Minutos antes de Paulo Raimundo insistir, pela segunda vez, na “ampla convergência” contra as “forças reacionárias” [Chega, IL, CDS e PSD] e o “cúmplice” PS, oito dos 125 eleitos do Comité Central mereceram aplausos reforçados dos delegados ao Congresso..Jerónimo de Sousa , Paulo Raimundo, João Ferreira [vereador em Lisboa], João Oliveira [eurodeputado], Paula Santos [líder parlamentar], João Pimenta Lopes [ex-eurodeputado], João Luís Silva [estudante, 24 anos] e Maria Inês Costa [estudante, 25 anos] foram, entre todos, os mais aplaudidos..Logo depois, no discurso de encerramento do Congresso, o secretário-geral apelava à mobilização de “comunistas, ecologistas, independentes, todos independentemente das suas opções partidárias” para que seja dada “ainda mais força” ao PCP nas Autárquicas..“Este espaço de ampla convergência”, especificou, “onde cabem todos os que anseiam resolver os problemas concretos das populações, dos que querem justamente viver melhor na sua terra”..Ao DN, Paulo Raimundo tinha já acentuado a ideia de “muitos e muitos independentes” que “dão corpo muito vivo à CDU”. .Excluídas as “forças reacionárias” e o PS que “por maiores que sejam agora as proclamações oposicionistas ou as abstenções violentas” não “disfarça” a “teia de cumplicidades”, restam BE, LIVRE e PAN [que não recusam analisar a proposta] e os “independentes”? Na “convergência”, aparentemente sim. Na “captação” do voto, já não..Parte da resposta surgiu no sábado por João Ferreira que defendeu ser necessário atrair os tradicionais eleitores do PS e atrair quem está a votar em “projetos reacionários” - expressão usada para classificar Chega, IL, CDS e PSD. .Uma captação, que acredita o dirigente comunista, é realizável “deslocando para a esquerda amplos setores da sociedade, seja na base social e eleitoral de outros partidos, como o PS, com gente que esteja disposta a trocar a alternância pela alternativa, seja captando o descontentamento e a revolta que os projetos reacionários procuram instrumentalizar a seu favor”..“Mobilizemos todos independentemente das suas opções partidárias, para dar ainda mais força a um projeto que não se confunde com nenhum outro”, acrescentou ontem Paulo Raimundo. .No sábado, Margarida Botelho, dirigente no Secretariado, lembrava que “não são só os comunistas que sentem e vivem os problemas que identificamos (…) todas as classes, camadas e sectores antimonopolistas, incluindo sectores da pequena e média burguesia” são atingidas pelos problemas. .“Os comunistas têm a enorme vantagem da discussão coletiva, da organização, da independência de classe do nosso Partido, na análise, na ação, na intervenção e nos meios. Mas não sabemos tudo, nem mudaremos o mundo sozinhos”, avisou. .Excluídos da “convergência” pelo secretário-geral dos comunistas, que justificou ao DN que o “PS fez as suas escolhas e está ao lado do PSD”, os socialistas reagiram ontem lembrando os tempos da geringonça em que foi "possível convergir em matérias fundamentalmente de força social”..“É muito importante que não se confundam os alvos. Nós no Partido Socialista nunca confundimos os alvos e espero que o Partido Comunista Português também, de agora em diante, não os confunda”, disse João Torres..O PCP, sustenta o dirigente socialista, está a “perder a sua energia e o seu tempo [ao atacar o PS] num contexto que não tem sido ascendente” para o partido..Carlos Coelho, dirigente do PSD que representou os sociais-democratas na sessão de encerramento do congresso comunista, considerou “relativamente normal” as críticas do PCP, dizendo que “espera-se de um partido da oposição que seja crítico. Numa democracia estabilizada isso é positivo, porque os governos que sabem ouvir também ouvem críticas e devem tirar consequências”..Porém, deixou um aviso: “Quando fazem críticas à esquerda e à direita, por tudo e por nada, correm o risco de serem mais ouvidos com a perspetiva de que estão a cumprir um papel do que por estarem realmente focados em objetivos.”.Essa não é, contudo, a “perspetiva” de Paulo Raimundo que convoca “os democratas, os patriotas, os que cá vivem e trabalham e a juventude, todos os que são contra a política de direita e a injustiça, para que, com o PCP, tomem nas suas mãos a luta pela rutura com a política de direita, derrotem os projetos reacionários”..O líder comunista acredita que “há força e forças suficientes, se organizadas e mobilizadas, para travar a minoria que capturou o País, ajoelhou o poder político e domina a economia ao sabor dos interesses dos grupos económicos”, mas reconhece que “o inimigo tem muita força e muitos meios”. .A mensagem seguinte foi interna: “Mas este não é o momento para desânimos.” João Oliveira tinha, no sábado, dito que “mesmo quando formos um entre muitos não nos faltará confiança para erguer a voz”.