"Acredito que se tem feito uma evolução enorme na igualdade de género"
As palavras são de Cristina Cardoso, responsável de relações públicas da Sanofi Portugal, que lamenta os retrocessos registados nesta área durante a pandemia. É preciso um maior equilíbrio entre vida profissional e pessoal, acredita.
O percurso profissional de Cristina Cardoso, licenciada em Ciências Farmacêuticas, foi marcado pela descoberta constante da sua verdadeira vocação. Da investigação fundamental enquanto bolseira do iBET à investigação clínica, a atual Public Affairs & Advocacy Lead da Sanofi Portugal acabaria por perceber, no início de carreira, que a área do marketing era a sua praia.
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"Comecei na Astrazeneca e passei pela Sanofi Pasteur MSD como diretora de marketing, onde fui responsável pelo lançamento da vacina do HPV, que foi um desafio extraordinário", partilha. Dez anos mais tarde, transferiu-se para a atual posição, que considera estar a ser "uma experiência extraordinária desde então". Porém, a par da realização profissional que vive, Cristina Cardoso acredita ter tido "a sorte" de estar sempre em "empresas multinacionais onde existem políticas de diversidade e inclusão" que garantem igualdade de oportunidades para todos.
É também por isso que não hesita em dizer que não sentiu, ao longo de todos estes anos de profissão, discriminação com base no seu género. Ainda assim, aponta, a recente participação no programa de formação para a liderança no feminino, promovido pela CIP em parceria com a NOVA SBE, permitiu que olhasse para o tema da igualdade de género de outra forma. "Foi engraçado que, com a minha participação no Promova, e pensando um bocadinho mais sobre este tema, acabei por mudar completamente a minha perspetiva", afirma. A responsável de relações públicas refere-se à discriminação silenciosa das mulheres, que diz não ser "óbvia", embora "culturalmente as mulheres ainda tenham uma enorme desvantagem na progressão de carreira". E reforça: "[depois da participação no Promova] Sinto-me mais preparada e mais empoderada".
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Em causa estão, diz, os obstáculos internos e externos. Os primeiros dizem respeito às inseguranças e à pressão que as próprias mulheres colocam sobre si, nomeadamente querendo ser "bem-sucedidas profissional e pessoalmente" e ainda "tendo de ser boas mães e gerir uma família de forma bastante mais pesada do que os homens". A nível externo, a dificuldade de conseguir um maior equilíbrio entre a vida profissional e pessoal, mas também a falta de representatividade feminina à medida que se sobe na hierarquia dentro das organizações. "Acho que as novas gerações poderão não experienciar o que as mulheres da minha geração experienciaram. Acredito mesmo que se tem feito uma evolução enorme na igualdade de género", defende.
Apesar desses avanços que aponta, Cristina Cardoso sublinha que a pandemia implicou um retrocesso em algumas áreas ou, pelo menos, um agravamento da sobrecarga laboral e familiar entregue a elas. "Vários estudos demonstram que as mulheres foram mais afetadas e que houve uma enorme regressão no que respeita à igualdade de género", lamenta. Ultrapassar este desafio e fazer com que este deixe de ser um tema que importa abordar implica, acredita, uma "transformação cultural" de toda a sociedade, mas sobretudo melhores políticas ao nível das empresas. "O tecido empresarial tem evoluído muito nesta área e as atuais políticas de flexibilidade no trabalho têm sido muito positivas", remata.
dnot@dn.pt