AstraZeneca. Portugal vai recomendar vacina para pessoas acima dos 60 anos

À semelhança de outros países da União Europeia, Portugal vai impor um limite de idade para a administração da vacina da AstraZeneca. Esse limite deverá ser os 60 anos, já que o Infarmed numa circular informativa publicada hoje justifica que casos tromboembólicos ocorreram em pessoas até essa idade. Direção-Geral da Saúde deve anunciar ainda hoje nova alteração
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Portugal vai juntar-se a Espanha e aos Países Baixos ao aceitar que a vacina da AstraZeneca seja só usada em pessoas com mais de 60 anos. Esta alteração aos critérios da vacinação surge na sequência do anúncio da Agência Europeia do Medicamento (EMA), nesta quarta-feira, de que há uma relação entre a administração da vacina e os fenómenos tromboembólicos em pessoas com menos de 60 anos.

A Circular Informativa 43/2021 publicada hoje pela autoridade do medicamento em Portugal, dá conta de que os 62 casos de trombose dos seios venosos cerebrais e os 24 casos de trombose esplâncnica, 18 dos quais fatais, ocorreram em pessoas com menos de 60 anos. Aliás, os casos relatados à EMA através do sistema de farmacovigilância dos países da UE são, na sua maioria, de mulheres entre os 18 e os 60 anos nas duas semanas seguintes à vacinação.

Neste sentido, e de acordo com o que pode apurar o DN, o limite de idade deverá fixar-se nos 60 anos, à semelhança do que já anunciaram também outros países, como Espanha e Holanda, durante esta semana. Itália e Bélgica foram dos países que optaram por impor a vacinação para pessoas acima dos 55 anos.

De acordo com o que apurou o DN, a Direção-Geral da Saúde (DGS) deverá anunciar ainda hoje esta nova alteração aos critérios do Plano de Vacinação contra a covid-19 e após reunião da Comissão Técnica de Vacinação.

Na circular informativa, o Infarmed sustenta que as conclusões a que o grupo de peritos da EMA chegou, após ter analisado minuciosamente todos os casos relatados, é que existe uma possível ligação entre a administração da vacina e a possível formação de coágulos sanguíneos invulgares combinado com um nível baixo de plaquetas e que este efeito indesejável deve ser incluído no folheto informativo da vacina.

No mesmo documento, o Infarmed refere ainda que - apesar de este efeito ter sido detetado num número muito de baixo de pessoas vacinadas na UE, os casos que surgiram até ao dia 22 de março, quando já tinham sido vacinadas 25 milhões de cidadãos da UE - as pessoas vacinadas que tenham alguns dos seguintes sintomas duas semanas após a vacinação, falta de ar, dor no peito, inchaço de pernas, dor abdominal insistente, dores de cabeça intensas, visão turva ou pequenas manchas na pele, devem procurar de imediato assistência médica.

O Infarmed reforça ainda que os profissionais de saúde que estão na administração de vacinas serão informados das alterações que vierem a ser definidas para Portugal e que devem estar atentos aos sintomas dos utentes informando-os do que devem fazer.

Recorde-se que Portugal defendeu esta semana, através do primeiro-ministro e da ministra da Saúde, de que qualquer posição sobre a vacina da AztraZeneca deveria ser tomada em conjunto e por todos os países da UE. Simplesmente, logo na quarta-feira, e após a EMA ter divulgado a sua posição, houve países que anunciaram de imediato a imposição de limites de idade.

Ao DN, um especialista em vacinas explicou que quando assim é, "ou seja, quando há países que começam a tomar as suas decisões, depois é muito difícil chegar-se a um consenso do que deve ser feito". Neste caso, por exemplo, em relação aos limites de idade que devem ser aceites. Daí que haja países como Itália e Bélgica, que, provavelmente, compraram mais vacinas da AstraZeneca tenham estabelecido um limite de idade diferente, 55 anos, para não terem grandes alterações aos seus planos de vacinação. No entanto, e segundo explicou o mesmo especialista, este limite também é aceitável, já que a maioria dos casos ocorreu até aos 50 anos.

Até agora, Portugal é dos países da UE em que foram reportados menos casos deste tipo. A explicação pode estar no facto de sermos apenas dez milhões e de os fenómenos tromboembólicos, terem em ocorrido na administração da vacina num universo de muitos milhões de vacinados. E, como explica o especialista, "em Portugal estão também a ser administradas as vacinas da Pfizer e da Moderna. A da AstraZeneca ainda só foi administrada a algumas dezenas de milhaes de pessoas".

A questão é que os episódios relativos à administração da vacina investigada pela Universidade de Oxford e pelo laboratório AstraZeneca está a suscitar dúvidas e receios junto da população.

No início da sua utilização, houve países que a suspenderam por não haver resultados suficientes que indicassem eficácia nas faixas etárias a partir dos 65 anos. Mas, e segundo explicaram ao DN, "apenas porque nos ensaios clínicos feitos não havia muita população destas faixas etárias".

Mas os peritos da EMA voltaram a analisar os resultados obtidos nos ensaios e concluíram que a vacina era eficaz e segura para as faixas etárias mais velhas, a partir dos 65 anos. Agora, há a situação dos fenómenos tromboembólicos e a vacina, por uma questão de precaução de efeitos indesejáveis, deverá ser recomendada pelos países para as faixas etárias mais avançadas.

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