"A generalidade das mulheres quer ser perfeita em tudo, mas isso não é possível"

Laura Santos, diretora de auditoria interna na Galp, recusa que alguma vez tenha sido prejudicada em contexto profissional pelo seu género, mas fala em "obstáculos" autoimpostos que afetam as trabalhadoras.

Nunca senti que ser mulher fosse uma desvantagem profissional", começa por dizer ao DN a atual diretora de auditoria interna na Galp. Laura Santos reconhece a importância de debater o tema da paridade de género nas empresas, até porque, refere, "não estamos, nem de perto nem de longe, perto de atingir a paridade em posições de C-level nas organizações". Apesar de considerar que estas situações acontecem por razões alheias à discriminação, mostra-se favorável à existência de quotas que permitam "acelerar a abertura" dos conselhos de administração às mulheres.

Em sentido contrário, porém, Laura Santos reconhece que foram conquistados avanços significativos neste capítulo ao longo das últimas décadas, em particular em funções de direção. "Acredito que ao nível de diretores estamos muito mais perto desse caminho da paridade, mas é preciso fazer dar mais passos ao nível dos conselhos de administração e comissões executivas", reforça. A profissional licenciada em gestão diz nunca se ter sentido prejudicada pelo seu género e fala em "obstáculos" autoimpostos que dificultam a progressão na carreira no feminino. "Acho que a generalidade das mulheres quer ser perfeita em tudo, quer ser a mãe perfeita, a profissional perfeita, a esposa perfeita e isso não é possível", acredita.

Laura Santos recorda a "angústia enorme" que sentia, nos primeiros anos de vida do filho, por não conseguir ser, como diz, a "mãe perfeita". "Não ser a mãe que está todos os dias às 16h à porta da escola não tem nada de errado", assegura. Este é apenas um dos desafios que considera ser criado por cada mulher, da mesma forma que, tendencialmente e como demonstram vários estudos sobre recursos humanos, "uma mulher só responde a um anúncio de emprego se cumprir todos ou quase todos os requisitos". No entanto, as mesmas pesquisas indicam que os homens se candidatam a uma vaga profissional mesmo que apenas cumpram um terço das exigências.

A falta de confiança a que alude Laura Santos é uma das componentes que o programa Promova, criado pela CIP - Confederação Empresarial de Portugal, pretende corrigir através de um plano de formação para a liderança no feminino. "Traz-nos alguma consciência de algumas características típicas que temos de ultrapassar e, por outro lado, alarga muito o networking", observa, depois de ter sido uma das participantes na primeira edição em 2020. A programação foi desenhada para conter momentos de mentoria e coaching, que facilita e incentiva a partilha de experiências e perspetivas. "Além disso, estou certa de que as participantes no Promova vão, de alguma forma, espalhar esta mensagem e ajudar outras mulheres e raparigas mais novas no início de carreira", afirma.

GALP. Apoiar e desenvolver o talento feminino

Alinhada com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Organização das Nações Unidas (ONU), a Galp definiu uma estratégia para a igualdade a implementar já em 2022, que deverá complementar as medidas ligadas à paridade de género existentes. Um destes objetivos da ONU prende-se, precisamente, com a igualdade de género, área em que a empresa vai atuar melhorando as questões do acesso ao emprego, às condições de trabalho, à remuneração, à parentalidade e ao equilíbrio entre a vida profissional e pessoal. "Em 2016 foi criado um grupo de trabalho interno com a missão de realizar um diagnóstico às políticas e práticas no Grupo Galp nos domínios da Igualdade de Género e da não discriminação entre mulheres e homens", esclarece a empresa num documento enviado à CMV em setembro.

Já durante este ano, o grupo empresarial "tem vindo a rever a sua estratégia ao nível da gestão de pessoas" com particular foco na questão da paridade, tendo promovido ações de formação "sobre enviesamento inconsciente transversal a toda a organização". A par da criação de medidas de apoio à natalidade e parentalidade, destaque para a criação de um programa dirigido a Mulheres de Alto Potencial. Trata-se de um mecanismo de desenvolvimento de talento assente em ações de mentoria, liderança e aconselhamento de carreira, entre outras componentes.

No que respeita ao equilíbrio de géneros na estrutura da empresa, em 2020 o seu Conselho de Administração era composto em 26% por mulheres e que, nas restantes áreas, as profissionais femininas ocupam 43% das posições. "Até́ 2030, a Galp vai trabalhar numa convergência acelerada rumo à paridade de género em todas as posições de gestão e não gestão", assegura a organização.

dnot@dn.pt

Com o apoio CIP/CGD/Fidelidade/LUZ Saúde/Randstad

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