Agora, os telemóveis podem durar 7 anos. Eis como mantê-los a funcionar
Derek Abella / The New York Times

Agora, os telemóveis podem durar 7 anos. Eis como mantê-los a funcionar

Google e Samsung costumavam atualizar o software dos telemóveis durante apenas três anos. Mas isso mudou. O novo número mágico agora é sete, numa aproximação das gigantes fabricantes de Android à concorrente Apple, fabricante dos iPhone.
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Todos os telemóveis têm uma data de validade. Chega o dia em que as atualizações de software param e começamos a perder novas aplicações e proteções de segurança. Com a maioria dos telefones, isso acontecia ao fim de apenas três anos, mas as coisas estão finalmente a começar a mudar. O novo número é sete.

Percebi essa mudança pela primeira vez quando analisei o telemóvel Pixel 8 (de 700 dólares, cerca de 645 euros) da Google, em outubro. A Google disse-me que se comprometeu a fornecer atualizações de software para o telefone durante sete anos, contra os três anos para os Pixels anteriores, porque “era a coisa certa a fazer”.

Eu estava cético em relação a que isso fosse tornar-se uma tendência, mas neste ano a Samsung, a fabricante de telefones Android mais lucrativa, estabeleceu um cronograma de software semelhante para o seu Galaxy S24, de 800 dólares (737 euros). A seguir, a Google disse que faria o mesmo com o Pixel 8A, de 500 dólares (460 euros), a versão económica do Pixel 8 que chegou às lojas recentemente.

Ambas as empresas disseram que expandiram o suporte de software para fazer com que os seus telefones durem mais. Esta é uma mudança na forma como as empresas costumavam falar sobre telefones. Há não muito tempo, os gigantes da tecnologia lançaram novos dispositivos que incentivavam as pessoas a atualizarem a cada dois anos. No entanto, nos últimos anos, as vendas de telemóveis desaceleraram em todo o mundo, à medida que as suas melhorias se tornaram mais marginais. Hoje em dia, as pessoas querem que os seus telefones durem.

A Samsung e a Google, as duas fabricantes de dispositivos Android mais influentes, estão a tentar alcançar a Apple, que tradicionalmente fornece atualizações de software para iPhone durante cerca de sete anos. Essas mudanças farão com que os telefones durem muito mais e darão às pessoas mais flexibilidade para decidir quando é hora de atualizar.

A Google disse em comunicado que expandiu o seu compromisso de software para o Pixel 8A porque queria que os clientes se sentissem confiantes nos telefones Pixel. Já a Samsung anunciou que forneceria sete anos de atualizações de software, que aumentam a segurança e a confiabilidade, para todos os seus principais telefones Galaxy a partir de agora.

Eis o que devemos saber sobre as razões para isso estar a acontecer e o que podemos fazer para que os nossos telefones durem mais.

Porque é que isso está a acontecer?

No passado, os fabricantes de telefones Android afirmavam que o processo técnico de fornecimento de atualizações de software era complicado, por isso, para continuarem rentáveis, abandonavam o suporte depois de alguns anos. No entanto, as empresas tecnológicas estão agora sob intensa pressão externa para investirem na durabilidade dos seus dispositivos.

Em 2021, a Comissão Federal de Comércio dos EUA anunciou que iria aumentar a fiscalização contra empresas de tecnologia que dificultassem a reparação e manutenção dos seus produtos. Isso acelerou o movimento do “direito à reparação”, uma proposta legislativa que exigia que as empresas fornecessem peças, ferramentas e software para prolongar a vida útil dos seus produtos. Nos últimos anos, estados como a Califórnia, Nova Iorque, Minnesota e Oregon promulgaram essa legislação.

A Google anunciou o seu novo compromisso com telemóveis depois de ser pressionada a tomar uma medida semelhante para os seus computadores portáteis.

Em setembro, a empresa concordou em expandir o suporte de software para o seu Chromebook para 10 anos, em vez de oito, em resposta a uma campanha popular que destacou como os computadores portáteis da Google, de curta duração, estavam a causar restrições orçamentais nas escolas.

