Associações preferem valorização da carreira ao regresso do Serviço Militar Obrigatório

Associações preferem valorização da carreira ao regresso do Serviço Militar Obrigatório

Paulo Amaral, da Associação de Praças, manifestou dúvidas sobre se um eventual regresso do Serviço Militar Obrigatório resolverá a crise de efetivos que esta área de soberania atravessa e mostrou-se favorável a um modelo que incuta nos mais jovens "o espírito da Defesa Nacional e das Forças Armadas".
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As associações militares defenderam esta segunda-feira a valorização das carreiras como forma de resolver a atual crise de efetivos nas Forças Armadas, ao invés de uma eventual reintrodução do Serviço Militar Obrigatório.

Em declarações à agência Lusa, o coronel António Mota, presidente da Associação de Oficiais das Forças Armadas (AOFA), defendeu que, numa altura em que o serviço militar já é "praticamente todo profissional", a prioridade é "olhar para as condições remuneratórias, as carreiras, o apoio na doença e resolver esses problemas".

"Isso é que vai fazer com que a retenção e o recrutamento aumentem bastante", respondeu, questionado sobre a possibilidade de se estudar a reintrodução do Serviço Militar Obrigatório (SMO), hipótese defendida recentemente pelos chefes militares da Armada, almirante Gouveia e Melo, e do Exército, general Mendes Ferrão.

Salientando que a AOFA não tem uma posição fechada sobre o tema, e que teriam que ser analisados os moldes no qual esse eventual serviço iria decorrer, o coronel afirmou que a associação "à partida é contra" e alertou para as "despesas colossais" que estariam em causa com uma rotatividade regular de recrutas.

O coronel alertou ainda que um recruta precisa de tempo para adquirir conhecimentos e ficar operacional, o que obrigaria a "pelo menos um ano em recruta".

"Em termos operacionais, as pessoas seriam aproveitadas dois meses ou três. (...) Era empolado o número de efetivos, mas numa falácia porque não é a mesma coisa termos uma pessoa operacional durante três meses ou seis meses, ou ter uma que é dos quadros", avisou.

Na mesma linha, o presidente da Associação Nacional de Sargentos (ANS), António Lima Coelho, pediu que este debate "não sirva para desviar o foco da atenção do que são os problemas reais, urgentes e que carecem de solução imediata. E que qualquer dicussão sobre um qualquer hipotético SMO não vai resolver de concreto".

O sargento questionou porque é que esta discussão surgiu agora, e não durante o período de campanha eleitoral para as legislativas e deixou interrogações sobre o modelo de um eventual regresso do serviço militar obrigatório.

"Se é o que esteve em vigor no início dos anos 2000, quatro ou seis meses, não faz qualquer sentido. Se é um modelo idêntico ao que existia no tempo da Guerra Colonial, não faz qualquer sentido. Se é uma qualquer ideia para tapar buracos ou para não deixar de cumprir os privilégios ou mordomias que algumas estruturas superiores têm, e para isso precisam de praças, também não faz sentido", considerou.

O responsável defendeu um serviço militar "ou outro qualquer que traga aos cidadãos a noção de servir o país e não de se servir do país". No entanto, salientou que este não é o tempo para um debate que não deve ser feito "a correr" e que deve envolver toda a sociedade, não apenas os militares.

Também o cabo-mor Paulo Amaral, da Associação de Praças (AP), alertou que esta discussão "não pode fazer esquecer" questões como a melhoria dos salários dos militares, das condições de habitabilidade nas unidades ou a valorização das carreiras.

O responsável manifestou dúvidas sobre se um eventual regresso do SMO resolverá a crise de efetivos que esta área de soberania atravessa e mostrou-se favorável a um modelo que incuta nos mais jovens "o espírito da Defesa Nacional e das Forças Armadas".

No debate das rádios, no âmbito da campanha para as legislativas de março, há cerca de um mês, o presidente do PSD e primeiro-ministro indigitado, Luís Montenegro, afirmou que o partido não punha "em cima da mesa o regresso do SMO", mas sim "um sistema de incentivos" ao recrutamento.

Na mesma linha, o secretário-geral do PS, Pedro Nuno Santos, rejeitou o regresso de um Serviço Militar Obrigatório, defendendo a atratividade da carreira militar.

O Serviço Militar Obrigatório terminou em 2004. O seu fim foi aprovado em 1999, por um executivo liderado pelo socialista António Guterres, ficando estabelecido um período de transição de quatro anos.

A passagem para a profissionalização ficou concluída em setembro de 2004, dois meses antes da data prevista, 19 de novembro, com o centrista Paulo Portas como ministro da Defesa.

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