Um primeiro-ministro português orgulhoso das suas origens indianas

António Costa chega hoje à Índia para uma visita de seis dias. Exibe com emoção o regresso a Goa, a terra do seu pai, Orlando Costa. Na Índia esperam-no cartazes de boas-vindas com a sua fotografia e laços para fortalecer.
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Seis dias de muita emoção pessoal esperam o primeiro-ministro português, que inicia hoje uma visita de seis dias à Índia. É o regresso às suas origens, em Goa, onde vai visitar familiares, mas também a vontade de cimentar a relação económica. "Esta visita tem uma natureza muito particular. Desde logo do ponto de vista afetivo, pois é para mim uma grande honra poder voltar à terra do meu pai como primeiro-ministro", explicou aos jornalistas numa curta escala no aeroporto de Frankfurt, durante a viagem. aquele país.

António Costa é filho de Orlando Costa, filho de um goês, da casta brâmane (a classe mais elevada na Índia) e católico de Margão, a segunda maior cidade de Goa. "A Índia tem um estatuto para as pessoas de origem indiana, o que me confere formalmente esse estatuto. Sou oficialmente uma pessoa de origem indiana", assinalou, confirmando a sua expectativa em relação à visita à terra natal da sua família, Margão. "O meu pai fez lá a sua formação e passou a sua juventude. Tenho uma tia e uma prima direita que vivem em Margão. O meu irmão e eu temos parte de uma propriedade em Margão. É uma relação que existe. Apesar de cada um ter seguido o seu caminho e de termos sido criados em Portugal, essa ligação familiar existe e é sempre uma marca que fica".

Numa entrevista ao Hindustan Times, uma dos mais importantes órgãos de comunicação social indianos, e questionado sobre se pretendia ir à procura das suas raízes, respondeu que tinha "muito orgulho" nas suas origens, confirmando a sua deslocação a Goa, mais precisamente a Margão, onde ainda vive uma tia e uma prima direita. Aproveitou também para anunciar que outro motivo que o levou a esta jornada é poder estar presente na apresentação de dois livros do seu pai, em Goa e Dehli, traduzidos para inglês.

O chefe de governo reconheceu que "apesar das boas relações políticas entre os dois países, as relações económicas ainda são muito incipientes". É isso, sublinhou, que pretende "mudar, começando pela visita". Costa acredita que a Índia "pode aproveitar a experiência de em áreas nas quais Portugal fez grandes investimentos no passado recente, como as energias renováveis. As infraestruturas, e as industrias ambientais relacionadas com a água e a recolha do lixo, todas áreas que podem ser muito relevantes para a Índia". Por outro lado, sublinhou "para a Índia também pode ser interessante considerar Portugal como uma plataforma para os mercados na Europa, na América Latina e em África".

De acordo ainda com as declarações do primeiro-ministro português a este jornal, já "foram negociados instrumentos bilaterais em áreas identificadas como prioridade, tais como cooperação na defesa, energias renováveis, startups, tecnologia das informações, eletrónica e comunicações, administração pública e reforma da governação, turismo e indústria cinematográfica".

Nas curtas declarações em Frankfurt, Costa assinalou que os "laços históricos" que tem com aquele país "devem sobretudo servir para criar as bases para uma grande parceria para o século XXI" entre Portugal e aquele país. "A Índia vai ser uma das grandes potências no século XXI e temos de a fundar em duas bases novas, que são a economia e a ciência, que vão ser as prioridades nesta viagem", afiançou, lembrando as visitas à Agência Espacial, ao Instituto Oceanográfico, ao Instituto de Tecnologia de Bangalore e a "agenda muito intensa" na área económica. "Todo um imenso potencial de trabalho e de colaboração entre duas economias que querem percorrer em conjunto este século", afirmou.

Costa sente-se também "muito honrado" com a distinção que lhe vai ser atribuída pelo governo indiano - o prémio Pravasi Bharatiya Divas - que homenageia indianos ou descendentes que se tenham destacado no estrangeiro. "É a primeira vez que uma pessoa de origem indiana preside a um governo da União Europeia", salientou.

António Costa está com os ministros dos Negócios Estrangeiros, da Defesa Nacional, da Cultura, da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, da Economia, e o secretário de Estado da Indústria.

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