João Alpuim Botelho: "O manguito perdeu a obscenidade e transformou-se num gesto de revolta"

10 perguntas à queima-roupa, 10 respostas na ponta da língua. Nesta rubrica, o DN desafia personalidades a comentar assuntos quentes do país e do verão. Hoje é a vez de João Alpuim Botelho, diretor do Museu Bordalo Pinheiro.
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Estado da nação.
É engraçado porque, em geral, é debatido, portanto, não é um estado único, tem várias perspetivas. Está num momento de grande evolução porque, por um lado, existem dados muito bons em relação a económicos, por outro, vemos que as pessoas na rua estão muito sofredoras e que falta dinheiro, faltam coisas essenciais como a habitação, a saúde, a educação. Portanto, há uma grande expectativa para ver qual é o próximo passo desse debate entre as coisas boas e as coisas más.

Estado da cultura.
É muito bom, porque a cultura tem uma força muito grande, há fantásticos criadores, há pessoas a fazer coisas notáveis, há um reconhecimento nacional e internacional muito bom, o que faz com que o estado da cultura seja muito, muito, muito prometedor. Há um reverso da questão, como em tudo, que são os apoios à cultura, que não são, como provavelmente nunca poderão ser, aqueles que se desejam.

OE 2024: Um desejo...
Se calhar, na sequência disto, que o Orçamento de Estado para a cultura seja reforçado. Acho que era um bom desejo, nomeadamente no caso dos museus, com a criação agora da nova empresa e instituto para gerir museus e património em geral, que haja esse reforço.

Liberdade o que é?
É uma força criadora. Quando se cortam, se quebram as liberdades, o que se quebra é essa força criadora, não deixar as pessoas agir de acordo com a sua vontade, com a sua força, com as suas capacidades e enjaulá-las, encaixá-las em coisas mais pequenas. A liberdade é uma força criadora. É mesmo o mais importante da liberdade.

Missão da sua vida?
Não tenho uma grande missão. Espero ser boa pessoa no dia a dia, mas não acredito que haja uma grande missão. Acho que há pequenas missões espalhadas ao longo do dia. São pequenas missões, pequenas coisas a cumprir e a cumprir bem. É essa a grande missão.

Humor?
O humor é uma coisa intrínseca ao homem, só o humor e o riso são intrínsecos ao homem, só o homem se riu, só o homem tem humor. E o humor está muito ligado à inteligência, porque o humor é uma expectativa de que uma coisa corra num determinado sentido e depois há um jogo intelectual que faz com que ela não aconteça exatamente dessa maneira. Mas o humor também tem esse poder, pela inteligência. de desmascarar e de desmontar as coisas e é, sobretudo, um grande antídoto contra o medo.

Manguito ou outros gestos?
O manguito, claro. O manguito é um gesto que Rafael Bordalo Pinheiro popularizou, não foi ele que o inventou, porque é um gesto mediterrâneo que vem do tempo dos Fenícios. É um gesto que tem o seu quê de obsceno na origem, mas que perdeu essa obscenidade e transformou-se num gesto de revolta. Um bom manguito é quase como uma gargalhada, ajuda-nos a libertar de pressões feitas sobre nós, de coisas más que acontecem à nossa volta, de situações que nos caem em cima e que nos sufocam.

Convidar uma pessoa, viva ou morta, para jantar. Quem?
Morto, gostava imenso de convidar Rafael Bordalo Pinheiro, mas é uma questão do meu dia a dia e também por ter um enorme fascínio pela personalidade e pela figura dele. Se fosse uma pessoa viva, escolheria um grande chef e pediria para ser ele a cozinhar. Talvez o Avilez ou a Noélia, do restaurante Noélia.

Férias ideais?
Gosto muito de férias a viajar, férias sem destino. Durante muito tempo vivi em frente a um hotel e gostava muito de estar à janela e ver as pessoas a chegar e a saírem do carro e a olharem à volta. E aquela sensação de tudo novo e uma cidade para descobrir, era uma coisa muito entusiasmante.

Remédio para viver melhor?
Rir, claro, e o mais possível. Encontrar situações para rir, não nos deixarmos abater pelas que podem parecer que não são motivo de riso, mas dar-lhes uma boa gargalhada. Acho que rir é mesmo o melhor remédio.

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