Um terço dos atuais presidentes de câmara das capitais dos 18 distritos de Portugal Continental não têm qualquer hipótese de serem reeleitos nas próximas eleições autárquicas, pois estão a cumprir o terceiro e último mandato, número que só não é maior porque dois dos que se estavam nessas condições já renunciaram e foram substituídos por outros membros da vereação. Em sentido contrário, dois autarcas sem limitações legais ainda não deixaram claro que tenham intenção de submeter-se a votos, e entre os restantes não falta quem vá enfrentar disputas potencialmente muito complicadas. Tudo somado, é provável que mais de metade das principais cidades de cada um dos distritos tenham mudanças..Garantidas estão as saídas de presidentes que tiveram ciclos de 12 anos, a começar pelo Porto, com o independente Rui Moreira a poder manter-se até ao fim do mandato - depois de ter recusado a abordagem para integrar as listas de candidatos da Aliança Democrática ao Parlamento Europeu -, tal como acontece em Braga, Aveiro, Faro, Évora e Vila Real. Nos três primeiros casos, são autarcas eleitos por coligações de centro-direita, com Ricardo Rio, Ribau Esteves e Rogério Bacalhau na dúvida quanto ao timing de saída de cena, que poderá ser mais rápida para o algarvio, estando na mesma situação o socialista Rui Santos, em Vila Real, e o comunista Carlos Pinto de Sá, em Évora. O terceiro mandato deste último, anteriormente presidente da Câmara de Montemor-o-Novo, ficou marcado por uma das situações mais periclitantes de sempre, pois a oposição tem cinco vereadores, enquanto do seu lado tem apenas o vice-presidente Alexandre Varela..Sem limitações legais no que toca à apresentação de novas candidaturas nas autárquicas de 2025, que terão lugar em setembro ou outubro, dois outros responsáveis por capitais de distrito ainda não deram indicações claras de que pretendam recandidatar-se. Em Viseu, o histórico Fernando Ruas, que em 2021 voltou a encabeçar a lista do PSD - liderara a cidade entre 1989 e 2013 -, na sequência da morte do sucessor, Almeida Henriques, vítima de covid-19, reserva uma decisão para o primeiro trimestre do próximo ano. E deixou claro, na presença do secretário-geral do PSD, Hugo Soares, que a possibilidade de um novo mandato, que iniciaria com 76 anos, está dependente de o Governo cumprir a promessa de duplicar o número de vias do IP3. Já em Beja, o socialista Paulo Arsénio tem referido que só em janeiro tomará uma decisão quanto ao possível terceiro mandato..Sendo conhecida a tendência para as autarquias mudaram de partido quando os incumbentes acabam por sair, por limitação de mandatos, em duas capitais de distrito governadas por sociais-democratas houve um esforço para antecipar esse problema. Em Bragança, Hernâni Dias foi eleito deputado nas legislativas, enquanto cabeça de lista da Aliança Democrática, avançando Paulo Xavier. Mais recentemente, Ricardo Gonçalves trocou a Câmara de Santarém pela presidência do Instituto Português do Desporto e Juventude, passando o até então vice-presidente João Teixeira Leite a ficar à frente de um concelho em que PSD e PS garantiram quatro vereadores em 2021, com o eleito do Chega a desempatar. Por isso mesmo, a cidade ribatejana assume preponderância entre os alvos socialistas para manter a liderança da Associação Nacional de Municípios Portugueses..Desafios à reeleição.Mesmo alguns dos presidentes de Câmara das capitais de distrito que irão a votos nas autárquicas de 2025 têm pela frente missões complicadas. Desde já, Carlos Moedas, que nas últimas eleições levou a coligação Novos Tempos (PSD, CDS, MPT, PPM e Aliança) a uma vitória surpreendente, pondo fim ao longo ciclo de governação socialista na capital. Desta vez é possível que venha também a contar com a Iniciativa Liberal, mas o PS está empenhado em reconquistar a Câmara de Lisboa. Face à indisponibilidade de Duarte Cordeiro para a política ativa, e à eleição de Marta Temido para o Parlamento Europeu, os socialistas estão a testar outros ex-ministros, como Mariana Vieira da Silva (Presidência), Pedro Siza Vieira (Economia) e Alexandra Leitão (Modernização Administrativa), embora a líder parlamentar também seja hipótese para suprir o previsível impacto da saída de Basílio Horta da Câmara de Sintra..Por outro lado, o presidente da Câmara de Setúbal, André Martins, que tem a particularidade de ser o único presidente de Câmara eleito pela CDU que é militante do PEV, enfrenta um dos cenários mais complexos das próximas autárquicas. Até porque a sua antecessora, Maria das Dores Meira, que abandonou a autarquia em 2021, por limitação de mandatos, está de volta, à frente de um movimento independente, com a ambição de regressar a um gabinete onde já foi feliz. E a previsível divisão de eleitorado aumenta as expectativas do PS, que desde há muito tempo é o mais votado no concelho quando estão em causa eleições de âmbito nacional. O vereador Fernando José, também deputado na Assembleia da República, pode voltar a ser cabeça de lista dos socialistas, que também viram partir para Estrasburgo a ex-ministra Ana Catarina Mendes. E, como se uma triangular não bastasse para fazer perigar a reeleição de André Martins, tanto a Aliança Democrática como o Chega têm ambições de se intrometer na disputa pela cidade do Sado..Igualmente renhida deve ser a corrida à Câmara de Coimbra, que uma coligação de centro-direita venceu nas últimas autárquicas, conduzindo o independente José Manuel Silva, ex-bastonário da Ordem dos Médicos, à presidência. Poderá desta vez defrontar-se com a ex-ministra da Coesão Territorial, Ana Abrunhosa, cujos resultados nas sondagens internas animam o PS..Na Guarda, o independente Sérgio Costa, dissidente do PSD, arrisca-se a ter o segundo mandato impedido por sociais-democratas ou socialistas..Mais tranquilas tenderão a ser as reeleições da social-democrata Fermelinda Carvalho, que em 2021 conquistou a Câmara de Portalegre - após ter exercido o mesmo cargo em Arronches -, do socialista Gonçalo Lopes em Leiria, outrora um bastião da direita, e do seu correligionário Leopoldo Martins Rodrigues, na Câmara de Castelo Branco.