Ministro diz que não estão previstas medidas de saúde pública de natureza obrigatória
O ministro da Saúde afastou esta sexta-feira a necessidade de voltar a implementar medidas obrigatórias de mitigação da pandemia de covid-19, considerando que é tempo de "virar a página", mas reforçou o apelo à vacinação.
"Não está prevista a necessidade de medidas de saúde pública de natureza obrigatória", afirmou Manuel Pizarro em declarações aos jornalistas no final de uma reunião que juntou especialistas e políticos no Infarmed.
Justificando que é tempo de "virar a página do período mais difícil", o ministro da Saúde ressalvou, no entanto, que isso não significa a desvalorização da pandemia e, por isso, sublinhou a importância da vacinação contra a covid-19.
"É um facto inegável que a vacina é eficaz, qualquer uma das vacinas é absolutamente eficaz contra a propagação, mas sobretudo contra a gravidade da doença e na prevenção da mortalidade", afirmou.
A vacinação sazonal contra a covid-19 e a gripe iniciou-se em 7 de setembro, dirigida sobretudo aos grupos mais vulneráveis. Segundo Manuel Pizarro, já receberam a segunda dose de reforço da vacina cerca de 1,9 milhões de pessoas, mas o objetivo é que sejam três milhões até dezembro.
Apesar de considerar os resultados animadores, o governante reforçou o apelo para a vacinação, explicando que, de acordo com os peritos, as vacinas mantêm o mesmo efeito protetor contra as novas variantes que, por outro lado, "não acarretam maior risco para a saúde".
Questionado sobre o facto de a Direção-Geral de Saúde ter recomendado hoje o uso de máscara a pessoas com sintomas de infeção respiratória, o distanciamento dos outros e o isolamento durante cinco dias em caso de infeção, o ministro disse que há aspetos de literacia de saúde pública que "temos obrigação de ter aprendido durante a pandemia".
"A covid-19 tem de ser encarada como qualquer outra infeção respiratória e é nesse contexto que as pessoas se devem comportar", defendeu.
Especialistas e políticos reuniram-se no Infarmed, em Lisboa, para fazerem o ponto da situação da pandemia da covid-19, depois de a última reunião ter acontecido em fevereiro.
Manuel Pizarro considerou que o encontro foi, sobretudo, útil para ajudar a preparar o inverno, ainda que o plano esteja já "praticamente concluído", devendo ser apresentado "nos próximos dias".
Na reunião, o investigador do INSA João Paulo Gomes afirmou que "não há qualquer motivo para alarme" em relação às novas sublinhagens da variante Ómicron do coronavírus SARS-CoV-2, mas recomendou manutenção de "vigilância ativa".
"Até agora, não há evidência (prova) de que estas sublinhagens sejam mais severas em termos de risco, hospitalização, risco de morte (...) e de acordo com os dados disponíveis, não há qualquer motivo para alarme, mas temos todos os motivos para manter uma vigilância ativa", disse o investigador do Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge (INSA).
Segundo o microbiologista, nos últimos meses entre 75% e 95% das infeções, praticamente em todo o mundo, são causadas pela sublinhagem BA5 da variante Ómicron.
João Paulo Gomes disse que está a crescer a frequência relativa da linhagem BQ1.1 na maior parte dos países onde já deu entrada e "Portugal não é exceção", adiantando que esta linhagem "tem sido muito publicitada também porque aparentemente está associada a uma fuga ao sistema imunitário".
"Isto é o que se passa em todo o mundo (...) e, portanto, nós vemos que ela está a crescer em frequência e quando uma linhagem cresce em frequência tem um significado apenas: é mais transmissível", vincou o investigador na "Sessão de apresentação sobre a "Situação epidemiológica da Covid-19 em Portugal", que reuniu vários peritos e em que participaram também o Presidente da República e o primeiro-ministro.
João Paulo Gomes disse que a BQ1.1 tem dado "grandes saltos" nas últimas semanas, estimando-se que atualmente cerca de 30% dos casos de covid-19 sejam já causados por esta variante da Ómicron que, adiantou, "inequivocamente é a mais transmissível atualmente".
O investigador sublinhou ainda que o domínio prolongado da variante Ómicron durante um período de elevada cobertura vacinal e infeção fez com que se estabelecesse "uma imunidade de grupo muitíssimo forte", o que deu "menos grau de liberdade em termos de evolução viral".
"As vacinas por reforço original ou bivalente são muito eficazes. Não existem dúvidas quanto a isso, mas aparentemente um pouco menos eficazes contra algumas destas linhagens emergentes", referiu.
João Paulo Gomes disse ainda não ser consensual a grande vantagem da utilização das vacinas bivalentes sobre as originais.
Por um lado, porque o reforço com as bivalentes parece potenciar apenas ligeiramente a resposta imune e, por outro lado, a infeção natural parece ter um efeito protetor muitíssimo mais vincado, salientou.
Lusa