O Palácio da Pureza Celestial (Qianqing Gong) foi o paço principal do pátio interior e residência dos 16 imperadores das dinastias Ming e Qing. A partir do Período Yongzheng da Dinastia Qing (1723-1735), passou a ser o lo
O Palácio da Pureza Celestial (Qianqing Gong) foi o paço principal do pátio interior e residência dos 16 imperadores das dinastias Ming e Qing. A partir do Período Yongzheng da Dinastia Qing (1723-1735), passou a ser o loD.R. / Macao Daily News

A Cidade Proibida: um exemplo da arquitetura palaciana chinesa

Uma das principais características da Cidade Proibida é a simetria, com todos os palácios distribuídos de forma simétrica ao longo de um eixo central, o que reflete não só a autoridade e a majestade imperiais, mas também a sabedoria e a criatividade dos chineses antigos.
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Localiza-se no eixo central de Pequim: a Cidade Proibida foi a residência de 24 imperadores durante as dinastias Ming e Qing(1368-1912). Tal como é hoje, construção começou em 1406 e demorou 14 anos para ser concluída, contando com a participação de 100 000 artesãos e cerca de um milhão de trabalhadores. O complexo com mais de 70 palácios e 9000 salas, é o maior e o mais bem preservado conjunto de palácios de estrutura de madeira no mundo.

Uma das características da Cidade Proibida é a simetria, com todas as estruturas distribuídas de forma simétrica ao longo de um eixo central que se estende de norte a sul. Os palácios mais importantes localizam-se no centro, enquanto os outros são distribuídos ao redor do eixo. Em janeiro deste ano, falámos sobre a ideia de “colocar o mais respeitado no centro” dos complexos arquitetónicos antigos chineses. Trata-se de princípio de destacar o status  e a majestade de imperador, e obviamente a Cidade Proibida é o exemplo mais emblemático.

A Cidade Proibida segue uma regra comum na arquitetura tradicional chinesa: as entradas principais são voltadas para sul e a razão de ser disso tem a ver com a temperatura.

Os chineses descrevem as casas com temperatura confortável através da expressão “casa quente no inverno e fresca no verão”. Por isso, os palácios foram desenhados para manter as temperaturas moderadas durante o ano. No inverno, pode-se prevenir a entrada do vento do noroeste e permitir a maior captação da luz solar para aumentar a temperatura do interior. Já no verão, evita-se a incidência direta dos raios solares para manter a temperatura interna confortável.

A Cidade Proibida é composta por duas partes: o pátio exterior e o pátio interior. O primeiro era dedicado ao tratamento dos assuntos governamentais, enquanto o segundo servia como residência da família imperial. No setor exterior, as estruturas principais alinham-se ao longo do eixo central, nomeadamente o Palácio da Harmonia Suprema (Taihe Dian), o Palácio da Harmonia Central (Zhonghe Dian) e o Palácio da Harmoniosa Preservada (Baohe Dian). Todos os nomes têm o ideograma chinês “he” (harmonia), o que reflete o valor essencial da cultura tradicional chinesa: a harmonia.

O mais majestoso palácio é o Palácio da Harmonia Suprema, cujo nome chinês significa a “Harmonia Universal” e a “Paz no Mundo inteiro”. Era o local onde se realizavam as cerimónias nacionais como a coroação do imperador, casamentos imperiais e festividades de aniversário dos imperadores.

Já o Palácio da Harmonia Central, também associado à ideia de “Harmonia” e à “Doutrina do Meio-termo” (o estado intermédio ideal entre dois opostos), servia como a área onde os imperadores descansavam antes de assistirem às cerimónias. E o Palácio da Harmonia Preservada representa a preservação da harmonia no mundo inteiro e era o lugar onde os imperadores ofereciam banquetes e realizavam exames para a seleção de altos funcionários.

No centro do pátio interior encontram-se o Palácio da Pureza Celestial (Qianqing Gong) e o Palácio da Tranquilidade Terrestre (Kunning Gong), que eram os palácios principais onde residiam os imperadores e as imperatrizes. Na filosofia chinesa antiga, Qian representa o céu e o masculino, enquanto Kun a terra e o feminino. A integração de Qian e Kun simboliza Yang  e Yin, permitindo a harmonia de todas as coisas no mundo.

Atrás desses palácios fica o Jardim Imperial, onde os imperadores descansavam e se divertiam. O jardim é composto por pavilhões, rochas, lagoas e várias plantas, refletindo o pensamento antigo chinês de que “a paisagem natural e a presença humana devem complementar-se, para alcançar a unidade do céu e da Humanidade”.

O leão é considerado pelos chineses como uma criatura divina protetora das moradias. Na Cidade Proibida, há seis pares de leões de bronze, dispostos com o macho à esquerda e a fêmea à direita. Aqui vê-se um dos leões de bronze em frente à Porta da Harmonia Suprema (Taihe Men).

Durante as dinastias Ming e Qing, vários missionários europeus trabalhavam na Cidade Proibida como pintores e astrónomos. De entre eles, o mais famoso foi o italiano Giuseppe Castiglione, que chegou à China em 1715, da Itália, e trabalhou como pintor da corte por mais de 50 anos. Castiglione integrou as técnicas de pintura Ocidentais com a tradição chinesa de tinta e pincel, e criou obras muito apreciadas pelos imperadores. Posteriormente, foi nomeado arquiteto dos jardins imperiais, liderando o design  arquitetónico dos edifícios do Antigo Palácio de Verão, e as suas aptidões tiveram uma influência significativa nas pinturas da corte da Dinastia Qing.

Ao longo dos 600 anos desde a sua construção, a Cidade Proibida sofreu vários incêndios causados por relâmpagos, tendo sido reconstruído várias vezes, e conseguiu ser preservado até hoje. Em 1925, foi fundado o Museu do Palácio Imperial, que é já é um complexo com conjuntos arquitetónicos antigos, coleções palacianas da arte e cultura das várias dinastias chinesas. O museu alberga mais de 1,8 milhões de peças de coleções, incluindo mais de 350 000 peças de porcelana, mais de 75 000 peças de caligrafia e mais de 5300 peças de pintura.

Além disso, o Palácio preserva uma abundante coleção de relíquias estrangeiras adquiridas através do comércio externo da Rota da Seda  e dos intercâmbios diplomáticos. Entre as inúmeras preciosas coleções, destaca-se a dos 2200 relógios ocidentais, a maioria dos quais de origem britânica, e alguns da Suíça, Alemanha e França.

A Cidade Proibida é um testemunho histórico da China das dinastias Ming e Qing e constitui um valioso património cultural da país e do mundo. Em 1987, foi inscrita na lista do Património Mundial da UNESCO, e hoje é um dos pontos turísticos mais procurados da China.

Iniciativa do Macao Daily News

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