Vídeo viralizou nas redes sociais.
Vídeo viralizou nas redes sociais.Foto: DR

A 'câmara do beijo' dos Coldplay vai continuar. Que lições ficam do caso Astronomy?

Em Portugal, o empregador não pode exigir que funcionário revele dados da sua vida privada, exceto se houver conflito de interesse para as empresas, cada vez mais atentas às repercussões das redes sociais.
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Para a alegria dos milhões de fãs espalhados pelo mundo, Chris Martin confirmou: a kiss cam dos Coldplay vai continuar a estampar nos ecrãs gigantes durante os concertos as caras de quem está na plateia.

"Se a vida te dá limões, tu fazes uma limonada. Vamos continuar a fazer isso porque é a forma de podermos conhecer alguns de vós", disse o líder da banda durante a apresentação em Kingston upon Hull, no Reino Unido, na última segunda-feira, 18 de agosto.

As kiss cam, ou 'câmaras do beijo', tornaram-se populares em eventos com grande público nos Estados Unidos, como jogos de basketball, inicialmente para registar momentos apaixonados, mas hoje são também uma forma de animar e envolver quem está presente nos eventos. Chris Martin aproveitou para reforçar o intuito destes momentos durante os concertos. "Estamos muito felizes por estar aqui. Muitos de vocês fizeram cartazes, e vou dedicar tempo para tentar ler alguns", disse o cantor. No caso dos Coldplay, a câmara regista as várias mensagens que os fãs mostram ao alto, esperando receber o reconhecimento e carinho dos artistas que admiram.

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A confirmação dos Coldplay veio um mês depois do caso que deu ao grupo um grande saco de limões. No dia 16 de julho, a câmara colocou no ecrã, durante um concerto em Massachusetts, nos Estados Unidos, o então CEO da empresa de tecnologia Astronomy, Andy Byron, e aquela que era a diretora de RH da companhia, Kristin Cabot, num momento íntimo que expôs uma alegada relação extraconjugal entre os dois e que se tornou viral nas redes sociais.

Identificados e julgados pelo 'tribunal da Internet', Byron e Cabot demitiram-se, a empresa apresentou desculpas públicas e iniciou uma campanha para restabelecer a boa imagem perante ao público.

Relação laboral x vida privada

Para a advogada de Direito Laboral Inês Saraiva de Aguilar, da AFMA Advogados, "as empresas, hoje em dia, são muito sensíveis às questões da imagem, à repercussão que determinados atos têm na sua atividade, na sua organização".

A especialista explica que, "principalmente lá fora", sempre houve esta preocupação, que está a ser cada vez mais presente no país pelas "multinacionais e empresas portuguesas com certa dimensão, que vão tendo os seus códigos de conduta e códigos de de ética".

Por isso, e para quem estiver a pensar já nos bilhetes para um evento futuro em que as kiss cam vão estar a trabalhar, uma lição que fica, segundo a advogada, é "a questão do conhecimento, ou seja, é o reporte que têm de fazer à empresa de situações que gerem conflito de interesses. E nem é preciso que já estejamos numa situação em que há um conflito de interesses. Há muitas atividades que são reguladas que impõem essa obrigação".

Aguilar cita como exemplo o setor da banca. "Um administrador de banco já tem essa obrigação, de reportar as suas relações, os seus graus de parentesco", mas deixa um alerta: "A nossa lei, no fundo, também diz que o empregador não pode exigir que revele dados da sua vida privada, exceto, obviamente, quando há questões que se podem sobrepor e neste caso, é o interesse da empresa. Ou seja, um CEO, uma figura de topo, decide sobre a gestão de toda a empresa. Tem, obviamente impacto nas avaliações, nos aumentos dos colaboradores, nas viagens que eles fazem não é? Pode haver, se não reportado, uma quebra de confiança".

Inês Saraiva de Aguilar reforça que o direito à privacidade e a proteção do dos dados pessoais de um trabalhador estão salvaguardados, mas que é preciso conhecer "os códigos de ética e códigos de conduta. No fundo, são os regulamentos da empresa que explicam todas as formas como pode haver conflitos de interesses e como se deve agir em qualquer momento".

Estas ferramentas são relativamente "recentes" no contexto laboral moderno, explica a advogada. Precisamente porque "antigamente não era preciso regular este tipo de situações" relacionadas com a exposição pública que as redes sociais podem trazer aos elementos da vida privada de um trabalhador.

"As empresas, obviamente, sentem-se aqui muito pressionadas, e os acionistas, pela sua imagem como empresa, como corporação. Tendo em conta que, por exemplo, há consumidores que deixam de consumir de determinadas empresas porque um jogador diz que não gosta, ou por outros motivos. Há um comportamento, descobre-se qualquer outra coisa, e eu acho que leva a este escrutínio".

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