Operação Marquês, Operação Aquiles, Operação Fizz, processos de Tancos (desaparecimento de armas dos paióis), Hells Angels, EDP, Monte Branco, BES, entre outros..Esta lista é uma pequena parte do currículo de Amadeu Guerra, o magistrado que durante vários anos foi o rosto da luta contra a corrupção em Portugal, um rosto pouco conhecido pois sempre preferiu o anonimato (possível) à exposição pública. Anonimato esse que agora vai ser difícil de manter com a nomeação, esta sexta-feira, para Procurador-Geral da República, cargo no qual vai substituir Lucília Gago, iniciando funções no dia 12 de outubro..Mas a verdade é que este beirão, nascido em Tábua (Coimbra) a 6 de janeiro de 1955, foi uma figura incontornável na justiça, tendo liderado durante seis anos o Departamento Central de Investigação e Ação Penal (DCIAP), o setor do Ministério Público que investiga a criminalidade altamente organizada..A passagem por este departamento terminou em janeiro de 2019 quando foi nomeado procurador-geral regional de Lisboa substituindo Maria José Morgado..Uma escolha que, segundo as notícias da altura, terá sido feita por 12 membros do Conselho Superior da Magistratura, enquanto outros sete preferia a inspetora Paula Peres, indicada pela atual Procuradora-geral da República, Lucília Gago..Pouco dado a mediatismos, de Amadeu Guerra escreveu-se que é leal, competente e, claro, discreto..Um dos exemplos apontados quando se refere a sua lealdade é uma atitude que terá tido durante a investigação ao antigo primeiro-ministro José Sócrates quando os prazos da investigação ficaram em risco de não serem cumpridos. Na altura não terá aceitado uma sugestão da Procurador-geral da República Joana Marques Vidal para retirar o processo ao procurador Rosário Teixeira. Amadeu Guerra recusou, pois o magistrado levou a investigação até à acusação..Jubilado desde 7 de julho de 2020 (quando saiu em Diário da República o despacho com a decisão de “Desligamento do serviço por motivo de aposentação/jubilação do procurador-geral Regional de Lisboa”), Amadeu cessou nessa altura 40 anos de ligação ao Ministério Público, na altura já estava há alguns meses de baixa..Licenciado em Direito pela Faculdade de Direito de Coimbra esteve ligado ao Ministério Público cerca de 40 anos, desempenhou funções em vários tribunais, por exemplo, o Tribunal de Trabalho de Lisboa e o 3.º Juízo Criminal de Lisboa, onde esteve durante três anos..Entre 1994 e março de 2006, foi vogal da Comissão Nacional de Proteção de Dados (CNPD), e a partir de 2021 integrou a Comissão de Acesso aos Documentos Administrativos..Durante o período em que esteve na comissão apresentou, com o então juiz desembargador Varges Gomes, uma queixa-crime contra o presidente da CNPD por acesso indevido a dados pessoais e transgressão de segredo profissional. Passado um mês desta denúncia, em novembro de 2000, surgiu outra contra João Labescat..Antes de sair da CNPD, em 2002, alertou para algumas lacunas no Código do Trabalho sobre a utilização do correio eletrónico e da internet no local de trabalho, tendo escrito sobre o tema, publicando, por exemplo, um livro com o título “A privacidade no Local de Trabalho”..Quatro anos depois demitiu-se da comissão após denunciar o controlo das chamadas telefónicas no seu trabalho entre janeiro e fevereiro de 2005, isto numa altura em que já tinha sido promovido a procurador-geral adjunto, o que aconteceu em junho de 2004..A sua missão seguinte foi a coordenação do Tribunal Central Administrativo Sul, onde a partir de setembro de 2008 liderou uma equipa de magistrados..Exerceu vários cargos ao nível da União Europeia em organismo como o Grupo de Trabalho de Polícias, a Autoridade de Controlo Comum e a Instância Comum de Controlo da Europol..Fora do percurso profissional, sabe-se que Amadeu Guerra, o segundo de cinco irmãos, é benfiquista, mas pouco expansivo..Discrição que foi mantendo durante as investigações aos processos mediáticos já referidos e que culminaram, por exemplo, com a acusação a José Sócrates; com a acusação ao procurador Orlando Figueira na Operação Fizz, na absolvição do ex-ministro da Administração Interna Miguel Macedo, envolvido no caso dos Vistos Gold e na condenação ao antigo funcionário do Serviço de Informação e Segurança Carvalhão Gil que foi condenado, em 2018, a sete ano e quatro meses de prisão por ter entregado informação confidencial a um agente russo em Roma em maio de 2016..Amadeu Guerra foi também uma das vítimas de Rui Pinto, o hacker que esteve na origem do Football Leaks e do Luanda Leaks. Durante o julgamento do processo por crimes de acesso indevido a dados e violação de correspondência, Rui Pinto confirmou que tinha entrada no computador do novo PGR e acedido à caixa de correio.