Passaram 72 dos 121 dias que as autoridades consideram ser o período crítico de incêndios, que vai de 1 de junho a 30 de setembro. E, até agora, a área ardida já passou os 62 mil hectares. Este é o segundo valor mais alto de área ardida desde o fatídico ano de 2017, quando se registaram os fogos em Pedrógão Grande.No levantamento feito pelo DN, com base nos relatórios do Instituto de Conservação da Natureza e Florestas (ICNF) com dados até 31 de julho - ou seja, ainda sem estarem contabilizados os ‘estragos’ dos incêndios de Trancoso, Tabuaço, Vila Real e Covilhã -, é possível ver que a área ardida já estava nos 33.324 hectares. Desde aí, esse número aumento e estava esta terça-feira, 12 de junho, nos 62.644 hectares de área consumida pelas chamas. Ou seja: em menos de 15 dias, a área ardida praticamente duplicou.Isto significa que, até agora (quando se está a pouco mais de metade do período crítico de fogos), as chamas que deflagraram sobretudo na zona norte e centro do país já queimaram o suficiente para que este seja o segundo pior ano desde 2017, quando, até ao final de julho, arderam 146.508 hectares. E ainda que estejam a alguma distância desta área ardida, os valores deste ano estão próximos aos de 2022, que ainda é o pior ano desde o episódio de Pedrógão Grande.Não obstante a vasta área ardida de 2017, 2022 e 2025, os três anos estão longe do impacto feito pelas chamas em anos mais violentos, como 2003, quando foram consumidos praticamente 400 mil hectares em todo o território. Passados dois anos, o país voltou a arder, resultando na perda de mais de 320 mil hectares.Ouvido pelo DN, o presidente da Liga de Bombeiros Portugueses (LBP), António Nunes, critica a gestão dos meios no combate às chamas, sobretudo tendo em conta as lições que se retiraram do pós-Pedrógão Grande. Desde esse ano que várias entidades, como o ICNF e a Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil (ANEPC) “têm dados meteorológicos e climatológicos muito precisos”. Ou seja, diz António Nunes, “há um dado novo no planeamento que não existia até 2017”. Por isso “quando o Governo cria uma situação de alerta, esperava-se que a ANEPC tivesse um planeamento diferente”. Não foi assim, no entender do presidente da LBP, porque “não valorizaram suficientemente bem as várias componentes do estudo de Estado-maior”.Isto leva a que “diariamente” se assista “à constituição de grupos de resposta” aos fogos que estão, muitas vezes, “a seis, sete horas, oito horas do incêndio”.Olhando para o mapa, António Nunes diz ser possível traçar uma linha “acima da A25”[que liga Aveiro a Vilar Formoso], delimitando assim a zona mais fustigada pelas chamas este ano. “Isto quer dizer”, na perspetiva da LBP, que “após ter ardido muito na zona de Aveiro e de Porto-Baião, no ano passado, as áreas deste ano com piores resultados do ponto de vista da prevenção são aquelas onde há maior mancha florestal e que estão a arder”. Segundo António Nunes, “o planeamento devia ter sido feito pelo pré-posicionamento de meios” em bases relativamente próximas deste território e “não na base de Castelo Branco ou de Almeirim, que estão a três ou quatro horas do combate”.Por isso, a conclusão do presidente da Liga dos Bombeiros Portugueses é só uma: “Entendemos que a Proteção Civil é responsável por tudo isto, porque os bombeiros não têm responsabilidade direta. Os bombeiros são chamados para onde a Proteção Civil entende que devem ser chamados e colocados onde entendem que os devem colocar. Não podemos permitir que as populações digam que não têm bombeiros ou que estão sozinhas e que os bombeiros não estão lá. Esta crítica nós não aceitamos, porque isto não depende dos bombeiros.”Para António Nunes, “é inaceitável que um país do tamanho de Portugal tenha incêndios de 12 dias em Ponte da Barca ou de uma semana em Trancoso. Se a Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil considera que está tudo bem, vão existir os mesmos problemas. Mas se os três milhares de hectares de floresta arderem, não temos fogos florestais”.Questionado sobre a atitude do Governo neste período de incêndios, o presidente da LPB é perentório: “Não fazemos comentários sobre as atitudes do Governo. O Governo toma as atitudes que entender. A ANEPC, essa sim, tem sido passiva quando devia ser o elo de ligação entre o Governo e os agentes de proteção civil.”Perante estes números de área ardida, o Grupo de Estudos de Ordenamento do Território e Ambiente (GEOTA) alertou para uma outra necessidade: a de mudar o modelo de gestão florestal, passando a incluir “espécies autóctones, ecologicamente adaptadas ao território, como o carvalho, sobreiro, medronheiro, castanheiro, pinheiro-bravo e outras espécies nativa”, abdicando do eucalipto, presente em muita da área que agora ardeu.Situação de alerta prolongada até sexta-feiraCom as temperaturas altas a manterem-se (por exemplo, na segunda-feira o Instituto Português do Mar e da Atmosfera registou 44,6ºC em Elvas) e as condições a serem propícias a um maior risco de incêndio, o Governo determinou ao final da tarde o prolongar da situação de alerta até às 23h59 de sexta-feira.Em comunicado, o Ministério da Administração Interna (MAI), tutelado por Maria Lúcia Amaral, explica que “esta decisão resulta das previsões de condições meteorológicas adversas até ao final de sexta-feira, o que, nas atuais circunstâncias, implica um risco muito elevado de propagação de incêndios rurais”. Isto significa que situações como “o acesso, circulação e permanência no interior dos espaços florestais previamente definidos nos Planos Municipais de Defesa da Floresta Contra Incêndios” estão proibidas, bem como a realização de trabalhos florestais ou de queimadas.Numa intervenção em Faro, o primeiro-ministro disse esperar que, terminada esta fase, não existiam “novos prolongamentos”. A expectativa do Governo é que depois se possam “aliviar estes condicionalismos” e com isso “retomar a nossa vida quotidiana”.Durante o dia, o incêndio que mais preocupação causou às autoridades foi o de Trancoso, cujo autarca (Amílcar Salvador) estimava que já devia ter consumido “12 mil hectares”, tendo atingido 11 das 21 freguesias do concelho. Este incêndio, noticiou a CNN Portugal, causou 17 feridos (seis dos quais bombeiros), sobretudo por inalação de fumo. Dos 11 civis feridos, três foram hospitalizados..Vila Real com incêndios ativos. Fogo em Viseu está dominado e em Penacova está em resolução .Governo prolonga situação de alerta até sexta-feira. Trânsito cortado no IC1 em Ermidas-Sado devido a incêndio