Estado da nação? Dá para todos os lados: o bom e o mau. Há quem veja o copo meio cheio e meio vazio. Pelo lado do Estado da Economia - e muito dele deve-se não a uma ação governativa, mas à iniciativa privada, nomeadamente ao setor de exportação de bens ou de serviços, no caso do turismo -, vemos que o Estado da Nação é positivo, o crescimento foi significativo no 1.º semestre. E isso deve-se, de facto, a uma atividade muito intensa do setor privado e com muita energia..Agora, se olharmos para o lado do Governo, como Governo da Administração Pública, aí já vemos o copo meio vazio, porque não há português nenhum que goste de ver o nível do copo na Educação, Saúde e investimento público..Portanto, digamos que até naquela nossa empresa emblemática TAP, acho que olha-se para o Estado do Governo e até pela formação da equipa governativa, percebemos que aquilo não foi bem feito. É uma equipa que ainda estamos num quarto do jogo, na primeira metade da primeira parte do jogo e já um quarto da equipa foi substituída praticamente. Isso significa que foi muito mal escolhida no início. E atenção, saídas com lesões feias, coisas complicadas, em que as pessoas saem muito abanadas, muito machucadas..Dívida? Dívida é um problema que criámos e que vamos passar à geração seguinte, porque não há hipótese de a limparmos sem ser à custa de um sofrimento muito grande. E portanto, se continuarmos paulatinamente a fazer o exercício de, digamos, amortizar a dívida - e não é só a dívida pública, é a dívida também privada -, temos de criar uma forma de o resolvermos com sensatez, para não o transformarmos num enorme problema que a geração seguinte não consegue resolver, por um lado (e, portanto, entrar em incumprimentos); e, por outro, porque é injusto fazê-lo recair todo na atual geração, particularmente a que se vai apresentar agora, pelo que temos de ter algum cuidado..Porque esta geração que se vai apresentar sofre um problema muito sério, que é: como é que no final da sua vida útil vai conseguir pagar a dívida, reinvestir, preparar a sua apresentação poupando para um fundo que não existe, sabendo que a geração subsequente é menor em quantidade do que a atual?.Portanto, vamos ter aqui um problema muito sério do ponto de vista da integração das gerações, daquela que está a apresentar-se, e que depois vai durar muito mais tempo em sobrevida, para além da apresentação, espera-se. Assim, vejo a dívida como um problema sério para se resolver com muita calma e com as partes interessadas sentadas à mesa, isto é, os mais novos, os de meia-idade e os mais envelhecidos..Contas certas, sim ou não? Sim, sim, sempre, sempre. Aliás, a dívida é o resultado de contas não-certas. Se bem que, como diz Manuela Ferreira Leite, e com muita razão, ela não sabe o que não são contas certas, porque ela sabe fazer as contas. 3x6 são 18, e, portanto, as contas, a soma das parcelas do orçamento estão sempre certas, naturalmente que essas contas estão certas..O que se quer dizer com contas certas é orçamentos equilibrados, balanceados, em que a despesa não supera a receita ou não a supera a ponto de tornar insustentável a dívida e o esforço. Portanto, contas certas, sem dúvida: ao nível do Estado, das empresas e a nível pessoal..BCE? BCE é uma aventura absolutamente extraordinária, e estou a falar do BCE como banco central do euro. Acho que isso foi uma aventura absolutamente extraordinária, porque nós, quando trocámos os nossos escudos por euros, íamos todos contentes, porque íamos ter uma coisa que era marcos. Não eram bem marcos, mas eram marcos, ou aproximada aos marcos..Agora, as pessoas não imaginam a cara dos alemães a largarem os seus marcos para irem buscar uma coisa que era uma fusão de várias moedas que tinham lá escudos, pesetas, liras. E por isso é que digo que é uma aventura absolutamente extraordinária, onde países que lutaram, e com profundas diferenças políticas entre si na Europa, há 50 anos, que confrontaram, que se mataram, que praticamente exterminaram gerações, de jovens no campo de batalha, como os alemães, os franceses, os italianos, os ingleses, e por aí fora, mas que lutaram na Segunda Guerra Mundial, e que depois vão e criam - deixando os britânicos de fora - essa moeda..Essa moeda, do ponto de vista político, é uma perda gigantesca de poder, que é cedido a uma entidade supranacional que não é federal, não tem