Agosto mais perto de casa e em família devido à pandemia
No tempo em que não havia um coronavírus a invadir o mundo, férias significavam descanso mas também diversão; encontros e ajuntamentos; grandes viagens. Não foi assim o ano passado e ainda não será assim este ano. Os portugueses estão a ser mais metódicos nas escolhas, procuram locais mais isolados e seguros para evitar a contaminação, fazem férias cá dentro ou vão para destinos de onde rapidamente chegam a Portugal. Muitos aproveitam para juntar a família, sejam os avós ou os tios. Mais um agosto diferente.
Verão para Sónia Costa era sinónimo de Algarve. Na segunda quinzena de agosto, ela, o marido e o filho juntavam-se à "troupe" de amigos, nome pelo qual o grupo se identifica na rede social WhatsApp. Alugavam uma casa na Guia (Albufeira), no meio da costa algarvia, para poderem circular para todos os lados à procura de boa comida fora das rotas turísticas.
"Eram férias muito giras. Chegávamos a estar 40 pessoas na praia", conta. E para quem desconfia de uma boa gestão com tanta gente, explica: "Amigo não empata amigo. O primeiro que saia para a praia enviava uma mensagem a dizer para onde ia e, quem queria, ia lá ter". É também assim com os restaurantes. O que era sagrado era o "Dia da ilha", em que madrugavam para alugar lanchas e navegar até Armona, Tavira, Fuseta, etc.
Sónia Costa, 51 anos, da área de Marketing e Publicidade, e Luís Sá, empresário no turismo, já não fizeram isso o ano passado. Aliás, nem sequer tiveram férias. Têm uma empresa de aluguer de carrinhos elétricos em Sintra, com percursos definidos e, depois do país parar três meses, queriam garantir algum rendimento no verão. Este ano, o casal e o filho Afonso, de 17 anos, decidiram fazer uma semana de férias na ilha espanhola de Menorca, com meia pensão incluída.
"É um sítio diferente e perto de Portugal, se tivermos algum problema, depressa podemos regressar. O hotel está mesmo em cima da praia, as águas mediterrânicas são quentes e lembram um destino tropical, parece-nos que terá menos gente que outras ilhas espanholas. Claro, que há sempre a probabilidade de apanharmos covid, mas vamos estar só os três. É mesmo para relaxar e não fazer nada. E a relação qualidade/preço é muito boa, mais barato que se fôssemos para o Algarve, já contando com as viagens de avião", assegura Sónia.
Do que sente mais saudade das férias é do convívio: "Sou uma pessoa de afetos e de gostar de estar com pessoas, de abraços. Sinto falta disso nas férias e na vida em geral. É a parte que me custa mais".
Sónia é cliente da Top Atlântico, a quem recorreu para marcar a viagem, o que considera ser mais uma medida de segurança. E esta é uma constante nas férias em pandemia, diz Margarida Blattmann, diretora de Marketing e Comunicação da operadora turística. "Uma boa parte do universo de pessoas que não recorria às agências, que marcava tudo pela Internet, está a recorrer por causa da pandemia. Tem a ver com a incerteza sobre a evolução da situação, como vão reagir os países, as regras têm mudado frequentemente. E, através da agência, sentem-se mais seguras se os planos forem alterados. Uma das coisas essenciais é o seguro, querem estar protegidas em caso de contraírem a doença".
Margarida Blattmann acrescenta que os portugueses estão a voltar a viajar. "As palavras de ordem são confiança e segurança e, à medida que a vacinação avança; que deixa de ser exigido um teste PCR, o que representa um custo elevado, começam a fazer projetos". Mas nada que se compare aos tempos anteriores à pandemia. O objetivo é que 2021 seja melhor que 2020.
Entre as viagens que envolvem avião, a Madeira e os Açores estão em primeiro lugar nas preferências dos portugueses. Depois, surgem outros destinos como Cabo Verde e as ilhas espanholas.
É para a ilha de São Miguel, nos Açores, que vai a família de Luís Vieira, e de Rosário Silva, que inclui os filhos Tiago e José Pedro, e a namorada do primeiro, Carolina. Vão para um destino que era adiado há anos. "Nunca foi bem recebido pelos filhos, questionavam porquê uma semana numa ilha em vez da praia. O que nos leva aos Açores é ficar cá dentro e o facto de querermos contribuir para a economia nacional. E é um destino que nos pode proporcionar experiências diferentes", explica o Luís.
