A Associação Coração Silenciado, que reúne vítimas de abuso sexual na Igreja Católica, manifestou esta segunda-feira, 1 de dezembro, “preocupação e indignação” com o processo de análise e compensação financeira, lamentando a falta de informação sobre o montante global a atribuir.“A Associação Coração Silenciado manifesta profunda preocupação e indignação perante a condução do processo de análise e compensação das vítimas de violência sexual no contexto da Igreja Católica Portuguesa”, precisa em comunicado, acusando a Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) de falta de “transparência e responsabilidade”.A associação sustenta que, “a cada nova etapa, torna-se mais evidente um padrão de opacidade, lentidão e desrespeito pelas pessoas que sofreram abusos” e lamenta que, até ao momento, não tenha sido "divulgada qualquer informação quanto ao montante global disponível para a reparação das cerca de 90 pessoas já reconhecidas pela Igreja”.O comunicado da associação surge após o Grupo VITA, criado pela CEP para acompanhar as situações de abuso sexual na Igreja Católica, ter divulgado na quinta-feira em Fátima que o número de pedidos para indemnizações aumentou para 93 e que o processo de análise e entrevistas deverá estar concluído no início de 2026 para que depois a CEP avance para a atribuição das compensações.A Associação Coração Silenciado exige que as vítimas tenham acesso “imediato e integral aos pareceres que lhes dizem respeito, que o processo de compensação se torne plenamente transparente, digno e centrado nos sobreviventes, e que a Igreja Católica em Portugal ponha termo à cultura de ocultação que continua a comprometer a verdade e a justiça”.“A reparação não pode ser uma farsa administrativa. Tem de ser um ato de responsabilidade, coragem e respeito pelas vidas destruídas”, salienta, considerando que “o processo tem avançado com uma lentidão que, para as vítimas, se traduz em ansiedade, desgaste e retraumatização”.Segundo a associação, as entrevistas foram feitas “de forma excessivamente inquisitorial sem acesso a telemóveis, caneta ou papel por parte das vítimas, obrigando a repetir os mesmos relatos em sessões que chegaram a prolongar-se por oito horas”.Em 13 de novembro último, a CEP anunciou que, até àquele dia, tinham sido apresentados 89 pedidos de compensação financeira na sequência de abusos na Igreja Católica, tendo 78 sido considerados efetivos.Na quinta-feira, a coordenadora do Grupo VITA, Rute Agulhas, afirmou que “efetivados não significa que vão, necessariamente, receber uma compensação”, estando os 93 processos em análise e estudo e, em algumas destas situações, ainda se aguardar informação por parte da própria Igreja.A responsável disse ainda que não foi pedida ao Grupo VITA uma sugestão de montante financeiro para as indemnizações, mas sim “uma análise um pouco transnacional”, para perceber “o que é que aconteceu nos demais países”.Cruzando essa informação com a jurisprudência nacional, Rute Agulhas acredita que se chegue a valores para a compensação financeira.O Grupo VITA, criado pela CEP para acompanhar as situações de abuso sexual na Igreja Católica, apresenta-se como uma estrutura autónoma e independente, que visa acolher, escutar, acompanhar e prevenir as situações de violência sexual de crianças e adultos vulneráveis no contexto da Igreja Católica..Pedidos de indemnização por abusos sexuais na Igreja Católica sobem para 93