendeu cedo que a sua atividade assenta no conceito simples de produzir, transformar e comercializar aquilo que produz. Há que ser simples na abordagem conceptual para que o caminho se torne ele próprio simples. “Quando comecei, era produtor engarrafador”, explica para logo expor: “eis senão quando a designação passou para as adegas cooperativas, e nós passámos a ser vitivinicultores engarrafadores”.

Acontece que a lei estipula que estamos impedidos de comprar uvas ou vinhos para acrescentar às nossas produções. O negociante tem liberdade negocial mas Mário Sérgio prefere ater-se ao estatuto redentor de vigneron, fazendo os seus vinhos com as suas uvas. O efeito imediato da abordagem que Mário Sérgio advoga é a valorização da produção de cada um, protegendo-a. A ideia de produzir mais recorrendo à compra de uvas no mercado é “uma falácia que pode levar a situações complexas que no fundo deixam o produtor nas mãos dos seus fornecedores, o que não faz sentido”.

Além da situação de injustiça a que actualmente se assiste. “Custa-me mais produzir um quilo de uva do que o preço que os negociantes pagam”.

Acrescenta: “Aprendi na região de Champagne a diferença subtil entre négociant e vigneron”: o primeiro anda de Mercedes, o segundo tem um Mercedes”. E tudo tem um objectivo, no mapa mental de Mário Sérgio: “Quando a minha região conseguir criar valor com a agricultura, eu vou ficar muito satisfeito”. O movimento que agora se desenha vai fazer com que o agricultor tenha mais visibilidade. Mário Sérgio revela o seu grande objetivo: “unir a classe, valorizando-a”. No próximo dia 22 de junho (sábado), todos à Quinta das Bágeiras!

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