O plano é uma semana em Ponta Delgada, com uma noite nas Furnas, localidade que dá nome ao famoso cozido. Depois, é alugar um carro e ir à descoberta da ilha. "Uma coisa que me impressionou é o facto de São Miguel não estar preparada para esta avalanche de turistas, nomeadamente, não existe uma plataforma de rent a car, tem mais de 90 empresas. E, com preços, na ordem dos 700 euros por uma semana. Depois, acabámos, por conseguir por 400 através da agência", sublinha o continental. Tem estado nas ilhas portuguesas, mas a nível profissional. Costuma dizer que conhece aeroportos e hotéis.
Luís Vieira, 52 anos, é delegado de informação médica, a mulher, Rosário Silva, 59, é enfermeira. Os filhos, Tiago tem 25 e é formado em Marketing, José Pedro, tem 22 e estuda. Fazem sempre férias em família, sem terem um destino específico, mas com o foco na praia. O ano passado estiveram no Algarve, há dois anos em Marrocos, também já passaram vários verões em Punta Cana e em Porto Santo.
"Este ano, não fomos à procura da praia, será diferente, em contacto com a natureza e claro que também houve a preocupação relativamente à pandemia. Acreditamos que Portugal é mais seguro, também, porque está muito avançado no que diz respeito à vacinação", justifica Luís Vieira. Três membros da família têm a vacinação completa. É o membro mais novo que está a iniciar o processo.
Luís tem saudades da liberdade de circulação, apesar de ter viajado pelo campeonato europeu de futebol, mas é diferente. "Tenho saudades de não me sentir limitado, é sobretudo isso. Embora defenda que as limitações são uma necessidade, os comportamentos tinham que ser mudados e espero que as alterações tenham vindo para ficar".
Paula Simões, 58 anos, professora, ainda não voltou às viagens para o estrangeiro, muito menos em período de férias e de grandes ajuntamentos. Vai passar o agosto em Monte Gordo, onde comprou uma casa há 14 anos. Mas há 45 anos que é um dos seus destinos - no início, para a o apartamento de férias dos pais. Não é que lhe falte o mar, porque mora na Figueira da Foz, mas falta-lhe as águas serenas e quentes algarvias, também o sol. Antes da pandemia, doseava estas com as viagens internacionais, na Europa ou nas Caraíbas, o que não acontece há dois anos.
"Há dois anos fomos à Madeira e, este ano, aos Açores. O que tenho mais saudades é de ir por essa Europa fora, o que não fazíamos apenas no verão. Tínhamos previsto ir até ao Alasca (EUA), mas meteu-se a pandemia, e não vamos para tão longe. Desde 2019 que adiamos".
Vai reunir a família. Ela, o marido, Rui Simões, 59 anos, engenheiro, os dois filhos e os dois netos. A regra é não fazer jantar, vão ao restaurante. "Estamos todos vacinados, menos os netos. Isso dá uma grande segurança, não só em relação às férias como a tudo", defende Paula Simões. Esclarece que teve covid-19 e ainda não levou a vacina, mas tem os anticorpos. O marido teve a doença e já foi vacinado.
Uma das regiões com grande procura é o Centro, com a barragem do Cabril, a assumir grande parte das preferências. E corresponde aos requisitos de Dulce Teixeira e a família: uma casa isolada e onde fazem as refeições, pouca confusão e uma natureza pintada a verde e azul.
"Faz mais sentido do que ir para um hotel, podemos estar tranquilos em família, temos condições para fazer as refeições (também temos de pensar em poupar) e estamos seguros. Estamos num sítio reservado e protegido", explica Dulce, 50 anos, costureira.
Curiosamente, só começou a fazer férias em tempos de pandemia. O marido trabalha na construção civil e esteve emigrado, por outro lado, os três filhos, entre os 21 e 31 anos, agora já estão por conta deles. Dulce, o marido, o irmão, a cunhada e a sobrinha, de 17 anos, vão ficar numa das duas habitações geminadas da Casa do Cabril e que dá para cinco pessoas. Entram este domingo, quatro dias que poderão ser mais. "Olhe, estamos a acordar para a vida. É para sair da rotina e temos encontrado coisas a preços acessíveis".
Olinda Brandão é a dona da propriedade. Não se queixa da falta de procura, apenas a ausência de estrangeiros, que viajam para além do verão. Em relação aos clientes, nota diferenças comparativamente aos tempos anteriores à pandemia: "As pessoas aproveitam para estar em convívio com a família, por vezes, alugam as duas casas. Vem o casal, os filhos, também os avós e outros familiares. E querem estar sossegados. Frequentam as praias fluviais, não fazem grandes deslocações, ficam pelo jardim da casa. Sentem-se seguros".