um governo forte, mas tem uma moeda forte. A moeda europeia é muito mais forte que o governo europeu. E por isso é que é uma aventura absolutamente extraordinária. Vamos ver no que dá. Espero que dê bom resultado..Esquerda ou Direita? As duas são muito importantes, gosto muito das minhas duas mãos. Não conseguiria viver sem ambas. Fazem um excelente equilíbrio e mesmo quando uma não está a agarrar o objeto, é bom que a outra esteja a criar tensão, pressão, para que a que está a agarrá-lo mantenha a sensação de que o objeto não é meu e tenho de zelar e fazer o melhor possível para o manter na mão. Porque quando a minha mão está cansada, vai a outra substitui-la naquele lugar. É isso mesmo. As duas são muito importantes. E a diversidade é que faz o progresso..E a liberdade, o que é? É tudo. Acho que é o ativo mais importante que um homem pode desejar ter. E em todos os campos. A liberdade para escolher, a liberdade para escolher o sítio que quer, onde quer viver, o regime em que quer trabalhar ou viver, o sistema político. A liberdade para pensar, a liberdade para exprimir as opiniões, a liberdade para estudar o que se quer. A liberdade é o ativo. A liberdade de ser religioso ou não religioso, de acreditar em Deus ou não acreditar em Deus. A liberdade é tudo. No dia em que nós perdemos a liberdade, é o dia em que não somos um ser humano..Ensino Superior? Está muito indefinido. E porquê? Porque não me parece que exista uma visão muito clara sobre qual é o objetivo do Ensino Superior em Portugal. Agora está em discussão uma forma de financiar o Ensino Superior que fico espantado como é apresentada por uma ministra que é investigadora. Quando o ensino superior é proposto que seja financiado em função de um número de alunos, todos menos aqueles que não fazem investigação. Quer dizer, a proposta de financiamento do Ensino Superior é feita com base no número de alunos das instituições, descartando o investimento que se faz em investigação e até os alunos de doutoramento. Mas então, o que é o Ensino Superior? O Ensino Superior é suposto ser um ensino que está próximo dos centros que adensam o conhecimento. E é por isso que as universidades são obrigadas a fazer investigação. Então e não se olha para a investigação como forma de remuneração e de diferenciação das instituições? Alguma coisa está mal aqui..Um desporto? Fiz ginástica durante muitos anos, fiz muitos amigos, aquelas fortíssimas amizades que fiz na vida estão ligadas aí. Casei-me na ginástica e, portanto, a ginástica para mim foi uma modalidade absolutamente vital. Viajei imenso, fiz saraus e também competição: fiz trampolins e fui Campeão Nacional por equipas, pelo Sporting..Mais tarde mudei e fui fazer ginástica para o Ateneu, que representei também numa exibição internacional, e tive muito gosto nisso. A ginástica deu-me a possibilidade de ver o mundo e de partilhar muitas emoções com muitos amigos..E, portanto, esse é um desporto que acho muito bom e muito saudável. Desde que seja feito com peso, conta e medida. Acho que exagerei um pouco do sal e da pimenta nesse desporto e hoje sofro um bocadinho as custas dessa sobre-exposição, mas quando se é novo, não se pensa tanto..Livro, prosa ou poesia? As duas coisas. Sou signo Gémeos, embora não acredite nisso, mas confesso que gosto da área analítica, gosto da área literária, portanto, gosto de matemática, gostava muito de português, gostava muito de duas disciplinas que, normalmente, muitas pessoas acham que são incompatíveis..Dentro da literatura, gosto muito de ambas. Não recito, mas gosto imenso de ler poesia e não consigo escolher uma. Escrevo prosa e poesia, e também não consigo escolher. É como a esquerda e a direita, as duas é que fazem exatamente o condimento certo..Férias ideais? Muitos amigos, muita família e sítios onde se possa apanhar muito sol, poder mergulhar no mar e também comer muito bem e beber melhor. Esse é um tipo de férias que, desde que se consiga tudo, é absolutamente fantástico. Portanto, ter a possibilidade, um dia, de pagar umas férias gigantescas e vamos todos, uma semana pelo menos, e divertir-nos seria ideal..Também podia ser na neve, não me importa absolutamente nada. Mas como estou mais habituado ao nosso país, tenderia a escolher praia, até porque acho que mergulho melhor do que esquio e, portanto, sinto-me mais à vontade na praia do que na montanha.