Nathan Proctor, diretor da US PIRG, uma organização sem fins lucrativos financiada em grande parte por pequenos doadores que liderou a campanha do Chromebook, disse que o novo padrão de sete anos de suporte para smartphones teria um efeito profundo.
“É uma grande vitória para o meio ambiente e quero ver isso a acontecer mais”, referiu.

O que precisamos de fazer mais?

As atualizações de software são uma grande parte do que mantém um telefone a funcionar bem, mas existem outras etapas para prolongar a vida útil do telemóvel, semelhantes à manutenção de um carro. Elas incluem:

Substituir a bateria do telefone a cada dois anos

As baterias de iões de lítio dos telefones têm uma vida útil limitada. Após cerca de dois anos, a quantidade de carga que podem conter diminui e é aconselhável substituir a bateria.

Substituir a bateria de um telemóvel não é fácil, por isso é melhor procurar a ajuda de um profissional. Para encontrar centros de reparação de telefones Pixel e Galaxy, podemos entrar em contacto com a Google e a Samsung através dos seus sites. Podemos também procurar uma loja confiável nas proximidades num site de avaliações como o Yelp ou o Google Reviews. Normalmente custa cerca de 100 dólares [cerca de 92 euros] para substituir uma bateria.

Para os iPhone, os clientes podem agendar uma troca de bateria numa loja da Apple através do site da empresa. No entanto, pela minha experiência, os centros de reparações nas lojas Apple são uma lotaria.

Recentemente marquei um atendimento para substituir a bateria do meu iPhone 14 na loja Apple em Emeryville, Califórnia. Quando cheguei, o funcionário disse que a bateria estava esgotada e que a loja mais próxima que a vendia ficava a 40 minutos de carro. Isto foi frustrantemente ineficiente. O site da Apple não deveria ter permitido a marcação de um atendimento numa loja que não tinha baterias.

A Apple disse num comunicado que quando uma peça necessária para uma reparação não estivesse disponível, um funcionário procuraria a loja mais próxima para concluir a reparação ou solicitaria a peça de reposição e faria a reparação quando a peça chegasse. Em vez disso, marquei um atendimento num centro de reparações local.

Proteja-o

A maioria dos telemóveis ainda é feita de vidro, então, para fazer um telefone durar sete anos, é aconselhável investir numa capa de alta qualidade. Um protetor de ecrã é uma proteção extra, embora muitos não gostem de como ele distorce a qualidade da imagem do ecrã. O site irmão do The New York Times que analisa produtos, o Wirecutter, recomenda capas de marcas como Smartish, Spigen e Mujjo, ou capas dos próprios fabricantes de telefones.

A menos que sejamos muito propensos a acidentes, não recomendo comprar prolongamentos de garantias porque os seus custos podem exceder o custo de uma reparação.

Limpe-o

Os telemóveis têm poucas peças móveis, por isso é pouco o que precisamos de fazer para os manter fisicamente. Contudo, a maioria de nós negligencia a limpeza das peças para as quais raramente olhamos: portas de carregamento e orifícios dos altifalantes. Com o tempo, esses buracos ficam entupidos com pó, cotão e maquilhagem. Esses detritos acumulados podem fazer com que o telefone demore mais para carregar ou que uma chamada seja mais difícil de ouvir.

“É o cotão do umbigo dos telemóveis”, disse Kyle Wiens, CEO do iFixit, um site que publica instruções e vende peças para consertar dispositivos eletrónicos. Felizmente, acrescentou ele, não precisamos de uma ferramenta sofisticada. Basta usar um palito para retirar o lixo.

Isto deveria mudar a forma como compro telefones?
Eu recomendo sempre comprar um produto com base no aqui e agora, no que ele pode fazer por nós hoje, em oposição ao que as empresas dizem que fará no futuro. Devemos continuar a comprar um telefone com base neste princípio.
Muitas pessoas optarão por atualizar os seus modelos mais cedo por outros motivos, como obter um novo recurso, como uma câmara melhor ou uma bateria mais duradoura, mas aqueles que desejam apenas comprar um telefone que dure o máximo possível devem escolher um que seja económico para consertar quando alguma coisa avariar. Wiens disse que os telefones Pixel da Google, cujas peças são acessíveis, cumprem esse critério. Os proprietários desses telefones terão agora software mais duradouro para acompanhar o hardware.

Este artigo foi publicado originalmente no The New York Times.

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