"É como um íman para as organizações criminosas, gerador de elevados lucros”, sublinha ao DN Artur Vaz, diretor da Unidade Nacional de Combate ao Tráfico de Estupefacientes (UNCTE) da Polícia Judiciária (PJ), pouco depois de terminar uma conferência de imprensa onde divulgou alguns pormenores da última grande apreensão de 6,5 toneladas de cocaína, em duas operações..Desde o início do ano, até este momento, a PJ apreendeu mais de 17 das 18 toneladas desta droga (a restante foi por outros órgãos de polícia criminal), uma quantidade que se aproxima a passos largos das 21,7 toneladas do ano passado (mais 31,4% que no ano anterior), de acordo com o relatório de 2023 sobre o Combate ao Tráfico de Estupefacientes em Portugal, a quantidade mais elevada apreendida pelas autoridades na última década e meia. As 18 toneladas deste ano já são a segunda maior quantidade confiscada desde há 15 anos..“Continua a chegar muita, mesmo muita cocaína à Europa”, reconhece Artur Vaz. Este tipo de narcotráfico tem origem, principalmente, em países da América do Sul, com destaque para o Equador, Costa Rica e Colômbia, mas também se começam a destacar alguns países da África Ocidental, como é o caso da Guiné Bissau..O Brasil continua a ser um ponto de trânsito, embora comece a perder alguma relevância para o Equador..Em relação à apreensão anunciada ontem - uma operação que também contou com a colaboração da Autoridade Tributária e Aduaneira, que tem competências nos portos marítimos, tendo sido o Porto de Setúbal a porta de entrada de um dos contentores envolvidos -, o diretor da UNCTE atestou que a cocaína veio também da América do Sul, mas não quis divulgar o país de origem “por motivo de reserva da investigação”..Os suspeitos narcotraficantes que tinham tentado colocar no circuito comercial europeu as 6,5 toneladas de cocaína são, maioritariamente, portugueses - três foram detidos pela PJ - e comandavam as operações a partir da Região de Lisboa, com ligações a cúmplices no país de origem..A investigação foi iniciada há cerca de meio ano e em junho passado a PJ “havia já apreendido mais 2952 quilogramas de cocaína num armazém na Região de Lisboa, pertencente a uma empresa que legalmente havia importado de um país da América Latina vários contentores com fruta, onde a droga vinha dissimulada, empresa essa que era alheia a todo o esquema criminoso”..Em comunicado, a PJ adiantou que, no âmbito do mesmo inquérito, esta semana foram apreendidos cerca de 3600 quilogramas de cocaína, num armazém na Região Centro do país, droga essa que havia chegado dias antes por via marítima no interior de um contentor de farinha de soja, com a mesma origem..Caso as 6,5 toneladas de droga chegassem aos circuitos de distribuição, seria suficiente para a composição de, pelo menos, 65 milhões de doses individuais de cocaína..De acordo com o responsável da UNCTE, esta droga “tinha por destino outros países do continente europeu”, salientando que a responsabilidade por todas estas importações “é de uma rede criminosa transnacional, com ligação a vários países, que tem capacidade para fazer grandes importações de droga e depois distribuir pelo continente europeu”..Ao DN, Artur Vaz salientou que, em relação a 2023, se mantêm as principais tendências, quer na já mencionada origem, quer no transporte - “a via marítima e os contentores continuam a ser os preferidos” - para fazer entrar a cocaína na Europa, onde, apesar de a procura se ter intensificado, o preço é ainda significativamente mais elevado do que noutras zonas. “Continua a ser um mercado muito apetecível”, afiança..Este alto quadro da PJ assinala ainda que, além das elevadas quantidades de cocaína confiscadas e prontas a serem comercializadas, “têm sido também apreendidos alguns volumes de cocaína ainda em pasta, que são depois transformados em laboratórios próprios, como os três que a PJ já desmantelou no nosso país”..Uma destas operações aconteceu esta semana em Santa Maria da Feira e levou à detenção de três suspeitos - dois estrangeiros e um português -, que ficaram em prisão preventiva. Em comunicado, a PJ esclareceu que a investigação conseguiu obter “a localização de um armazém isolado, em Santa Maria da Feira, no qual funcionava um ‘laboratório’, de dimensões consideráveis, destinado à transformação de pasta de coca em cloridrato de cocaína”..No decurso das diligências realizadas na Operação Tártaro, nomeadamente em várias buscas domiciliárias e não-domiciliárias, procedeu-se, ainda, à apre- ensão de diversos automóveis de alta gama.