90% dos médicos de privados por vacinar. Queixa já entrou na Entidade Reguladora da Saúde
Até ao fim desta semana, o governo quer ter cem mil profissionais de saúde vacinados. Do SNS. Para os 6500 médicos do privado, mesmo que estejam a garantir consultas, tratamentos e cirurgias que o Estado há muito congelou e muitos até envolvidos no combate à covid, não há calendário. A ministra da Saúde, Marta Temido, afirmou na semana passada que as inoculações estavam a ser calendarizadas. Mas não há vacinação no privado. Ninguém foi inoculado nos últimos dias, asseguram ao DN fontes de diferentes grupos.
Até ao momento, de um total de 255 700 pessoas inoculadas (em lares e profissionais de saúde), foram vacinados apenas 560 trabalhadores de unidades de saúde privadas.
Em resposta a esta "discriminação e incompreensível desigualdade", a Associação dos Profissionais da Hospitalização Privada (APHP) avançou com uma queixa junto da Entidade Reguladora da Saúde.
Apesar de a formulação que define os grupos prioritários apontar os profissionais de saúde, "nem todos os que estão "diretamente envolvidos na prestação de cuidados a doentes" estão a ser vacinados", denuncia a APHP. A associação liderada por Óscar Gaspar sublinha que os profissionais dos hospitais privados têm sido "claramente preteridos" no plano de vacinação que arrancou a 27 de dezembro. E sublinha: "À data de hoje, 90% dos profissionais de saúde dos hospitais privados não foram vacinados. Profissionais, como todos os outros que trabalham no SNS, que tratam doentes e que se sentem discriminados e desprotegidos."
Considerando vital na luta contra a covid, "além do trabalho excecional dos profissionais de saúde e das medidas para reduzir as cadeias de contágio, a existência de vacinas e a sua administração", os hospitais privados alertam para a injustiça e riscos desta discriminação. "Para além da questão clara de saúde pública, esta é uma situação que coloca os hospitais privados em risco e põe em causa a garantia dos direitos à prestação de cuidados de saúde de qualidade dos utentes do sistema."
Razão pela qual apelam à Entidade Reguladora da Saúde para que exerça os seus poderes no sentido de "garantir uma disponibilização justa e equitativa da vacinação" a todos os profissionais de saúde diretamente envolvidos na prestação de cuidados a doentes.
O próprio bastonário dos médicos, Miguel Guimarães, alertou já repetidas vezes para uma situação que gera "pânico entre os profissionais", que continuam a atender doentes totalmente expostos ao vírus. E que não têm ainda indicação de quando serão vacinados, já que não estão mencionados mesmo no alargamento que a partir da próxima semana levará já a vacina a governantes e deputados, forças da Justiça e finalmente bombeiros.
O primeiro-ministro emitiu ontem o despacho para avançar já com a vacinação de governantes, autarcas e deputados, decisão já considerada "um péssimo exemplo e um insulto ao país" por CDS e PCP. E o deputado da Iniciativa Liberal, Cotrim de Figueiredo, veio mesmo recusar formalmente a sua inclusão no grupo de prioritários.
Críticas que os socialistas consideram "demagógicas". Os titulares de cargos políticos devem ser prioritários, sublinha o secretário-geral adjunto do PS, José Luís Carneiro, rejeitando "ceder à demagogia e ao politicamente correto".
Questionado sobre o tema, Marcelo considerou prematuro falar em datas. "Eu só posso falar do que me disse o primeiro-ministro, na carta: os órgãos definirão as prioridades e depois será definido o momento da vacinação. É prematuro da parte mesmo do PR antecipar datas sobre matéria que é do foro das autoridades sanitárias."
Até agora, chegaram a Portugal 411 600 doses de vacinas, estando quase 200 mil guardadas para segundas tomas - uma garantia que cada vez mais pessoas contestam como exagerada num momento em que a maior urgência é inocular o maior número de pessoas no menor tempo possível. Marta Temido ainda trabalha com o horizonte de final de março para vacinar 80% dos prioritários da primeira fase - maiores de 80 anos e profissionais de saúde.